Professor da UFC assina estudo internacional sobre riscos de câncer

Pesquisa com participação de professor da UFC reavalia agrotóxicos usados na agricultura e aponta riscos de câncer à saúde humana

19:23 | Dez. 09, 2025

Por: Bárbara Mirele
O trabalho conta com a participação do professor Marcelo José Monteiro da UFC, em parceria com grupo internacional braço da OMS (foto: Acervo pessoal)

Um professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) integra o grupo de autores de um estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet Oncology que avalia os riscos de câncer associados a três agrotóxicos amplamente utilizados no mundo.

A pesquisa analisou a atrazina, o alachlor e o vinclozolin, substâncias empregadas principalmente na agricultura.

O trabalho conta com a participação do professor Marcelo José Monteiro Ferreira, da Faculdade de Medicina (Famed) da UFC, e foi desenvolvido em parceria com o Grupo de Trabalho da International Agency for Research on Cancer (IARC), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) responsável por avaliações sobre carcinogenicidade de substâncias químicas.

Avaliação de agrotóxicos amplamente usados

O artigo intitulado "Carcinogenicity of atrazine, alachlor, and vinclozolin" foi publicado em novembro e reúne análises extensas sobre a relação entre a exposição a esses agrotóxicos e o desenvolvimento de câncer em humanos.

O professor Marcelo Ferreira explica que o objetivo central do estudo é fornecer subsídios científicos para a sociedade e para gestores públicos das áreas de saúde e meio ambiente.

"Foi um trabalho que começou em fevereiro e ainda não terminou na sua completude. A gente faz uma revisão de todos os estudos publicados, principalmente aqueles estudos que têm um maior nível de evidência, para ver em que medida esses achados demonstram um potencial de carcinogenicidade nos seres humanos", explicou Marcelo.

A partir da avaliação global dos estudos — em seres humanos, animais e células, os resultados são categorizados em grupos que são potencialmente carcinogênicos, grupos possivelmente carcinogênicos e os que não têm relação de carcinogenicidade.

Segundo o pesquisador, os resultados indicam que a exposição aos ingredientes ativos desses produtos pode contribuir para o surgimento de diferentes tipos de câncer, a depender do grau de evidência identificado durante o processo de avaliação.

Questionado sobre medidas eficazes para a educação em relação ao uso de agrotóxicos, Marcelo afirma que é necessário conhecer o risco para pensar em uma prevenção.

"O Brasil, desde 2008, é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (...) Também reconhecer de forma antecipada os sintomas que trabalhadores rurais possam apresentar".

Conforme Marcelo, se houver um diagnóstico precoce, é possível haver uma boa condição de tratar os trabalhadores para que a chance de cura seja positiva.

A IARC adota um sistema de cinco grupos para classificar o potencial cancerígeno das substâncias. No novo estudo, a atrazina, que havia sido enquadrada em 1998 como não classificável quanto à carcinogenicidade para humanos (Grupo 3), passou a ser considerada provavelmente carcinogênica (Grupo 2A).

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Relevância para o Brasil

O docente destaca que os resultados têm impacto direto para o Brasil, país que figura entre os maiores consumidores de atrazina no mundo.

A nova classificação pode servir de base para que órgãos reguladores e instituições de saúde fortaleçam ações de vigilância, prevenção e controle da exposição, sobretudo entre trabalhadores rurais e populações mais vulneráveis.

Para o pesquisador, a avaliação científica rigorosa conduzida pela IARC contribui para ampliar o embasamento técnico utilizado na formulação de políticas públicas voltadas à saúde e ao meio ambiente.

Pesquisa internacional e próximos passos

Marcelo Ferreira passou a integrar oficialmente a IARC no início de 2025, a convite da OMS. O grupo internacional responsável pelo estudo reúne 32 pesquisadores de diferentes países, entre eles Japão, Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Canadá, Portugal, Nigéria, Rússia e Brasil.

A publicação na The Lancet Oncology faz parte de um conjunto mais amplo de estudos sobre o tema.

Segundo o pesquisador, uma nova etapa do trabalho deve resultar em publicação prevista para 2026, após a conclusão da coleta de informações adicionais e de um rigoroso processo de revisão.