Robert Redford, ideal de beleza americana e baluarte do cinema alternativo

Democrata convicto, defensor dos indígenas e das paisagens nativas, o caubói de cabelos dourados buscou por toda a vida abrir seu próprio caminho, a certa distância de Hollywood

12:32 | Set. 16, 2025

Por: AFP
Foto tirada em 1º de setembro de 2017 mostra o ator americano Robert Redford acenando após receber o prêmio Leões de Ouro pelo conjunto da obra durante uma cerimônia no 74º Festival de Cinema de Veneza, no Lido de Veneza. A lenda do cinema Robert Redford, um grande nome tanto na frente quanto atrás das câmeras, cuja carreira durou seis décadas, morreu no início de 16 de setembro de 2025, em sua casa em Utah, informou seu agente. Ele tinha 89 anos (foto: Filippo Monteforte / AFP)

Robert Redford, falecido nesta terça-feira, 16, aos 89 anos, foi um ícone do cinema das últimas seis décadas. Com sua beleza atrevida, encarnava um ideal de Estados Unidos ambientalista, engajado, independente e próspero.

Democrata convicto, defensor dos indígenas e das paisagens nativas, o caubói de cabelos dourados buscou por toda a vida abrir seu próprio caminho, a certa distância de Hollywood.

Nesta trajetória, fundou o "Festival de Cinema de Sundance", que se tornou a referência internacional das produções independentes.

Também trabalhou para os grandes estúdios, atuando em cerca de 70 papéis, sete deles sob a direção de Sydney Pollack.

Em sua maioria, foram personagens positivos, engajados ("Três Dias do Condor"), românticos ("O grande Gatsby"), simpáticos até mesmo quando interpretava ladrões, como em "Butch Cassidy" (1969) e "Golpe de Mestre" (1973).

Participou de filmes icônicos, como "Mais Forte que a Vingança" (Palma de Ouro em 1972), "Todos os homens do presidente" (quatro Oscars em 1977) e "Entre dois Amores" (sete Oscars em 1986), que o entronizou como o arquétipo do amante ideal.

A Academia de Hollywood nunca o premiou por um papel concreto, mas lhe concedeu o Oscar de melhor filme e melhor direção em 1981 em sua estreia como cineasta por "Gente como a Gente", e o contemplou em 2002 com uma estatueta por sua carreira.

Defensor da natureza

A imagem glamourosa sempre o incomodou. "Sou um cara comum, de cabelo loiro", apregoava, lembrando que ninguém o considerava bonito quando era desconhecido e estava desempregado.

Apontado como galã, o ator chegou a afirmar que seu físico poderia ter ofuscado seu talento, como aconteceu em "A Primeira Noite" (1966). Na ocasião, o diretor Mike Nichols comentou que Redford nunca teria convencido no papel de um estudante fracassado. 

Desde meados da década de 1970, quando "Butch Cassidy", "Nosso Amor de Ontem" e "Golpe de Mestre" o transformaram em um campeão de bilheteria, optou por "se refugiar cada vez mais na natureza". 

Na época, construiu uma casa e uma vida nas montanhas de Utah, em um local que nomeou de "Sundance", em homenagem a "Sundance Kid", seu primeiro grande personagem em "Butch Cassidy", que deve ao seu amigo Paul Newman.

"Não gostava da fama. Caiu sobre mim e me vi obrigado a aceitá-la", admitiu, em 2013, à revista francesa Télérama. "Alguns fazem terapia. Eu tenho Utah", acrescentou.

Este californiano nascido em 18 de agosto de 1936 em Santa Mônica construiu ali uma espécie de utopia ecológica: sua propriedade tem hoje milhares de hectares, incluindo uma estação de esqui, uma fazenda e um haras.

Com a primeira esposa, Lola Van Wagenen, com quem dividiu a vida por 27 anos, teve quatro filhos. Um deles morreu ainda bebê. 

Em 2009, casou-se com a artista alemã Sibylle Szaggars, uma antiga namorada.

Meca do cinema independente

Longe dos preceitos de Hollywood, em 1981 Redford criou o Instituto Sundance, um laboratório para jovens diretores americanos e estrangeiros.

Em 1985, assumiu a direção de um festival local e dedicou a ele todos os seus rendimentos. Desde então, Sundance foi se tornando o ponto de encontro mundial de documentários engajados e filmes independentes.

Ali surgiram Quentin Tarantino, Robert Rodríguez, David O. Russell, Steven Soderbergh e Jim Jarmusch.

Passados seus quarenta anos, Redford foi parando de atuar para se dedicar à direção e ao seu festival.

Autor de nove longa-metragens, ganhou o Oscar de melhor filme e melhor direção com sua primeira obra, "Gente como a Gente", em 1981. 

Oito anos depois, dirigiu "Rebelião em Milagro", no qual relata as atribulações de um camponês mexicano que luta contra as multinacionais.

Sem ser um revolucionário, gostava de questionar o poder ("Leões e Cordeiros", 2007), as instituições ("Sem Proteção", de 2013) e o apelo do dinheiro ("Quizz Show - A Verdade dos Bastidores", 2014). 

Mas foi como defensor da natureza que ele alcançou seus melhores resultados, como "Nada é para Sempre" (1992) e "O Encantador de Cavalos" (1998), dois grandes sucessos de público.

Em 2018, logo após "The old man and the gun", o octogenário de rosto curtido pelo sol e pelo vento, anunciou sua aposentadoria e seu retorno à pintura, sua primeira vocação.