Conheça a rotina e os sonhos das estudantes de Aquiraz que são ouro na Olimpíada Nacional de História
Alunas do ensino médio venceram entre 352 equipes finalistas na competição em Campinas
08:11 | Set. 08, 2025
Quando Lya Vitória, Giulia Alves e Sarah Gomes receberam a notícia da aprovação para a última fase da Olimpíada Nacional de História do Brasil (ONHB), já sabiam que trariam uma medalha para casa, mas não sabiam qual seria.
"A gente não sabe dizer quem viu primeiro (a aprovação), porque normalmente saía no sábado à noite, né? E não saiu, saiu pela manhã. A gente tinha acabado de acordar e lançaram no grupo", afirmou Lya, de 17 anos, que já participa da ONHB há quatro anos. Era dia 21 de junho.
Àquela altura, as estudantes não esperavam que, dentre as 352 equipes finalistas nacionais, conquistariam uma das 17 medalhas de ouro do evento. Mas a esperança se confirmou quando, no último dia 31, as "Guerreiras da História" - nome da equipe do trio- receberam a medalha de ouro em Campinas.
Já era o terceiro ano seguido que Giulia havia passado para a final, mas este foi o primeiro em que ela – e as colegas – conseguiram viajar para realizar a última fase da prova. As jovens são alunas do Colégio Instituto Castro, em Aquiraz.
"Dentre os empecilhos, o maior com certeza é a área financeira. Porque a gente não tinha aquele dinheiro todo", contou Lya.
Neste ano, porém, o grupo criou um perfil no Instagram para arrecadar recursos, vendeu rifas e conseguiu custear a viagem.
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A formação da equipe
A equipe nasceu por insistência de Lya – que demorou a convencer Giulia –, mas recebeu um “sim” rápido de Sarah.
"Eu já conhecia a Giulia e a gente já tinha feito a equipe da OBG (Olimpíada Brasileira de Geografia) antes, só que ela não queria por conta daquele imprevisto, né?"
O “imprevisto” aconteceu no primeiro ano de Giulia. A estudante passou para a final, mas não conseguiu o dinheiro suficiente para viajar. O resto da equipe viajou sem ela, com outra aluna em seu lugar. Giulia decidiu que não iria mais participar.
"Eu fui fazer a ONHB novamente. E fiquei insistindo, insistindo, porque vi o potencial nela. Aí, um mês depois, ela aceitou. E quando entrou a Sarah no primeiro ano, a gente achou ela muito inteligente e pensou: 'colocando ela, a gente passa'".
Não só passaram, como também conquistaram a maior medalha da competição.
"Por isso, fizemos um acordo: se não fosse para viajarem as três juntas, ninguém viajaria. Porque não seria tão emocionante, nem justo".
Elas chegaram à final em 2024, mas não conseguiram recursos para ir juntas. Somente neste ano, durante a 17ª edição da ONHB, as estudantes realizaram o sonho de ir a Campinas.
A conquista representou também um feito para Aquiraz, já que o município passou a figurar entre os vencedores da maior olimpíada de História do País. As alunas chegaram a receber homenagem durante sessão da Câmara de Vereadores do Município, na última segunda-feira, 2.
Trabalho em equipe
Durante a entrevista ao O POVO, o trio agiu como equipe inclusive no momento de responder. Giulia sempre falava primeiro, Sarah era a voz emocional e Lya fechava as respostas, sendo a última a responder.
"Ela citava poemas e tinha uns argumentos que surpreendiam a todos", disse Lya sobre Sarah.
"É mágico. Eu falaria facilmente a palavra ‘mágico’, porque não é só pelo frio de São Paulo, não é só pelo céu ‘meio cinzento’ de São Paulo, é sobretudo estar ali. Estar naquele ginásio, presenciar tudo: a música, as pessoas, toda a ansiedade junta dos participantes. É algo de outro mundo', descreveu Sarah.
As alunas destacaram ainda a participação dos professores durante as fases e toda a ajuda que receberam. Além do coordenador, agradeceram aos professores orientadores Iago Barros e George Mota, à professora Raquel Fernandes e ao professor Aldny Sousa, lembrado por Lya com gratidão.
"Ele que me incentivou, ficou lá do meu lado e, no primeiro ano que eu fiz, a gente passou. Eu fui no primeiro ano por causa dele", ressaltou.
"O importante é não desistir. Como o Iago não deixou a gente desistir, como Samuel não deixou a gente desistir", acreescentou Giulia.
Perspectivas de futuro
Giulia sempre quis ser médica. Sarah está indecisa, mas disse que a Psicologia “está totalmente tomada” nela. Já Lya afirmou que a ONHB a faz querer seguir para cursar História.
"Minha profissão está decidida desde o útero da minha mãe. Meu sonho sempre foi ser médica, ainda não sei de que área. Mas quando eu entrar na faculdade – não é ‘se’, é ‘quando’ – eu vou ver com qual área me identifico", disse Giulia, firme, aos 16 anos.
"Eu viajo entre o Direito e a Psicologia, mas tenho a Psicologia totalmente tomada em mim. Essa questão de trabalhar com o social", explicou Sarah.
"Eu não sei com certeza o que quero fazer. Queria História para estar mesmo nesse meio olímpico, porque se tornou minha paixão, meu xodó. Eu não quero ficar longe. Gosto daquela sensação de estar feliz pelos nossos amigos, de ganhar uma medalha. Eu gosto muito dessa área", disse Lya.
Sobre a Olimpíada
A Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) chega em 2025 à sua 17ª edição, consolidada como uma das maiores competições estudantis do País. O projeto é organizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por meio do Departamento de História, e envolve professores, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação.
A ONHB foi criada com o objetivo de estimular o estudo da História do Brasil de forma crítica, interdisciplinar e colaborativa.
Neste ano, a Olimpíada alcançou números históricos: 57.142 equipes inscritas, compostas por três estudantes e um professor de História cada, somando mais de 225 mil participantes de todos os estados brasileiros.
O tema central desta edição foi “Informação: produção, circulação, limites e possibilidades”, que busca instigar reflexões sobre a construção da memória, a relação com os meios de comunicação e os diferentes processos de circulação do conhecimento.
A disputa ocorre em seis fases online, com duração de uma semana cada, e reúne questões que ultrapassam a disciplina de História, dialogando também com literatura, geografia, arqueologia, patrimônio cultural e atualidades. As equipes que alcançam as melhores pontuações são classificadas para a fase final presencial, realizada nos dias 30 e 31 de agosto, no campus da Unicamp, em Campinas (SP).