Aids: quando o preconceito vulnerabiliza mais do que o vírus

A aids ainda não tem cura, mas é uma doença tratável - inclusive pelo SUS; medo e vergonha causados pelos estigmas relacionados à infecção vulnerabilizam os pacientes soropositivos

16:06 | Dez. 01, 2020

O mês de dezembro estimula campanha de conscientização sobre a aids, doença que pode se desenvolver em pessoas infectadas com o HIV. (foto: Evilázio Bezerra/O POVO em 30/11/2016)

Cerca de 38 milhões de pessoas contaminadas atualmente e um total de 33 milhões de mortes no mundo. Os dados não são da Covid-19, mas sim do HIV até meados de 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O vírus é o causador da aids, doença sobre a qual o dia 1º de dezembro, ou o Dia da Luta contra a Aids, tenta conscientizar.

Mesmo que ainda incurável, é o preconceito que mais pesa quando o assunto é aids. Desde a década de 1950, a infecção foi rodeada de estigmas, principalmente relacionados à população LGBT e à ideia de que o HIV é transmitido por um simples toque. Não à toa, a vergonha e o medo são as principais razões pelas quais os brasileiros evitam a testagem para HIV/Aids, conforme indica pesquisa da empresa OraSure Technologies.

O professor de História e escritor Ueldison de Azevedo comenta que antes da década de 1970 o nome da doença era Grid - sigla em inglês para imunodeficiência relacionada aos gays. Só quando identificaram o vírus também em heterossexuais é que ela passou a ser chamada efetivamente de HIV/Aids. O nome mudou, mas o preconceito continuou o mesmo.

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De acordo com o site da OMS, são justamente os fatores sociais que aumentam a vulnerabilidade ao HIV, criando barreiras ao acesso a serviços de prevenção, teste e tratamento para a infecção eficazes e de qualidade. No Brasil, chegou-se a criar a Lei nº 12.984/2014 para criminalizar a discriminação de pessoas com HIV e doentes de aids, com pena de um a quatro anos de reclusão e multa.

No Dia Mundial de Combate a AIDS, devemos lembrar da travesti Brenda Lee, pioneira na luta contra a AIDS no país.

Nascida no sertão pernambucano, Brenda Lee ficou conhecida como o anjo da guarda das travestis

Em 1986, no centro de Sao Paulo, ela criou a Casa de Apoio Brenda Lee pic.twitter.com/wbInaOCiAO

— luquinhas (@lucasabezerra) December 1, 2020


Números do Ceará e Covid-19

De janeiro a novembro de 2020, o Ceará teve 921 casos notificados, enquanto em 2019 foram 1.731 notificações. A informação é do IntegraSUS, plataforma da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), atualizada às 4h5min desta terça-feira, 1º.

Em 2020, 75% dos casos aconteceu entre homens, além de vigorar entre as faixas de 20 a 29 anos (36,5%) e 30 a 39 anos (30,1%). As taxas são similares aos do ano passado.

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Quando a pandemia de Covid-19 chegou ao Brasil, houve muito receio de como os pacientes soropositivos para HIV seriam impactados pela Covid-19. Afinal, o vírus interfere na capacidade do organismo de combater infecções.

No entanto, segundo o infectologista Érico Arruda, do Hospital São José (HSJ), percebeu-se que aquelas pessoas que estavam passando adequadamente pelo tratamento antirretroviral tiveram quadros brandos do novo coronavírus. Enquanto isso, os pacientes soropositivos com quadros graves tinham, além do HIV, comorbidades como diabetes e obesidade.

Aids a luta continua o respeito sem preconceito ✊ #AIDS #AIDS pic.twitter.com/wW3iExyq8B

— betinhoAguiar (@aguiar_betinho) December 1, 2020

Sobre o HIV/Aids

A aids é o estágio mais avançado da infecção causada pelo vírus HIV, transmitido pelo contato com sangue, sêmen ou fluidos vaginais infectados. O vírus interfere na capacidade do organismo de combater infecções. Assim, os sintomas incluem perda de peso, febre ou suor noturno, fadiga e infecções recorrentes. Algumas semanas depois da infecção pelo HIV, podem ocorrer sintomas semelhantes aos da gripe, como febre, dor de garganta e fadiga.

A doença ainda não tem cura, mas é tratável com remédios antirretrovirais (ARVs). Eles retardam o progresso da doença e também previnem infecções secundárias e complicações. Em Fortaleza, existem dez Serviços Ambulatoriais Especializados em HIV/Aids (SAEs), que oferecem atendimento multiprofissional com infectologistas, profissionais de enfermagem, serviço social, psicologia e farmacêutico. Atualmente, mais de sete mil pessoas estão sendo atendidas pelos SAEs na Capital, divulga a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

É possível viver com HIV e chegar a uma carga viral indetectável. Sabe-se que aqueles que estão há mais de seis meses com a carga viral indetectável não transmitem o vírus para outras pessoas.

Hoje é o Dia Mundial de Combate à AIDS e é sempre bom lembrar que o uso da camisinha é indispensável na relação sexual, além disso, fazer exames periódicos também é mais uma forma de se proteger e proteger terceiros. AIDS não tem cura mas tem tratamento, previna-se.

— JustinᴮᴱSeagull⁷ (@justintonyseagu) December 1, 2020

Transmissível por

Sexo vaginal sem camisinha;
Sexo anal sem camisinha;
Sexo oral sem camisinha;
Uso de seringa por mais de uma pessoa;
Transfusão de sangue contaminado;
Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.

NÃO transmissível por:

Sexo desde que se use corretamente a camisinha;
Masturbação a dois;
Beijo no rosto ou na boca;
Suor e lágrima;
Picada de inseto;
Aperto de mão ou abraço;
Sabonete/toalha/lençóis;
Talheres/copos;
Assento de ônibus;
Piscina;
Banheiro;
Doação de sangue;
Pelo ar.