Juntos pelo Livro: movimento de editoras reage à proposta de mudança da Amazon

Gigante do e-commerce propôs que editoras aumentassem os descontos para as compras de livros por parte da Amazon, além de cobrança a mais por marketing na plataforma on-line

13:54 | Mar. 18, 2021

Por: João Gabriel Tréz
Pedido da Amazon por aumento do desconto oferecido por editoras e adicional de cobrança por 'plano de marketing' fez pequenas e médias editoras reagirem (foto: Aurelio Alves)

Cerca de 100 editoras brasileiras de pequeno e médio porte e integrantes do Grupo de Editores Juntos Pelo Livro assinaram nota divulgada à imprensa acerca da negação de uma proposta feita pela Amazon que pode onerar as iniciativas editoriais. Há cerca de uma semana, a gigante do e-commerce entrou em contato individualmente com diversos integrantes do grupo propondo que eles aumentassem a porcentagem de desconto oferecido à Amazon na compra de obras e, ainda, sugeriu a cobrança adicional de um “plano de marketing”. A nota do grupo - que é formado no total por cerca de 130 editoras - ressalta a “inviabilidade de aceitar a elevação dos descontos”.

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De acordo com o texto enviado à imprensa pelo Juntos pelo Livro, a Amazon enviou no último dia 10 de março um e-mail a editores ligados ao grupo “solicitando aumentos dos percentuais de descontos concedidos sobre o preço de capa” e cobrando resposta até a última segunda, 15.

O site PublishNews, dedicado a informações sobre o mercado editorial e literário do Brasil e do mundo, informa que a Amazon propôs que os descontos oferecidos pelas editoras a ela, geralmente inferiores a 55%, passassem a variar entre 55% e 58%.

Além disso, a proposta também menciona um adicional de 5% referente a um “plano de marketing” que, caso aceito, traria vantagens às editoras como patrocínio, personalização de serviços e oferecimento de frete grátis para os chamados membros “Prime” da Amazon.

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Junto da nota à imprensa, o Juntos Pelo Livro também divulgou cópia da resposta coletiva à Amazon. Reconhecendo a importância da “parceria” com a empresa na venda de livros no Brasil - “com um significativo crescimento nos negócios de todas as editoras” -, o texto aponta que as “condições solicitadas estão muito além” das possibilidades das editoras e que os aumentos de descontos pedidos são considerados “impossíveis de atender”.

A resposta faz, ainda, menção à inauguração de centros de distribuição que a Amazon abriu no País recentemente. O envio dos livros para estes centros, informa o texto, ficou sob responsabilidade das próprias editoras, “que agora gastam significativamente mais com logística, em vez de concentrarem as entregas em um único local”.

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Na resposta à Amazon, o grupo encerra afirmando acreditar que “é possível manter a operação com a Amazon cada vez mais sadia por meio de ações criativas e discutidas com o mercado editorial”. Já a nota à imprensa defende a discussão de questões do mercado e a participação de entidades para “estimular o desenvolvimento do ecossistema do livro e preservar o equilíbrio entre editores, distribuidores e livreiros”.

Confira a íntegra da nota à imprensa do Juntos Pelo Livro:

"O Grupo de Editores Juntos pelo Livro se formou em 2018, como consequência de dificuldades amplamente conhecidas – as recuperações judiciais de Cultura e Saraiva, além das falências da BookPartners e Laselva – e com o objetivo de debater ideias, problemas e soluções. Com o passar do tempo, e o crescimento do número de editoras integrantes – cerca de 130 atualmente –, passou a tomar posições sobre assuntos de interesse comum.

O e-mail enviado pela Amazon em 10/03/2021 a muitos editores do Grupo, solicitando aumentos dos percentuais de descontos concedidos sobre o preço de capa e manifestação até 15/03/2021, foi igualmente discutido sob esse ângulo de análise e com a merecida urgência, dada a exiguidade do prazo. Assim sendo, em um processo de decisão coletiva, foi elaborado um texto para resposta àquele e-mail que segue anexo a esta nota, com o intuito de expor a inviabilidade de aceitar a elevação dos descontos, bem como alguns aspectos inerentes à operação com a Amazon.

Estamos abertos a discutir as questões de mercado, assim como levar este e outros assuntos sempre que possível às entidades, com o intuito de estimular o desenvolvimento do ecossistema do livro e preservar o equilíbrio entre editores, distribuidores e livreiros.

Apoiam esta iniciativa as seguintes editoras até o momento: Alameda, Aletria, Alfabeto, Aliás, Armazém da Cultura, Arquipélago, Arte Impressa, Associação Quatro Cinco Um, Autonomia Literária, Bamboozinho, Bandeirola, Bazar do Tempo, Belas Letras, BesouroBox, Boitatá, Boitempo, Carochinha, Cartola, Catapulta, Claraboia, Cobogó, Concordia, Contraponto, Cortez, Crivo, (Editora de) Cultura, Dita Livros, Draco, Dublinense, Duna Dueto, DVS, Edelbra, Edições Pinakotheke, EIS, Elementar, É Realizações, Estrela Cultural, Estúdio Água, Évora, Fabbrica de Ideias, Filosofia, Folia de Letras, Francesinha, Geração, GG, Gryphus, Gulliver, Impressões de Minas, Instante, Intelítera, InterVidas, Jaguatirica, Jandaíra, Jardim dos Livros, Jujuba, Libretos, Kinoruss Edicões e Cultura, Kitembo, Laboralivros, Lê, Lendari, Letramento, Livros da Matriz, Luas, Lúcida Letra, Luz da Serra, Matrix, Mauad, Mazza Edições, Memória Visual, Meridional/Sulina, Moinhos, Metamorfose, Monomito, MRN, Mundaréu, NegaLilu, Nós, Nova Alexandria, Numa, Olhares, Páginas, Pallas, Palavras, PanaPaná, Panda Books, Parábola Editorial, Piu, Promobook, Raphus Press, Relicário, Semente Editorial, Senac, Solisluna, Sopa, Sunderman, Sur, Telos, Terceiro Nome, Tomo Editorial, Troia, Ubu, Uni Duni, Valentina, Viajante do Tempo, Volta e Meia, Vermelho Marinho, W4, Zouk."

Confira a íntegra da cópia da resposta do grupo à Amazon:

"A maioria dos editores do Grupo de Editores Juntos pelo Livro recebeu propostas da Amazon de aumentos de descontos sobre os preços de capa, os quais consideramos impossíveis de atender.

A Amazon tem sido uma parceira importante para fomentar a venda de livros no Brasil, com um significativo crescimento nos negócios de todas as editoras. Como membros do Grupo de Editores Juntos pelo Livro, no entanto, ressaltamos que as condições solicitadas estão muito além das nossas possibilidades. Quando negociamos o desconto sobre o preço de capa, na chegada da empresa ao nosso país, o fizemos de maneira transparente e imaginávamos que o percentual estabelecido fosse o teto, salvo em algumas negociações específicas.

Além disso, é importante destacar também que a inauguração dos novos centros de distribuição, se por um lado agilizou e ampliou o trabalho da Amazon, por outro onerou ainda mais as editoras, uma vez que agora gastam significativamente mais com logística, em vez de concentrarem as entregas em um único local.

Estamos certos de que é possível manter a operação com a Amazon cada vez mais sadia por meio de ações criativas e discutidas com o mercado editorial, mas que não levem em conta o aumento de desconto, que já é superior àqueles praticados em outros mercados importantes."