100% dos reféns foram salvos nas ocorrências atendidas pelo Bope no Ceará

Batalhão de Operações Especiais (Bope) tem êxito em 100% das negociações com reféns e ações com explosivos no Ceará desde a criação do batalhão, em 2019. Até a criação, ações eram do chamado Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate)

13:36 | Mar. 01, 2024

Por: Jéssika Sisnando
Trabalho da PMCE durante ação com refém em Fortaleza. (foto: Divulgação/PMCE )

O Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), obteve êxito em 100% das ocorrências com reféns atendidas desde a criação do batalhão no Ceará, em 2019. Além de salvar todas as vítimas feitas de refém durante negociações, o Bope também concluiu sem falhas todos os seus atendimentos para retirada e desarmamento de explosivos no Estado. Os dados foram repassados pelo major Paulo Cézar, comandante do Bope. 

A última ação registrada aconteceu no dia 25 de fevereiro, no bairro Vila Velha, em Fortaleza, quando uma criança foi feita de refém pelo próprio pai. O homem havia atirado na própria companheira e fazia de refém a filha até ser atingido na mão por disparo efetuado por um sniper do Batalhão de Operações. Com a ação, a criança foi salva.

O grupo de policiais militares que atua em situações de grande complexidade tem o apoio de militares de outros batalhões, como Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) e o Policiamento Ostensivo Geral (POG), da Polícia Rodoviária Estadual, que são considerados os primeiros interventores.

O trabalho diário da rua é o policiamento que chega inicialmente aos locais. Eles são responsáveis pelo isolamento do local, coleta de dados e por evitar que o criminoso faça mais reféns, por exemplo. Os numeros de atendimento do Bope não são divulgados por questões de segurança. 

"O policiamento ostensivo geral é a ponta da lança. Eles identificam a ocorrência, e há uma instrução que passamos para o policiamento, que é a primeira intervenção, ações que o primeiro interventor deve adotar até a chegada do Bope", afirma.

A sinergia descrita pelo major Paulo Cezar, comandante do Bope, tem início a partir do cumprimento do decreto 33.398, que regula a normatização do emprego de ativos do sistema de Segurança Pública.

A legislação diz que a Polícia Militar é a competente para atender às ocorrências com reféns localizados. Esse mesmo decreto atribui à Polícia Civil a atuação em ocorrências de sequestro, que ocorre quando há pedido de resgate, o que caracteriza extorsão mediante sequestro.

Ações com reféns podem ter diversas causas, mas as ações de sequestro são norteadas pela situação de extorsão. Nesse caso, atua a Polícia Civil do Ceará, por meio da Divisão Antissequestro.

No caso do Bope, os agentes de segurança desse batalhão especializado são policiais militares que concluem os cursos de operações especiais e ações táticas. Já os explosivistas passam por outro curso, mais detalhado. Entre os policiais do Bope há químicos, biólogos, psicólogos, mecatrônicos e engenheiros eletrônicos. 

De acordo com o comandante, os policiais passam por aperfeiçoamento em outros estados brasileiros e, em específico, no Nordeste, para que o profissional atue na caatinga, em terrenos e climas inóspitos. Esse policial passa privação de sono, de alimentação e é colocado em situações adversas para que em um momento crucial ele obtenha o melhor resultado, baseado nas diretrizes do Bope.

Depois de passar pelo curso, esse agente de segurança é direcionado para o convívio com outros policiais da especializada e é acompanhado de acordo com suas habilidades e preferência. Essa vivência o leva para um grupo específico. Para participar do grupo de negociação, é necessário ter um curso específico.

Esse policial precisa atender uma série de requisitos, como não ter antecedentes. "São situações de estresse gradual, restrição de alimentação de sono para no atendimento das ocorrências ter decisões mais acertadas possíveis, que é quando ele vai estar descansado e alimentado", aponta o comandante.

O trabalho das negociações com reféns envolve um "time tático", dotado de técnicas não letais que podem ser usadas dentro do processo de negociação. "Neste time tático há um gerente de crise, e cada profissional fica com uma missão. É verificado se teve aumento ou redução de estresse (do criminoso)", afirma.

A atuação do sniper

No time de operações, há os operadores de precisão, conhecidos como snipers. Esse profissional protege a equipe e atua com aparelhos ópticos, lunetas tecnológicas. Ele observa todo o cenário para verificar se os policiais podem se aproximar com segurança. 

O profissional pode verificar se a arma está direcionada para a cabeça do refém, se a pessoa abaixou a arma, dentre outras ações. Conforme o major Paulo Cézar, há uma série de ajustes técnicos no trabalho do sniper, como a distância de alvo, peso do projétil, posicionamento entre causador e refém. Toda essa situação é repassada para o gerente de crise, que é responsável pelas decisões.

As equipes passam por treinamentos diários que simulam ocorrências complexas. "Depois de passar no processo de seleção, especialização e formação acadêmica leva de cinco a dez anos para se formar cada operador desse", aponta.

O último curso de negociador policial ocorreu há cinco anos, período em que foi implantado o Bope. Os demais cursos de ações táticas e de operações especiais também têm um período de tempo de aproximadamente cinco anos. O efetivo atual de explosivistas ou negociadores também não é divulgado por questões de segurança.

Mudança de Gate para Bope

No ano de 1988, o Pelotão de Operações Especiais (Pelopes) foi criado para atuar em ocorrências de roubo a bancos e sequestros. O Grupo de Antisequestro e Assalto (Gasa) atuou até ser extinto para a criação do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), em 24 de maio de 1993.

"Na década de 1980, o grupo especial funcionava dentro da Companhia de Choque, com atuações em ocorrências relacionadas ao crime organizado e a questões de roubos a instituições e sequestro", aponta o comandante do Bope.

Os grupos de operações especiais da Polícia Militar atuaram em casos emblemáticos como o de Dom Aluísio Lorcheider. Em 15 de março de 1994, o cardeal que era arcebispo de Fortaleza foi feito refém dentro do IPPOO II, em Itaitinga. Na época, 11 pessoas ficaram sob o poder dos criminosos durante mais de 20 horas.

Com a reestruturação da Polícia Militar do Ceará, a partir da Lei da Organização Básica da Polícia Militar, em 18 de fevereiro de 2019, o Gate tornou-se o Bope.

Conforme o comandante, policiais do Bope têm um sentimento de pertencimento e uma doutrina de preservação da vida humana. "São policiais abnegados e que têm uma entrega grande para a unidade, sempre buscando a preservação da vida humana, seja nas operações ou na construção histórica. Têm sentimento de muita honra de servir à Polícia Militar e ao Bope", finaliza.

O BOPE é a tropa de pronto emprego do Comandante Geral da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) atualmente o coronel Klênio Savyo Nascimento. Na mudança de Gate para Bope o comandante geral era o o coronel Alexandre Ávila.

O POVO solicitou informações sobre números as ocorrências de extorsão mediante sequestro à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no último dia 15 de janeiro, mas não obteve resposta. Também não houve resposta sobre entrevista com a Divisão Anti-Sequestro, da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), solicitada no mesmo período.