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Colégios mais caros de Fortaleza fazem oposto do que MEC quer

02:00 | 22/04/2019
Abraham Weintraub, novo ministro da Educação
Abraham Weintraub, novo ministro da Educação

Talvez o mais conturbado espaço da gestão até agora, o Ministério da Educação (MEC) de Jair Bolsonaro defende para o sistema público de ensino teses que não são aplicadas por nenhuma das mais exclusivas escolas da rede privada do Ceará. Em seus projetos pedagógicos, colégios caros (e de excelência em índices educacionais) como Ari de Sá, Farias Brito, Santa Cecília e Sete de Setembro passam longe do que é professado pelo presidente e pelo filósofo Olavo de Carvalho, "guru" do bolsonarismo e fiador da indicação de Abraham Weintraub para o MEC.

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As diferenças são muitas. Enquanto o próprio Bolsonaro defende, conforme frisou durante posse do novo ministro na última terça-feira, "uma garotada que não se interesse por política", todas as quatro redes destacam teses no sentido oposto. "(O colégio) quer e necessita colaborar com a construção de uma sociedade consciente de seu papel em relação à política", frisa projeto da rede Sete de Setembro. Já o Ari de Sá destaca como prioridade a "conscientização do aluno diante de direitos e deveres enquanto cidadão; capacitando o aluno para a construção de uma sociedade democrática".

Enquanto movimentos como o "Escola Sem Partido" e da bancada evangélica, ambos de grande influência no novo MEC, defendem que a formação crítica dos alunos seja de responsabilidade exclusiva dos pais, escolas de excelência priorizam a ciência e destacam espaço importante do currículo para essa formação. O Farias Brito, por exemplo, destaca o "aprendizado transformador" e o "pensamento crítico e articulado" como dois de seus "pilares para formar cidadãos atuantes na sociedade". "(É prioridade) o desenvolvimento espírito científico do aluno, postura autônoma, crítica e criativa", pontua, por sua vez, o Ari de Sá.

O Sete de Setembro também corrobora: "O Colégio reafirma assumir uma educação voltada para a ética e cidadania, compromissada com as diversidades sociais e econômicas, trabalhando a conscientização e sensibilização dos seus alunos. Uma educação participativa e emancipatória (...) que saiam da Escola com valores formados: éticos, conscientes e reflexivos". Ou seja, tudo no sentido contrário do que prega Weintraub e sua turma.

A visão crítica ao "globalismo" e ao aquecimento global, pauta frequentemente puxada pelos filhos de Jair Bolsonaro e pelo ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores), também não encontra qualquer espaço nos programas dos melhores colégios do Estado. "Não é possível ignorar o sério comprometimento da vida no planeta em razão do caos e da degradação ambiental. A falta de uma consciência ecológica tem nos levado à exploração devastadora de nossa água, como se esta fosse inesgotável", destaca plano do Santa Cecília.

A tolerância com a diversidade, frequentemente associada a uma suposta doutrinação de "ideologia de gênero" nas escolas, também ganha destaque nas escolas de elite. "(Há) a necessidade a criação de uma cultura da paz que opere na inclusão das pessoas, superando preconceitos de toda a ordem e propiciando o exercício de uma convivência solidária", destaca novamente o Santa Cecília, escola de indiscutível base cristã. Os outros colégios também reforçam ideário semelhante.

O fosso sem fim

As diferenças abissais entre o que é defendido para as redes privada e pública seriam cômicas, se não fossem trágicas. A questão central por trás de tudo isso, no entanto, é bem maior do que qualquer opinião que se possa ter sobre qualquer um dos assuntos citados acima. O grave, na realidade, é a tendência mais que anunciada de aumento ainda maior do fosso que hoje separa a educação pública e a privada no Brasil. Enquanto colégios mais caros nitidamente investem cada vez mais na formação crítica, sobra para os filhos dos mais pobres uma educação regulada, repleta de amarras. Melhor para quem pode pagar.

Carlos Mazza

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