Lei Anticorrupção lida com baixo investimento em compliance, aponta pesquisa
O levantamento realizado com 124 organizações, muitas delas do setor financeiro, ainda quando a Lei Anticorrupção aguardava regulamentação - o que ocorreu na quinta-feira, 19, em decreto no Diário Oficial da União -, revela que apenas 20% das empresas declara ter uma política anticorrupção formalizada e divulgada aos públicos interno e externo.
Normalmente, o investimento é de até R$ 1 milhão por ano dentre 76% das empresas pesquisadas, considerado baixo para uma estrutura de conformidade coerente com o tamanho da companhia, envolvendo práticas de treinamento, recursos tecnológicos, atividades de monitoramento e canais de denúncia. Em 18% dos casos, o investimento vai de R$ 1 milhão a R$ 5 milhões e 6% aplicam mais de R$ 5 milhões em compliance.
O estudo intitulado "Lei Anticorrupção - Um retrato das práticas de compliance na era da empresa limpa" mostra que 57% dos executivos concordam que corrupção é um custo intrínseco na forma de se fazer negócios no Brasil. "A demanda da sociedade por maior transparência é irreversível. As empresas e as instituições serão cada vez mais cobradas neste sentido", afirma Camila Araújo, sócia-líder do Centro de Governança Corporativa da Deloitte. O Fórum Econômico Mundial calcula que o custo da corrupção equivale a US$ 2,6 trilhões por ano, ou em torno de 5% do Produto Interno Bruto global.
O documento defende que para que a Lei Anticorrupção possa ser assimilada e disseminada na sociedade, o Brasil precisa avançar na questão educacional. "O esforço de formação e conscientização da sociedade para uma cultura de ética e responsabilidade deve ser constante e fazer parte de um panorama mais amplo, no qual a lei é mais uma entre as ferramentas fundamentais nesse processo", diz o estudo.
Na visão da Deloitte, o investimento em compliance deve ser encarado sob a perspectiva de prevenção, para inibir prejuízos. Na avaliação de 38% das empresas, o dano de reputação é o maior impacto da descoberta de casos de corrupção, seguido por ações legais contra a companhia (23%) e perda financeira (17%).
Apenas 22% dos participantes da pesquisa são da área de compliance, o que indica que as empresas ainda estão em processo de estruturação dessa função, avalia a Deloitte. Das companhias participantes, 60% possuem um profissional dedicado a compliance.
A maioria dos gestores de compliance está na companhia há menos de cinco anos. Esse executivo costuma responder diretamente ao presidente da organização e ao diretor Financeiro. E é desejável, como responderam 94% dos entrevistados, que o departamento de compliance tenha alto envolvimento nos processos de entrada em novos mercados e de fusões e aquisições, por meio de due diligence. Porém, 64% declararam que a área não tem envolvimento no desenvolvimento de novos negócios.
Outro desafio é o baixo número de empresas que conta com um programa estruturado de de treinamento para o combate a corrupção, tanto interna quanto externamente, pouco mais da metade. E como parceiros comerciais são um fator relevante de risco, a Deloitte pontua que "o alinhamento de práticas de conduta e políticas anticorrupção é fundamental para a promoção de uma cadeia de valor mais transparente".