Cada real investido em cultura pode gerar até três reais na economia, aponta estudo

|IMPACTO| Corecon-CE levou em conta diferentes cenários e concluiu que, mesmo no pior deles, eventos culturais se pagam e movimentam municípios

09:00 | Out. 14, 2025

Por: Adriano Queiroz
Cantor Wesley Safadão se apresentará no próximo dia 31 de outubro no município de Ocara (foto: Samuel Setubal)

Cada real investido em eventos culturais em municípios de médio e pequeno porte podem se reverter em até três reais de retorno para economias locais, é o que conclui estudo do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

A entidade traçou três panoramas para um evento concreto a ser realizado em Ocara (a 101 km de Fortaleza), município de 25 mil habitantes, considerando realidades já observadas em eventos anteriores de porte semelhante. O primeiro com apenas 5 mil visitantes e o terceiro com 20 mil visitantes.

O evento com dois dias de duração tem atrações de renome nacional e gerou controvérsia por custar cerca de 1% do PIB municipal.

O POVO chegou a noticiar que o Ministério Público do Ceará chegou a abrir investigação sobre o caso. Já a ideia do estudo foi avaliar se haveria algum prejuízo aos cofres públicos e à economia local ou se haveria, por outro lado, benefícios ou, pelo menos, retorno dos valores investidos.

Nos três cenários pesquisados houve, no mínimo, de acordo com a nota técnica elaborada pelo Corecon-CE, retorno do valor investido, que é de cerca de R$ 2,9 milhões, dos quais R$ 2,285 milhões se referem aos cachês dos artistas.

No cenário mais positivo, o retorno chegou a cifra de R$ 13,44 milhões. A geração de empregos variou de 342 a 1.659. Já o retorno fiscal foi de R$ 62.5 mil a R$ 373,5 mil reais.

“As festas municipais de grande porte desempenham papel estratégico no desenvolvimento econômico local, na valorização da cultura e no fortalecimento do turismo regional. No Ceará, municípios como Ocara, Quixadá, Iguatu e Viçosa do Ceará vêm promovendo eventos com artistas de renome nacional, estimulando a economia criativa e gerando oportunidades de emprego e renda”, afirma a nota.

Um dos autores do estudo, o presidente do Corecon-CE, Wandemberg Almeida, cita que “um setor de comércio, por exemplo, ao ter um evento como esse, se modifica até para poder se preparar para a entrada de um novo público, uma nova demanda que antes não existia. Então, você tem setores de serviços que começam a se preparar. A gente vê, ainda, a questão da logística, do transporte para esse deslocamento”.

“Então, perceba que a gente acaba mexendo com um investimento que, embora pequeno, pode gerar um grande retorno. Digamos que um real investido na cultura possa proporcionar três vezes o valor originalmente investido. Eu posso fazer com que um município antes desconhecido hoje passe a ter turismo, onde as pessoas possam conhecer esse novo município com fins de negócio, e aí você gera desenvolvimento dentro desses municípios antes não vistos”, pondera Wandemberg.

“Quando a gente olha o Réveillon de Fortaleza, quando olha grandes eventos nas capitais, percebe que já existe uma consolidação. Então, quando eu descentralizo isso, estou levando mais negócios, mais cultura, mais atrações, mais investimentos, mais pessoas que antes não conheciam passam a vivenciar aquela localidade e começam a enxergar novas possibilidades de negócio”, prossegue.

“Existe essa cultura de alguns órgãos quererem marginalizar esses eventos, como se tudo fosse algo negativo. E a gente consegue mostrar, economicamente, que você acaba tendo o que nós chamamos de ‘efeito de transbordamento’. A economia transborda para outros municípios, você atrai pessoas de outras localidades para a sua”, argumenta o presidente do Corecon-CE.

Ele conclui afirmando que “as pessoas precisam entender: a economia criativa, a cultura, é um todo dinâmico. Nós temos que valorizar os investimentos em cultura. Cultura não é gasto, cultura é investimento — porque você vai atrair mais negócios”.

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