Covid-19: virologista explica importância de crianças e adolescentes serem vacinados

Em entrevista à Rádio O POVO CBN nesta quinta-feira, 29, especialista explica que esse grupo de idade é um importante transmissor da doença por manifestá-la, na maioria dos casos, de forma assintomática. Entenda

18:14 | Jul. 29, 2021

Pessoas que viajaram recentemente para Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul devem procurar Setor de Vigilância Epidemiológica de Cascavel (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Com a campanha de vacinação contra a Covid-19 avançando em todo o Estado (atualmente, para a população em geral e para os grupos prioritários), fica cada vez mais próximo de crianças e adolescentes serem imunizados contra a doença. Esse grupo é um importante transmissor do vírus por, na maioria das vezes, o desenvolverem de forma assintomática. De acordo com a virologista Jordana Coelho, quando essa faixa etária for vacinada, o número de transmissões pode diminuir consideravelmente, contendo ainda mais o avanço da pandemia.

Em entrevista à Rádio O POVO CBN na manhã desta quinta-feira, 29, Jordana, que é professora do departamento de microbiologia da Universidade Federal de Minas (UFMG), falou sobre a importância desse grupo também receber as doses do imunizante. “A gente já sabe, hoje, que crianças e adolescentes podem se infectar, podendo, mesmo em um estado assintomáticos, serem transmissores do vírus. Ou seja, podem ser propagadores da infecção e podem alimentar a manutenção da pandemia da Covid-19. Então, é muito importante entender a importância de imunizar essa população para que a gente consiga conter a pandemia que, infelizmente, ainda não nos deixou”, explica.

Mesmo que, desde o começo da pandemia, os esforços maiores para conter o avanço da doença tenham se concentrado em grupos prioritários e de risco, como idosos e portadores de comorbidade, as novas variantes do coronavírus estão atingindo cada vez mais o público adolescente, com idades entre 12 e 17 anos. A vacinação, dessa forma, é essencial para tornar os sintomas mais leves, evitando possíveis intubações e mortes.

“Estamos vendo isso acontecer com as novas variantes, onde um público jovem tem se infectado e ido para o hospital com um quadro muito mais grave do que pessoas com a existência de uma doença de base [comorbidade]. Então, esse público vindo a óbito, com uma manifestação grave e uma evolução muito rápida, é preocupante, nos alertando sobre a necessidade da vacinação para adolescentes”, reforça a virologista.

Atualmente no Ceará, 344.398 mil pessoas entre 12 e 17 anos estão cadastradas no Saúde Digital, plataforma de cadastro estadual único para vacinação contra a Covid-19. A aplicação do imunizante nesse grupo será iniciada após envio da primeira dose para a vacinação de pessoas com mais de 18 anos. A medida foi decidida após reunião entre Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Variante Delta e os reais efeitos da vacinação

Com a variante Delta sendo disseminada em muitos lugares do mundo, inclusive com casos registrados no Brasil, Jordana explica que o papel da vacina não é de tornar a pessoa imune ao vírus, de forma que ele não seja mais contraído. Os imunizantes possuem o papel de tornar os sintomas daqueles que foram vacinados mais leves.

“Temos que pensar o que a vacina faz para a gente, não podemos atribuir uma função que ela não tem. A função da vacina não é uma profilaxia esterilizante; ela não nos esteriliza, não nos deixa livre da infecção. O que elas impedem é que a gente tenha a doença de forma grave. É muito importante não precisar intubar ou não morrer por causa da Covid-19; é um benefício grande que as vacinas trazem para a gente”, esclarece a professora.

Ceticismo com relação à vacina

Existem pais que não acreditam que a vacinação contra a Covid-19 tenha reais efeitos. Seja por fake news propagadas ou por ceticismo, muitos se recusam a ser imunizados contra a doença, tendo a intenção também de não permitir que os filhos tomem a vacina. Com relação a isso, Jordana reforça a importância de pensar coletivamente no atual momento vivido.

“Eu diria para esses pais que têm muitos outros pais que estão chorando em túmulos de filhos hoje por não terem os vacinado [...] Eu diria para não colocarem a vida dos filhos ao acaso, à sorte. Então, vamos pensar coletivamente, pensar naqueles que a gente ama. E vamos deixar essas crendices e medos infundados para trás por aqueles que a gente ama”, argumenta.

Terceira dose

Sobre a necessidade da aplicação de uma terceira dose para reforçar a imunização contra a doença, a virologista explica que ainda não há nenhum dado comprovado. Segundo ela, é necessário um espaço de tempo maior para comprovar se existe a real precisão de uma nova dosagem da vacina.

“Os estudos que temos ainda são incipientes, onde uma terceira dose só deve ser aplicada se comprovada que a duração da imunidade gerada pelas duas primeiras não foi suficiente. Está muito curto o espaço de tempo para definir se uma terceira dose é necessária”, completa.