"Violência doméstica é pandemia dentro de pandemia", diz superintendente do Instituto Maria da Penha

Conceição de Maria deu entrevista à rádio O POVO/CBN na manhã desta quarta, 13, e falou sobre aumento do número de violência contra mulher e doméstica em período de isolamento social devido coronavírus

13:14 | Mai. 13, 2020

Instituto Patrícia Galvão apontou aumento de casos no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Durante período de isolamento social, cerca de 90% dos casos de violência contra a mulher atendidos pelo órgão aconteceram na casa da vítima, de acordo com dados da Defensoria Pública do Estado do Ceará. O número demonstra que, durante a quarentena, a violência doméstica está ainda mais acentuada, já que, agora, as vítimas estão passando mais tempo em casa com seus potenciais agressores.

Em entrevista à rádio O POVO/CBN na manhã desta quarta, 13, a superintendente Geral do Instituto Maria da Penha, Conceição de Maria, categorizou a violência doméstica como uma "pandemia dentro da pandemia (de Covid-19)".

"Ela está presente em todos os países do mundo. A gente vê relatos que a violência aumentou na China, na Itália. Infelizmente, para um grande percentual de mulheres, estar em casa nesse momento representa um tormento por estar na presença de seu agressor", afirmou a superintendente.

Conforme Conceição, o Instituto tem acompanhado as denúncias e feito contato com os estados brasileiros para monitorar o cenário. Manter as delegacias especializadas em alerta é importante para enfrentar as violências, assim como dar alternativas para que as vítimas denunciem de casa, como os Boletins de Ocorrência (B.O) eletrônicos.

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Garantir que essas mulheres tenham informações, principalmente pelo contexto de isolamento, é também tarefa do Instituto Maria da Penha, segundo a superintendente. De acordo com Conceição, o aumento dos casos de violência doméstica tem fundamento em diversos fatores: "Esse convívio entre as famílias por muito tempo gera mais conflito, o uso exacerbado de álcool ou droga, problemas financeiros", exemplifica. Ela acrescenta, no entanto, que o álcool, droga ou crise financeira "não transformam ninguém em agressor". "Essa atitude agressora já existia e está sendo potencializada por essas questões", reforça.

Em relação às ações para amenizar esse cenário, Conceição de Maria ressaltou algumas que estão sendo realizadas pelo Instituto Maria da Penha, mesmo que ele não realize atendimentos. "Nós trabalhamos com projetos pedagógicos, aulas, cursos, palestras, iniciativas para empoderamento da mulher através da informação. São projetos de prevenção à violência. Hoje, nós estamos informando como que faz o atendimento, como a mulher pode acessar os instrumentos e monitorando, fazendo esse controle social", explica a superintendente.

Sobre o momento de crise pelo qual o mundo passa, Conceição analisou como ele pode refletir ou influenciar na temática de violência doméstica. Segundo ela, não há como voltar para o mundo de antes da pandemia e muitas coisas deverão ser mais utilizadas a partir de agora, como o home office e Ensino à Distância (EAD). As políticas públicas voltadas para os direitos da mulheres também devem passar por uma remodelação, segundo a superintendente, para conseguir atingir essa nova realidade. "Devemos incrementar também alternativas de denúncia, informação. Por isso é tão importante que existam canais de denúncia, aplicativos. Todos esses canais alternativos vão ter que ser repensados após a pandemia", complementa Conceição.

O Instituto tem trabalhado de forma remota, relizando ações online em sites, plataformas, aplicativos. A superintendente também dará outra entrevista na tarde desta quarta-feira, 13, nas redes sociais do O POVO sobre a temática. Veja como assistir aqui

Denúncia por WhatsApp

Há também como denunicar as agressões por WhatsApp, sem despertar a atenção do agressor. Trata-se de uma assistente virtual que, por meio de um chatbot, que é programa de computador que tenta simular um ser humano na conversa com as pessoas, oferece uma forma silenciosa de as mulheres pedirem ajuda e receberem orientações dentro de suas próprias casas.

O número disponibilizado para ajudar mulheres de todo o país é o Whatsapp (11) 94494 2415. Após responder a algumas perguntas que identifiquem o grau de risco que ela corre, a vítima recebe o suporte apropriado. Segundo os parceiros que desenvolveram o projeto, se houver necessidade de a pessoa agredida ir até um hospital, unidade de saúde, delegacia ou um centro de assistência social e psicológica e orientação jurídica em situação de violência, ela receberá um código que dará direito a uma viagem gratuita no aplicativo da Uber para esse deslocamento.

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O Instituto Maria da Penha fez campanha sobre o tema. Cuidado. O vídeo tem cenas que podem ser gatilho para quem já viveu violência doméstica