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Ricardo Eleutério Rocha

03:00 | 12/05/2013
Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala...
Quando eu era muito mais jovem do que eu sou jovem hoje (parafraseando John Lennon), no aconchegante apartamento dos meus pais em Copacabana, na cidade maravilhosa (e o Rio de Janeiro continua lindo!), mais precisamente na Rua Anita Garibaldi, nº15, ap. 801, aprendi com a minha mãe, ao som do vinil, que ela carinhosamente colocava na vitrola, algumas das letras e melodias mais bonitas da música popular brasileira (que ironia, sendo filho de um pai músico!): “Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala, você era a favorita onde eu era mestre-sala, hoje a gente nem se fala, mas a festa continua” (Quem te viu, Quem te vê, Chico Buarque). Ou “Tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu... o tempo rodou num instante, nas voltas do meu coração” (Roda viva, Chico de novo). E na belíssima e inconfundível voz da Gal Costa, uma canção do Caetano, lançada pelo Rei Roberto: “Quando você me ouvir chorar, tente não cante não conte comigo, falo não calo não falo deixo sangrar, algumas lágrimas bastam pra consolar, tudo vai mal, tudo, tudo mudou não me iludo e contudo, a mesma porta sem trinco, o mesmo teto, e a mesma lua a furar nosso zinco, meu amor, tudo em volta está deserto tudo certo, tudo certo como dois e dois são cinco”
(Como dois e dois, Caetano Veloso).
Através das músicas que ela mais ouvia e gostava eu podia então conhecer um pouco a mulher que habitava a minha mãe: suas alegrias, sentimentos, angústias e dores. Aprendi com minha mãe Estella o gosto pela leitura. Espalhados pela casa, recordo, os muitos livros de Jorge Amado e Gabriel Garcia Marques, seus autores preferidos. A leitura diária dos jornais (apesar do pai também jornalista) é herança da mãe. O manuseio diário do leve e excelente Jornal do Brasil (e não o então pesado e reacionário O Globo) é uma imagem que guardo da infância e da adolescência no Rio dos anos 60 e 70. Herdei dela a calma e a serenidade. O meu irmão, Ayrton, herdou dela a destreza e o amor pelas artes plásticas.
Além da beleza e elegância, minha mãe tem personalidade e firmeza nos atos. Lucidez e sinceridade são suas marcas indeléveis. Muito amiga dos filhos Alexandre e Fernanda, sua maior amiga, o carinho materno foi derramado também sobre os netos Diego e Mariana que tanto a amam. “Velha”, como costumo chamá-la, parabéns e feliz dia das mães! Esta é uma homenagem minha e da Selene.

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