Um inimigo de ação silenciosa: saiba os riscos da exposição ao monóxido de carbono

Saiba o que é o monóxido de carbono, os riscos da exposição ao gás e como detectar a sua presença no ambiente

08:00 | Set. 16, 2023

Os carros são grandes geradores de monóxido de carbono, mas os catalisadores usados na exaustão dos carros diminuem bruscamente sua emissão (foto: Reprodução/ Freepik)

Todos os elementos têm sua importância, seja por seus benefícios, como é o caso do oxigênio (O2) — que nos mantém vivos e ajudam nossas células a desempenharem suas funções — seja por seus riscos, como é o caso monóxido de carbono (CO) — óxido neutro que pode levar uma pessoa a óbito caso inalado em grandes quantidades.

E para alertar a população sobre os riscos do CO, que foi a causa da morte do empresário Binho Bezerra de Menezes e sua esposa, Luciana Bezerra, no último sábado, 9 de setembro, O POVO reuniu algumas informações sobre o monóxido de carbono, os riscos deste gás para a saúde humana e os cuidados de que devemos ter com ele.

Monóxido de carbono: um veneno silencioso de rápida difusão

O monóxido de carbono, formado pelos elementos químicos Carbono (C) e Oxigênio (O), é um gás que surge, por exemplo, da queima incompleta de material orgânico — como a gasolina. É semelhante ao dióxido de carbono, conhecido como CO2 , mas o oxigênio extra no dióxido deixa-o praticamente sem toxicidade - inclusive ele é produzido pelo nosso corpo assim como o monóxido de carbono.

O professor do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Eduardo Sousa, explica que o CO é um “veneno silencioso” que se difunde muito rapidamente por não ter cheiro nem odor. “Ele tem muita afinidade pela hemoglobina do nosso sangue, aquela responsável por transportar oxigênio. E se liga nela bloqueando o acesso ao oxigênio, logo você pode imaginar o problema”, explica o químico.

“Sem transporte de oxigênio as funções vitais ficam em risco. Logo pode levar à morte sem que o indivíduo perceba, níveis crescentes vão chegar a causar tontura, confusão mental, leve dor de cabeça até perda de consciência, coma e morte. Tudo depende dos níveis serem elevados rapidamente ou gradualmente”, pontua.

Sousa conta ainda que quem tem o hábito de fumar tem altos níveis de CO no sangue, porém é algo tolerável pelo organismo, visto que nós também produzimos determinada quantidade.

O processo de intoxicação

A intoxicação por monóxido de carbono acontece a partir da exposição ao gás, que ocorre principalmente por via respiratória. De acordo com a Ficha de Informação Toxicológica da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), uma vez inalado, o monóxido de carbono é absorvido de forma rápida pelos pulmões e liga-se de maneira estável com a hemoglobina — proteína responsável pelo transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos, pelos glóbulos vermelhos — impedindo o transporte de oxigênio, resultando hipóxia tecidual.

O professor Eduardo comenta que, caso uma pessoa seja exposta a elevados níveis de monóxido de carbono, deve ser imediatamente levada a um hospital para receber uma pressão positiva de oxigênio.

“Não há muitas alternativas, o que se descreve do ponto de vista médico é a intensa oxigenação, se houver uma câmara de oxigênio sob pressão é o ideal. Usando oxigênio puro numa UTI por meio da oxigenoterapia hiperbárica”, explica.

Detectando um inimigo invisível

O monóxido de carbono é um gás que se movimenta sem deixar rastros, visto que o mesmo não possui cheiro nem odor. E por mais que pareça difícil detectar o CO, existem aparelhos que detectam sua presença no ambiente. Sousa pontua que os equipamentos são comumente encontrados e facilmente comprados e conseguem detectar níveis baixos de CO no ambiente.

“Como ele é inodoro e insípido, sem esse alerta o indivíduo vai gradualmente ficando letárgico e eventualmente perde a consciência é levado a letalidade. No Brasil não vejo esse equipamento, até mesmo pela nossa região, mas locais frios que usam sistemas de calefação com gás é mais comum necessitar”, ensina.

Ele diz ainda que os carros são grandes geradores de monóxido de carbono, mas os catalisadores usados na exaustão dos carros diminuem bruscamente sua emissão, mas não conseguem zerar. “Cidades muito poluídas acabam expondo a sua população a níveis mais significativos de CO, entretanto, não a ponto de causar riscos. Como disse o CO é produzido pelo nosso próprio organismo”, conta.

“De qualquer maneira, todo ambiente em que haja queima de algum material orgânico, um combustível, está sujeita a produzir CO. O risco é haver algum problema nessa exaustão dos gases, que certamente conterá o monóxido de carbono. Por isso, é importante não somente uma manutenção frequente nesses sistemas bem como o uso de detectores/sensores, que são baratos, valem certamente a pena”, contextualiza..

Ele finaliza dizendo que é importante atentar-se às baterias dos sensores e se os mesmos estão em dia, já que após alguns anos de uso, os detectores precisam ser trocados.