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Deputado André Fernandes prometeu e, pior, está cumprindo

01:30 | 23/06/2019
Arte
Arte (Foto: Ilustração)

Vamos combinar que André Fernandes está entregando como deputado estadual aquilo que prometia quando era apenas candidato, a partir de um agressivo discurso de quem anunciava-se pronto para chegar à Assembleia abalando suas estruturas e acabando com a sua acomodada rotina. Ninguém pode dizer, agora, que não esperasse o que tem sido o mandato do jovem parlamentar, de apenas 21 anos, o mais votado para o Legislativo do Ceará em 2018 e que teve seu número digitado mais de 109 mil vezes pelos eleitores. Por outro lado, isso não lhe serve de atenuante para as infringências claras que o comportamento tem imposto àquilo que se chama de decoro parlamentar.

Existe um modelo de regras de convivência entre deputados que, desrespeitado, fere o sentido democrático de um sistema que tem como valor maior a possibilidade de garantir que os contrários conversem entre si. Não se está falando de um pacto medíocre, onde até eventuais crimes que uns descubram dos outros sejam acobertados em nome de um compadrio gratuito. Pelo contrário, quem detém mandato público está obrigado a dar consequência a qualquer irregularidade que lhe chegue ao conhecimento, valendo-se dos caminhos legais e desde que minimamente certificado de que há ali um fato objetivo a denunciar.

O caso que está em questão, levantado pelo comportamento do jovem deputado do PSL, anda longe de atender o pré-requisito da responsabilidade pública. André Fernandes foi à tribuna, onde seu direito ao discurso é inviolável, para apontar o dedo em direção aos colegas, sem nominá-los inicialmente, e apresentar uma acusação vaga de que a Casa tinha gente envolvida com facções criminosas. Grave, muito grave. Pressionado, acabou encaminhando ao Ministério Público documentação que incriminaria Nezinho Farias, do PDT, baseada em fundamentação cheia de erros, a começar pela mistura de games e jogos eletrônicos com jogo do bicho. Sob o singelo, e absurdo, argumento de que apenas repassou acusações envolvendo um parlamentar chegadas ao seu gabinete, sequer se dando ao trabalho de ver que apoiara, com o próprio voto, a proposta citada quando de sua discussão em comissão técnica.

O ambiente político, especialmente o parlamentar, é naturalmente corporativo. Há, ali, uma tendência natural de autoproteção que, como primeiro movimento, seria fator de tranquilidade para André Fernandes. No entanto, uma linha tênue separa este sentimento de um outro também relevante para tais situações, que é o da autopreservação, ponto no qual o comportamento do recém chegado representante do PSL se apresenta como um problema. Assim tem sido desde o primeiro momento, com o esforço permanente dele de se apresentar como "o limpo numa casa de sujos".

A coluna foi atrás de alguns deputados nos últimos dias para entender o clima que há no ambiente onde apenas eles pisam. Três foram procurados e dois falaram, sob a condição do anonimato já que mais adiante uma situação eventual pode transformá-los em julgadores do comportamento ético do colega. O sentimento é de que André Fernandes dificilmente escapará de uma punição, nesse momento como espécie de advertência e na expectativa de que ele acomode seu comportamento arredio às regras de convivência interna que existem e que asseguram um grau mínimo de civilidade na Assembleia, a despeito de muitos não se tolerarem entre si pelas razões mais variadas.

Como disse um dos deputados consultados, o decoro e a ética são cláusulas pétreas no parlamento, tornando inevitável que alguma consequência tenha a postura de atacar colegas o tempo todo. Aliás, além de PSDB e PDT, que já anunciaram oficialmente suas decisões de pedir abertura de investigação no Conselho de Ética, também o PT adotará o mesmo caminho. O deputado, enquanto isso, vai às redes sociais jocosamente montado num jumento para responder a críticas sobre um alegado mau uso de verba de desempenho do mandato popular que obteve nas urnas. Sua expressiva votação não o exime de ter responsabilidade nas atividades parlamentares e de levar a sério as críticas e acusações que eventualmente enfrentar. Como gostam de dizer muitos dos seus aliados e admiradores, é também para isso que nós o pagamos.

FALTA COMBINAR COM O ELEITOR

Uma das principais (e raras) convergências que há hoje entre os planos do PT e do Palácio da Abolição, olhando para 2020, é a aposta no nome do deputado Fernando Santana para a estratégia de fortalecimento no Cariri. O detalhe novo é que o mapa político em discussão o coloca na disputa pela prefeitura de Juazeiro do Norte, apesar de a carreira pública dele até agora estar vinculada à vizinha Barbalha.

A RESPOSTA AINDA VIRÁ

As aparências enganam, e muito, quando se trata do ambiente de calmaria que vive o PSL cearense. O presidente da executiva estadual, deputado federal Heitor Freire, continua se movimentando de maneira intensa, ocupando espaços, atropelando gente e interesses internos. Nesse sentido, o silêncio das pessoas atingidas até agora é enganoso e a hora do troco está sendo preparada.

ALIADO, FIEL E ATÉ O FIM

Elogiado documentário sobre o dramático momento político, "Democracia em vertigem", de Petra Costa, mostra o deputado federal cearense André Figueiredo, do PDT, na turma fiel até o fim à ex-presidente Dilma Rousseff, do PT. Ele aparece, várias vezes, acompanhando a votação do impeachment no Palácio do Alvorada, ao lado dela, enquanto o barco afundava. Merecia, por isso, respeito um pouco maior dos petistas.

O NOVO CIDADÃO É DO BEM

Quem conhece o jornalista Moacir Maia, caso deste colunista há algumas dezenas de anos, sabe da justiça que há na concessão a ele do título de Cidadão Fortalezense, entregue pela Câmara na última quarta-feira, por proposição do vereador Doutor Porto. Aliás, evento de tocante sensibilidade, marcadamente pela participação de duas das suas filhas no grupo que foi à tribuna homenageá-lo, com palavras.

É HISTÓRIA, É POLÍTICA

O maranhense Flávio Dino, solitário representante do PCdoB no grupo atual de governadores de estados brasileiros, é do tipo boa praça e de bom papo. Passou por Fortaleza na última segunda-feira, para dar uma palestra, e deixou registradas várias histórias, no público e no particular. Uma delas vou relatar aqui, porque é de fazer rir e de fazer chorar, ao mesmo tempo. Vamos a ela.

Dino conta que recebia um empresário em audiência, num dia de trabalho rotineiro recente no Palácio dos Leões, em São Luis, quando lhe veio um pedido inusitado:

- Governador, o senhor aceitaria conversar com meu filho, pelo telefone?

A resposta foi "sim", mas, antes, o governador tentou entender as razões. E perguntou quais eram, claro:

- É que ele ficou em casa com muito medo, de verdade, ao saber que eu me encontraria com um comunista!

Recomposto do acesso de risos, o "perigoso comunista" pega o celular do pai empresário e corre a acalmar o filho aflito:

- Fique tranquilo. Seu pai está bem de saúde, nada fizemos e nem vamos fazer com ele, porque nós gostamos é de criancinhas.

Ao fim da história, dois homens maduros e às gargalhadas de um lado da linha telefônica e, do outro, um jovem sem nada entender, embora àquela altura bem mais tranquilo. A que ponto chegamos.

Guálter George