Conheça Japa MC, baiano campeão do Duelo de MC's Nacional

Caio Lima da Silva, o baiano Japa MC, chega ao Duelo de MCs Nacional pela 5ª vez consecutiva e sai coroado como campeão em edição especial para o Nordeste

16:09 | Dez. 15, 2025

Por: Julia Vasconcelos/ Especial para O POVO
Após tornar-se primeiro representante do Nordeste a vencer o aniversário da Aldeia, Japa ganha título de campeão nacional (foto: Divulgação/André Coelho)

Em entrevista ao Vida&Arte em agosto, Caio Lima da Silva, o Japa, disse: “Quando eu ganhar o Nacional, a gente faz de novo". Assim, sem advérbio de condição - era questão de tempo.

No quinto ano consecutivo, a hora finalmente chegou. O rapper atingiu a marca inédita de pentacampeão estadual e consagrou-se campeão do Duelo de MC's Nacional, realizado em 30 de novembro. 

Leia Também | Batalha de rima: conheça a história dos nordestinos Japa e Tonhão

À época da conversa com a reportagem, as três seletivas que precisava vencer só para chegar ao palco sequer tinham ocorrido. O que tinha acontecido era a vitória do seu trio na BDA 9 Anos - edição de aniversário da Batalha da Aldeia.

As páginas dedicadas ao movimento logo anunciaram que, caso ganhasse o Nacional, faria o “ano perfeito”. Nos dois dias de competição embaixo do viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, Japa cumpriu a promessa.

Na final, um paulista versus um fora do eixo: Barreto versus Japa. Os dois favoritos ao posto de campeão nacional. Com os olhos do público e das empresas voltados para o eixo Rio-São Paulo, a sensação de ser um favorito naquele palco teve sabor de ineditismo.

Leia Também | Os fora do eixo: MC's nordestinos migram para fazer carreira com batalha de rima em São Paulo

Caio experimentou viver “na base do desespero” quando, em 2022, se mandou para São Paulo com R$ 100 no bolso e a esperança de fazer mais dinheiro ao chegar. Perambulando entre casas e QGs das batalhas para ter onde dormir e enfrentando a xenofobia e o azar nos sorteios das batalhas grandes, pensou em voltar e retomar o curso técnico em Radiologia incontáveis vezes até fazer a carreira virar.

E o fez com o peso de suas rimas de improviso, estilo agressivo e fome de vencer. Foi dessa fome que Caio Lima se alimentou para sustentar a saudade de casa quando deixou Águas Claras - bairro do complexo Cajazeiras, onde nasceu e se criou em Salvador.

A fome de um fora do eixo

“De Águas Claras e rimas obscuras”, como disse Larício Gonzaga ao anunciá-lo no 3° Round 2025. Lá, Japa aprendeu que raiva e ódio, se usados corretamente, viram matéria-prima para sua arte.

“Eu sei que no ambiente que eu vim, poucas pessoas conseguiram viver do sonho delas. Sendo uma dessas poucas pessoas que conseguem viver do sonho, aproveito muito disso para entregar tudo que eu tenho no palco”, declara.

Dessa vez, como favorito, não precisou se “desdobrar em dez" pelos gritos da plateia ou votos dos jurados. Focou em não se deixar dominar pelas emoções. Sob a benção da experiência e do cheque da BDA 9 Anos, como treino, fez o que há anos não podia: regressar ao lar e descansar.

O melhor do Brasil é do Nordeste

Um entre 32 MC’s, Japa venceu, respectivamente, Tony (PA), Snart (CE), Miliano (MS), Lorran (MG) e Barreto (SP). Assim como se deparou com comentários que alegam ser mais fácil ser campeão estadual na Bahia do que em São Paulo, também lidou com os que questionam ou desmerecem sua vitória.

O feito de vencer aniversário da Aldeia e Nacional, antes realizado apenas pela lenda do freestyle Cesar (ES), em 2017, foi repetido por um soteropolitano em uma edição do Duelo Nacional que, pela primeira vez, teve quatro nordestinos disputando as quartas de final - metade da chave.

“Esse Nacional foi histórico para a gente”, afirma Japa, exaltando MC's como Vitu (PE), Rank (PB), Épico (MA) e Frizzy (RN). Para ele, é questão de tempo até que os efeitos dessa edição sejam visíveis na cena.

“Quando eu estou lá no Nacional, não estou rimando por mim, estou rimando por vários manos daqui que desistiram por falta de opção e de investimento”, diz, ciente de que sua rima carrega a bandeira de toda uma região.

“Sei que vai mudar a mente de muitos e muitas MC’s. Eu espero que a gente consiga trazer mais os olhos para o Nordeste a partir de agora para a gente ter mais acesso de chegar na grande mídia”, prospecta.

Nesse tempo, pode fazer ainda mais do que fez até aqui, está convencido. Depois, o microfone pode até descansar. Para ele, que rima desde os 15 anos, o auge do seu desempenho ainda está por vir.

“Mas sinto que já estou ali entre os maiores da história do freestyle”, tira as palavras da boca a duras penas. E logo confessa: “Fico até mal de falar isso”. Contratado pela FMS Brasil (Freestyle Master Series) este ano, a disputa pela liga profissional é o seu próximo objetivo. “Ano que vem, quando eu ganhar a FMS, a gente faz de novo”, prometeu antes de nos despedirmos. Rimos. A fome continua.