Economia não reage como o esperado
O economista Nelson Marconi reuniu dados de indústria, varejo e serviços, retirou as oscilações ao longo do tempo (os chamados efeitos sazonais) e concluiu: "Não dá nem para dizer que há recuperação, mas uma estabilização num patamar baixo: estamos andando de lado no fundo do poço e, olhando para a frente, não há nada no cenário que mude isso", diz ele.
Na verdade, na semana passada, o cenário mudou um pouco, mas para pior. O Placar da Previdência do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que a reforma previdenciária, carro-chefe do ajuste fiscal, hoje não seria aprovada no Congresso. "O mercado viu que há um Â?gapÂ? entre a expectativa e a realidade polÃtica: o humor piorou e a vamos ter de ir corrigindo as projeções", diz Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo.
Para Mônica de Bolle, economista e pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional e colunista do jornal, o Brasil vai crescer zero em 2017, sinal claro de que o PaÃs carece de ajustes de curto prazo. "O governo nunca fez ajuste de curto prazo, pelo contrário, até gastou mais e cobriu com o dinheiro da repatriação: o problema fiscal continua ali", diz.
Para Mônica, o governo não poderia ter dado reajustes salariais aos servidores e já deveria ter cortado todas as desonerações. "Houve erro de cálculo e Fernando Henrique Cardoso tem uma frase para definir isso: �Todo mundo entra no governo achando que é dono do seu destino�, mas não é assim na prática", diz ela.
Agronegócio - No espectro de projeções, na ponta otimista está a MB Associados, empresa de análise econômica, que projeta 1% de crescimento em 2017, com altas em todos os trimestres. "Estamos, sim, no topo das projeções, no lado mais otimista", diz José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de PolÃtica Econômica do Ministério da Fazenda e sócio da MB.
A MB leva em consideração um setor estratégico que chama a atenção de todos os analistas neste inÃcio de ano: o agronegócio. "Os sinais da recuperação, claramente, não estão nos números que já saÃram dos centros urbanos, mas na safra agrÃcola e em suas consequências", diz Mendonça de Barros.
Segundo o economista, os dados já disponÃveis mostram que a safra será muito maior do que se previu e ainda terá uma produtividade excepcional. "Seus efeitos positivos estão acontecendo no interior e se misturam a bons resultados já divulgados de alguns setores, como o quÃmico e o de máquinas e equipamentos, e vai aparecer na balança comercial de março, pois as exportação agrÃcolas podem crescer até 20%, mesmo com o problema da carne", diz ele.
Mendonça de Barros tem também uma lista de evidências de melhoras que já teriam ocorrido em março, mas que ainda não foram oficialmente retratadas nos dados: recuperação na venda de carros, redução no estoque de imóveis, recuperação no setor de supermercados e indicações claras de descompressão de crédito, com a redução do endividamento das famÃlias e das empresas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.