Risco de câncer colorretal varia conforme ancestralidade genética, aponta estudo com brasileiros

Pesquisa com a participação de cientista da Faculdade de Medicina da UFC revela que menor herança asiática ou africana aumenta risco da doença no Brasil

00:00 | Ago. 02, 2025

Por: Victor Marvyo
Estima-se que ocorram cerca de 45.630 novos casos de câncer colorretal por ano entre 2023 e 2025 no Brasi (foto: Divulgação)

Uma nova pesquisa analisou cerca de dois mil voluntários de diferentes estados brasileiros, entre os anos de 2001 e 2020, e descobriu que o risco de desenvolvimento de câncer colorretal está associado à origem étnica. Menor contribuição genética de ascendência asiática ou africana pode aumentar significativamente a probabilidade de surgimento da doença.

O estudo foi destaque na edição de junho da revista científica JCO Global Oncology, sendo conduzido por uma equipe de pesquisadores do Hospital de Câncer de Barretos (SP), da Universidade do Minho (Portugal) e da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Um dos autores principais é Howard Ribeiro Lopes Júnior, servidor técnico-administrativo do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da UFC.

LEIA MAIS | Planos de saúde poderão abater dívidas ao atender pacientes do SUS

Diversidade genética brasileira como diferencial

Ao contrário da literatura médica internacional predominante, que costuma focar em perfis genéticos de populações com menor diversidade étnica, o estudo realizado no Brasil se destacou por utilizar a ancestralidade como elemento central da análise. Isso foi possível graças à ampla miscigenação da população brasileira.

Foram avaliadas amostras de 906 pacientes diagnosticados com câncer colorretal e outras 906 pessoas sem a doença (grupo de controle). Os grupos foram pareados por gênero e idade, e pessoas com histórico familiar de câncer colorretal hereditário foram excluídas, para que os resultados fossem mais precisos.

De cada voluntário, foram coletados aproximadamente 5 ml de sangue, posteriormente processados e armazenados no Biobanco do Hospital de Câncer de Barretos. O material genético foi analisado em busca de 45 polimorfismos associados ao desenvolvimento do câncer.

“Isso garante que nossos achados refletem a diversidade genética e geográfica do nosso país, e não apenas de uma única região”, afirma o pesquisador Howard Lopes.

Resultados apontam riscos e proteção conforme ancestralidade

Os resultados mostraram que indivíduos com menor proporção de ancestralidade asiática tinham 48% mais risco de desenvolver câncer colorretal. Já aqueles com menor contribuição africana apresentaram risco 22% maior. Em contrapartida, foi identificado um efeito protetor relacionado a uma ancestralidade ameríndia intermediária.

“Como a população brasileira é uma das mais miscigenadas do mundo, era fundamental investigar essa relação. Nossa análise de ancestralidade genética revelou que o risco de câncer colorretal está, de fato, ligado à origem étnica. Esse achado é crucial, pois a maioria dos estudos genéticos se concentra em populações de origem puramente europeia ou asiática, e nossos resultados mostram que o perfil de risco genético na nossa população tem particularidades que precisam ser consideradas”, destaca Howard.

LEIA TAMBÉM | Por que câncer colorretal, que matou Preta Gil, cresce 'assustadoramente' em pessoas de até 50 anos

Contribuição para políticas públicas e prevenção

Estima-se que ocorram cerca de 45.630 novos casos de câncer colorretal por ano entre 2023 e 2025 no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). É o terceiro tipo mais comum no país, tanto entre homens quanto entre mulheres.

“Pela primeira vez, validamos fatores de risco genético para o câncer colorretal em uma amostra tão grande e representativa da nossa população miscigenada. Esses achados podem e devem ser associados a políticas de prevenção mais eficazes. Na prática, isso significa que podemos usar esses marcadores genéticos para criar ferramentas, como escores de risco poligênico, que nos ajudam a identificar pessoas com maior predisposição à doença e personalizar a prevenção”, conclui o pesquisador da UFC.