Com 29 minutos debaixo d'água, atleta de apneia explora limites humanos
Além de atleta, Vitomir Maricic é instrutor de mergulho e defensor da proteção dos oceanos. Ele superou o recorde anterior em quase cinco minutos
07:03 | Nov. 06, 2025
Vitomir Maricic ficou quase meia hora sem respirar. De bruços em uma piscina, sob o olhar inquieto de seu médico, alguns amigos e o júri do Guinness World Records, este mergulhador croata lutou contra a dor e os espasmos, testando os limites do corpo humano.
Quando finalmente emergiu à superfície, após um esforço sobre-humano, no dia 14 de junho, Maricic havia pulverizado em quase cinco minutos o recorde anterior do Guinness de apneia estática com inalação de oxigênio. Nessa modalidade, o apneísta inala oxigênio puro durante 10 minutos antes de se submergir na água.
"Já enfrentei vários desafios, mas este foi um dos mais difíceis", em especial mentalmente, explicou Maricic à AFP em uma entrevista em uma piscina em Rijeka, na costa croata, onde nasceu há 40 anos.
Superado esse momento, ele aguentou 29 minutos e 3 segundos debaixo d'água.
Mesmo seu médico e amigo, Igor Barkovic, achava impossível suportar tanto tempo sem respirar. A capacidade do corpo humano "é um campo totalmente inexplorado pela medicina moderna, apesar de abrir novas perspectivas que talvez um dia possam ajudar nossos pacientes", explicou o pneumologista.
Testando limites
Apesar dos espasmos sofridos durante sua tentativa, de uma enorme dor de cabeça e de uma leve hemorragia intestinal, Maricic já está recuperado e pronto para enfrentar seu próximo desafio: submergir-se, com lastro, a 160 metros de profundidade, quatro a mais que o recorde atual em posse do russo Alexey Molchanov.
Para conseguir isso, este experiente instrutor de mergulho precisará de uma forma física excepcional e de uma grande preparação para suportar a intensa pressão de um mergulho desse tipo sem oxigênio.
"Toda vez que penso que tenho todas as respostas e que levei meu corpo ao limite máximo, uma nova janela de oportunidade se abre e surgem novas perguntas", assegurou Maricic, à frente da seção croata da Aida, um dos dois organismos internacionais que regulam o mergulho livre.
Apesar de não ser uma modalidade muito popular, a competitividade é máxima, e Maricic foi acusado de trapaceiro por outro organismo, algo que o croata nega com base em seu histórico impecável em matéria de doping.
Estado mental particular
Maricic passou toda sua infância na costa croata e rapidamente se apaixonou pelos esportes aquáticos. Aos três anos já mergulhava no mar Adriático e aos nove começou a competir.
Maricic acumula conquistas destacadas na modalidade e vários recordes, mas sua atividade também lhe permitiu tornar-se testemunha das mudanças "horríveis" no Adriático e defensor da proteção dos oceanos.
"Se não protegermos os organismos vivos e não conscientizarmos sobre isso... estamos caminhando para um futuro muito sombrio", alertou Maricic, que também é embaixador do grupo de conservação marinha Sea Shepherd.
"Não estamos falando de 50 anos, 100 anos, mas de mudanças que podem ocorrer nos próximos 10 anos", advertiu. (Lajla Veselica / AFP)