Após anúncio de Trump, Elmano diz que vai anunciar medidas até segunda-feira, 4
As ações de apoio aos cearenses serão tomadas de acordo com o que será divulgado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conforme frisa o governador do Ceará
12:36 | Jul. 30, 2025
Até, no máximo, segunda-feira, 4 de agosto, o governador de Ceará, Elmano de Freitas (PT), vai anunciar medidas para a proteção dos empregos e empresas cearenses, a depender do que for divulgado, no dia 1º de agosto, sobre a ameaça de Donald Trump de taxar em 50% os produtos brasileiros.
A afirmação ao O POVO foi realizada durante inauguração de Areninha em Aquiraz, na localidade de Lagoa Encantada, território do povo Jenipapo-Kanindé. Para ele, é preciso esperar o presidente dos Estados Unidos.
O chefe do Executivo estadual frisa que, atualmente, o que se tem é apenas um anúncio. Não há decisão jurídica do governo americano. Portanto, o próximo passo é esperar o que será revelado na sexta-feira, 1º, para o Estado ter condição de tomar ações de apoio.
“Talvez, no máximo, segunda-feira (4 de agosto), nós anunciemos medidas em posicionamento do Ceará diante daquilo que efetivamente seja implementado pelo governo americano. As empresas cearenses terão o apoio do Governo do Estado, terão o apoio do Governo Federal”, explicou.
A preocupação maior do gestor, declarou, é porque todo o impacto chega à ponta, ao emprego do cearense.
"Em algumas situações, emprego de cadeias produtivas que envolvem pessoas pobres. São pessoas produtoras de caju, são pessoas que fazem pesca no Ceará, vendem para quem exporta, mas quem produz é um pequeno. E se ele não vender para quem exporta, ele não tem a renda do dia a dia para a sua família", complementou.
Sobre a reunião de terça-feira, 29 de julho, em Brasília, com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, ele respondeu que constatou que negociação Federal com os americanos está efetivamente sendo realizada.
Medidas que podem ser anunciadas pelo Ceará contra o tarifaço de Trump
Até então, Elmano mantém cautela e não revela detalhes do planejamento, mas O POVO já apurou e publicou alguns pontos que podem ser aplicados.
O que o governador reiterou é que foi criado um grupo de trabalho envolvendo Estado, técnicos do Governo Federal e representantes do empresariado cearense para buscar soluções caso a ameaça se concretize.
Nesse ambiente de discussões, a composição da parte cearense é formada, sobretudo, por Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz), Procuradoria-Geral do Estado, Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec).
Mas dentre as possibilidades de ação, o Estado pode buscar a liberação de R$ 1 bilhão em créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), referentes à Lei Kandir, que isenta as exportações de produtos primários e semielaborados do tributo.
Como empresa que exporta é isenta do imposto e, quando compra mercadorias em que o ICMS está incluso, surge um saldo do tributo, a ideia é buscar esses repasses, que são negociados anualmente, mas não são liberados, muitas vezes, com as devidas correções financeiras.
Uma promessa do governo cearense é ainda absorver estoque remanescente dos produtos perecíveis ao programa estadual Ceará Sem Fome.
A possibilidade foi ventilada por Elmano em mesa de encontros com empresários sobre o tarifaço, sobretudo ao setor de pescados, que, segundo dados do Observatório da Indústria, da Fiec, de tudo que exporta, 85,1% vai para os Estados Unidos.
Mais um ponto, adiantado por Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, é que foram discutidas medidas também em relação a recorrer ao Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) do Ceará, ao Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e também ao Drawback, que é o incentivo fiscal dado a companhias sobre a aquisição de insumos utilizados na produção de bens a serem exportados.
No caso do ACC, trata-se de uma modalidade de financiamento da fase de produção, ou pré-embarque, que permite que as empresas exportadoras brasileiras obtenham recursos financeiros antecipadamente com base em um contrato de câmbio.
Em relação aos tributos federais, Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiec e colunista do O POVO+, disse, em entrevista ao programa Debates do POVO, da rádio O POVO CBN, que uma opção também seria o Reintegra.
O benefício fiscal tem a finalidade retornar de forma integral ou parcial o resíduo tributário remanescente na cadeia de produção de produtos exportados. Assim, possibilita que as empresas exportadoras tenham de volta valores pagos em tributos federais como PIS e Cofins.
Impactos do tarifaço no Ceará: PIB e empregos
O Ceará é, proporcionalmente, a unidade federativa brasileira com maior dependência das exportações para os EUA. No primeiro semestre, o mercado norte-americano respondeu por 51,9% das vendas para fora do Estado.
Dos US$ 1,07 bilhão exportados pelo Estado, de janeiro a junho deste ano, registrando um expressivo avanço de 82% em relação à igual período de 2024, US$ 556,7 milhões foram para o país norte-americano, alcançando um recorde na série histórica iniciada em 1997.
Além disso, o Ceará figura em terceiro do País que mais ganha entre importações e exportações, sendo superavitário na relação comercial com Trump. Ou seja, vendemos mais do que compramos para lá.
Apenas nos primeiros seis meses de 2025, foram US$ 342.678.770 de superávit a favor dos cearenses - montante calculado a partir dos US$ 556.690.080 exportados e os US$ 214.011.310 importados no período.
Os dados são do relatório Ceará em Comex, do CIN da Fiec, e da plataforma Comex Stat do Mdic.
E conforme levantamento do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), em termos de Produto Interno Bruto (PIB), considerando a medida cheia de Trump, o impacto atingiria 1% da economia cearense.
Já nos cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as perdas no PIB do Ceará chegariam a R$ 190 milhões, sendo o terceiro maior reflexo no Nordeste, atrás apenas da Bahia (R$ 404 milhões) e de Pernambuco (R$ 377 milhões).
No campo do emprego, no curto prazo, a Fiec calcula redução de 8 mil a 9 mil postos de trabalhos localmente, enquanto, segundo estudo da CNI seriam 110 mil no Brasil.
Perdurando, o cenário poderia piorar no Estado, já que, somente no segmento do pescado, são cerca de 6 mil embarcações nos mares e rios cearenses, com média de três pessoas por embarcação.
Informações de Bianca Mota/Especial para O POVO