Cachorros também podem ter TDAH? Confira pesquisa e raças mais propensas
Pesquisa húngara estuda a possibilidade de um diagnóstico do transtorno no animal; saiba resultados e relação com a psicologia humana
22:59 | Set. 23, 2025
Saúde mental é um tema que está em alta nos últimos tempos, principalmente com as pesquisas feitas em humanos e animais de estimação.
Uma delas foi a feita pelo Departamento de Etologia da Universidade Eötvös Loránd (Elte), que investigou sintomas e possíveis danos do TDAH, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, em cães de família.
O TDAH é um dos diagnósticos mais comuns na psiquiatria, principalmente em crianças. A desatenção, hiperatividade e impulsividade são características comumente relacionadas ao transtorno.
Em cães, o comportamento compulsivo, agressividade, epilepsia e coceira excessiva são outros exemplos relatados por tutores e que podem ser sinais a serem observados.
Raças como Pastor Alemão, Border Collie e várias terriers têm mais chances de apresentar os sintomas do transtorno por serem raças que requerem um estilo de vida mais ativo do que outras.
A inquietude e a falta de foco são alguns dos principais prejuízos ao cão, caso não tenha sua rotina adequada às suas necessidades mentais e físicas.
No entanto, não são, necessariamente, indicativos do TDAH no cachorro, porque podem ser comuns a depender da sua raça, idade e/ou sexo.
Confira o que diz a pesquisa do Elte e a relação com a psicologia.
Cachorros com TDAH: o que diz a pesquisa?
O estudo foi realizado com 1.872 cães e seus tutores, a partir da resolução da Escala de Avaliação de TDAH e Funcionalidade Canina.
Resolvido pelo tutor, o questionário mede a possibilidade da presença dos sintomas do transtorno e impactos na rotina do animal, assim como as suas interações e aprendizados sobre ele.
Do total analisado, 116 cães são afetados significativamente na sua rotina. Destes, 79 estão na categoria de risco de saúde, o que, segundo a principal pesquisadora, a Dra. Márta Gácsi, corresponde a uma média semelhante à de adultos diagnosticados.
O propósito da pesquisa era desenvolver um método confiável para identificar sintomas do transtorno de forma padronizada e objetiva.
Além disso, teve como objetivo melhorar o bem-estar do cão e as interações com tutores, que podem ser afetadas pelo psicológico do animal. Também ajuda no adestramento pela compreensão comportamental dele.
Foi a primeira desenvolvida em triagem por um sistema universalmente aceito entre estudiosos pelos seus critérios mais rigorosos do que os implantados anteriormente, como testes comportamentais e questões específicas sobre o tema.
O estudo, publicado na revista Scientific Reports, é um avanço internacional na compreensão do comportamento do animal.
Além disso, pela identificação mais precisa dos sintomas em cães mais vulneráveis psicologicamente, possibilitando um treinamento direcionado para um tratamento o quanto antes, por exemplo.
Entretanto, especialistas, como a Dra. Barbara Csisbra, primeira autora da pesquisa, ressaltam que um diagnóstico não pode ser dado apenas por um questionário, como o desenvolvido na pesquisa húngara, mas por uma série de processos que investigam o comportamento do cão.
Testes comportamentais, consultas com especialistas e a opinião do adestrador ou do tutor são outras abordagens essenciais para chegar a uma conclusão sobre o assunto.
“Essa abordagem multifacetada ajuda a descartar outros problemas comportamentais que possam causar sintomas semelhantes e reduz a chance de diagnósticos incorretos”, explica a veterinária no artigo de exposição do estudo.
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Cães com TDAH: o que diz a psicologia tradicional?
Associado à infância por hábitos ou por questões genéticas, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não funciona da mesma forma para cães por ser identificado em humanos e desenvolvido com base em estudos direcionados à sua biologia.
Então, o estudo aponta uma forma de identificar sintomas comuns neles e assim tratá-los. “É sobre a avaliação da possibilidade do cão ter TDAH e não da descoberta do transtorno no cão”, diz Ticiana Castro, psicóloga e adestradora canina.
A psicóloga explica que muitos desses sintomas são muito comuns e que não estão relacionados a um distúrbio que possa ter desenvolvido, mas a hábitos que não estimulam os instintos do animal e, por isso, é prejudicado.
A frequência e o tempo de duração de passeios na rua, o tempo que fica sozinho em casa e como está o seu sono são considerados para identificar uma possível síndrome canina similar ao TDAH.
O tutor deve procurar ajuda de um especialista quando perceber que o comportamento do cão mudou drasticamente em comparação ao que era antes ou se afetar diretamente a sua rotina desde filhote.
Técnicas comportamentais, para mudar suas atitudes e educá-lo, além do enriquecimento ambiental, incentivando seus instintos de caça e faro são opções de tratamento para aumentar a qualidade de vida do cachorro e seu cuidador.
Mesmo que não tenha um diagnóstico veterinário que englobe todos os sintomas, questionários e testes são opções para identificar irregularidades psicológicas, mas não devem ser o único parâmetro para definir um distúrbio.