Indústria do Ceará tem o pior desempenho do Brasil na produção de abril
Com essa queda, o Estado acumulou, no primeiro quadrimestre de 2025, um recuo na produção do setor industrial de 1,8%, em relação à igual período de 2024
11:08 | Jun. 11, 2025
A indústria do Ceará registrou o pior desempenho de produção no Brasil, com uma retração de 3,9% na passagem de março para abril. O índice ficou abaixo do nacional, que obteve variação de 0,1%. Confira mais abaixo o ranking de abril.
Os dados são da série com ajuste sazonal da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) Regional, divulgada nesta quarta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com essa queda, o Ceará acumulou, no primeiro quadrimestre de 2025, um recuo no desempenho do setor industrial de 1,8%, em relação à igual período de 2024.
O cenário se mantém negativo no comparativo anual de abril, no qual a produção caiu 5,3%. Entretanto, considerando o acumulado nos últimos 12 meses, foi observada uma alta de 3,8%.
Confira o ranking da produção industrial em abril:
- Pernambuco: 31,3%
- Goiás: 7,2%
- Bahia: 0,5%
- Rio Grande do Sul: 0,1%
- Santa Catarina: 0,1%
- Paraná: -0,1%
- Minas Gerais -0,3%
- Pará: -0,8%
- Amazonas: -1,3%
- Mato Grosso: -1,4%
- São Paulo: -1,7%
- Rio de Janeiro: -1,9%
- Espírito Santo: -3,5%
- Ceará: -3,9%
Setores que mais se destacaram no Ceará em 2025
Nos primeiros quatro meses de 2025, dos 11 segmentos industriais cearenses incluídos na PIM, em cinco a produção retraiu na comparação com 2024.
As quedas mais expressivas foram observadas nos setores de vestuário (-2,18%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,11%) e refino e biocombustíveis (-1,9%).
Já os destaques positivos ficaram com produtos químicos (1,8%), metalurgia (1,29%) e produtos de couro e calçados (0,61%). Confira a lista completa:
- Produtos químicos: 1,8%
- Metalurgia: 1,29%
- Produtos de couro e calçados: 0,61%
- Têxtil: 0,48%
- Alimentos: 0,34%
- Minerais não-metálicos: 0,17%
- Produtos de metal: -0,17%
- Bebidas: -0,17%
- Refino e biocombustíveis: -1,9%
- Máquinas, aparelhos e materiais elétricos: 2,11%
- Vestuário: -2,18%
João Mário de França, pesquisador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do FGV, analisa que é preciso em mente que, nos últimos anos, o Ceará teve um destaque muito positivo em termos de indústria.
Isso porque cresceu quase 7%, bem acima da média da região Nordeste, também, inclusive, acima da média do Brasil.
"Então, quando a gente está olhando agora o ano de 2025, fazendo essas comparações mês a mês, ou mesmo de um mês para o mês em relação a 2024, a gente tem que ter em mente que a base de comparação é alta. O Ceará cresceu acima da média no ano passado."
Ele acrescenta que, como não ocorreu nenhuma mudança estrutural na indústria cearense, a tendência é que agora volte de novo para uma média próxima da região Nordeste.
"Na próxima comparação que for feita, por exemplo, abril de 2024, que foi um resultado positivo, na comparação desse mês com o mês do ano passado, vai ter uma queda, até mais significativa, de 5,3%. Então, a tendência é que sempre que for feita a comparação com o ano de 2024, seja mesmo o mês de 2025 com o mesmo mês de 2024, ou acumulado o ano, ou os últimos 12 meses, a tendência é que os valores deem negativos."
Cenário nacional
Nove dos 15 locais investigados pela PIM Regional recuaram na passagem de março para abril, quando a produção industrial do País variou 0,1%.
As maiores quedas foram registradas no Ceará (-3,9%) e Espírito Santo (-3,5%), enquanto Pernambuco (31,3%) assinalou o avanço mais intenso, alcançando, inclusive, a expansão mais elevada da série histórica.
O gerente da PIM, André Macedo, explicou que apesar do resultado próximo à estabilidade, "frente ao patamar alcançado em dezembro do ano passado, a atividade industrial acumula expansão de 1,5%".
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“Verifica-se um predomínio de taxas positivas, alcançando 3 das 4 categorias econômicas e 13 dos 25 ramos industriais pesquisados. Vale destacar que com esses resultados, a produção industrial se encontra 3% acima do patamar pré-pandemia, ou seja, fevereiro de 2020, mas ainda 14,3% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011”, destacou.
Considerando o comparativo com abril do ano passado, a produção industrial do país registrou uma variação de -0,3%, interrompendo dez meses consecutivos de crescimento.
“O recuo verificado no índice de abril frente a abril do ano passado foi influenciado não só pelo efeito-calendário, já que abril de 2025 teve dois dias úteis a menos, mas também pela base de comparação elevada, uma vez que em abril de 2024 a atividade industrial avançou 8,4%”, analisou André.
Entrevista sobre o desempenho da indústria
Guilherme Muchale, gerente do Observatório da Indústria Ceará e Economista-chefe da Federação
das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), analise o desempenho da indústria cearense até maio.
O POVO - Os resultados da PIM demonstram uma piora da indústria cearense em 2025, por que isso ocorre?
Guilherme Muchale - Em abril, o Ceará registrou um crescimento de 3,8% no acumulado dos últimos 12 meses, ocupando a 4ª posição entre os estados analisados. No entanto, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve uma queda de 5,3%. Esse resultado sinaliza uma desaceleração já esperada da indústria cearense, em virtude do resultado expressivo em 2024, no qual a produção estadual apresentou a maior taxa de crescimento dos últimos 10 anos.
Tal desaceleração foi influenciada por diversos fatores, entre os quais se destacam: a elevada base de comparação — em abril de 2024 o Ceará havia registrado um expressivo crescimento de 12,2% —, o aumento da taxa de juros real, as incertezas no cenário internacional e a retração do consumo doméstico.
O POVO - Dos setores, vestuário, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e produtos de couro e calçados foi o que apresentaram a maiores retrações. Ocorreu algo que impactou nesse desempenho?
Guilherme Muchale - A dinâmica setorial é influenciada por diversos fatores. O setor de Máquinas e Materiais Elétricos caiu -39,4%, no acumulado do ano, muito prejudicado pelo aumento dos juros e adiamento de leilões de energia. A sazonalidade foi decisiva para o desempenho do setor de Coque e Derivados de Petróleo (-21,4% no mesmo período). Para o setor de confecções, a desaceleração da conjuntura de consumo doméstico influencia negativamente o seu desempenho.
O POVO - Por outro lado, produtos químicos e metalurgia tiveram os melhores resultados. O que ocasionou esse bom desempenho?
Guilherme Muchale - O estado apresentou em abril crescimento relevante nos setores de Químicos (54,4%), com recuperação nos produtos de herbicida, e Metalurgia (27,5%), com a retomada dos números de exportação diante do quadro de mudanças tarifarias dos EUA.
O POVO - Há alguma perspectiva para o fechamento do semestre? Se espera que se mantenha essa queda? E para o próximo?
Guilherme Muchale - Os resultados apontam para uma desaceleração da produção industrial no Ceará, influenciada, conforme já mencionado, por diversos fatores. Entretanto, é importante ponderar que este desempenho não se refletiu no mercado de trabalho, no qual a indústria foi o setor com maior saldo na geração de empregos formais do Ceará no ano, 7.469 postos de trabalho.
Além disso, vale ressaltar que dois importantes segmentos industriais com crescimento na geração de empregos em 2025 — a indústria da construção e o setor de distribuição de água e saneamento — não são abrangidos metodologicamente pela pesquisa atual. No entanto, seus resultados serão considerados na divulgação do PIB do 1º trimestre, o que tende a contribuir para um desempenho mais positivo da indústria cearense nesse período.
Por fim, há expectativas favoráveis com relação ao encerramento do ciclo de alta dos juros, com possibilidade de início de um movimento de queda ainda no segundo semestre, o que pode impactar positivamente o desempenho industrial.