PGR é contra soltar cearense acusado de tentar explodir bomba em aeroporto de Brasília

Na manifestação, Gonet ressaltou que Wellington é acusado de participar de uma trama golpista, contribuindo para a tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito e de atentar contra a segurança do transporte aéreo

07:48 | Out. 07, 2025

Por: Agência Estado
Wellington Macedo (foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

A Procuradoria-Geral da República (PGR), sob a gestão do procurador-geral Paulo Gonet, se manifestou contra a soltura do cearense Wellington Macedo de Souza, um dos acusados de tentar explodir uma bomba nas proximidades do aeroporto de Brasília, em 2022. A manifestação foi enviada na segunda-feira, 6, ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Gonet argumentou que o contexto da prisão de Wellington Macedo "permanece inalterado" e que não há "fato novo apto a modificar ou revogar o entendimento estabelecido" anteriormente por Moraes.

"A imposição da custódia cautelar foi adequadamente fundamentada, justificada e sopesada ante as particularidades do caso", acrescentou o procurador-geral.

Na manifestação, Gonet ressaltou que Wellington é acusado de participar de uma trama golpista, contribuindo para a tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito e de atentar contra a segurança do transporte aéreo.

"A ação do denunciado expôs múltiplas vidas a risco, em especial a do caminhoneiro que dormia no veículo enquanto exercia legalmente sua atividade, e buscou provocar terror social e repercussão midiática para fins antidemocráticos", destacou.

Segundo Gonet, há provas do papel de Wellington na estrutura da "organização criminosa armada". E, além disso, acrescentou que "a gravidade em concreto da conduta do denunciado, o descumprimento das medidas cautelares anteriormente impostas e sua fuga após a prática dos crimes são circunstâncias que evidenciam a pertinência da manutenção da custódia cautelar".

Recurso

Wellington Macedo foi condenado a seis anos de prisão por expor a vida, a integridade física ou o patrimônio de terceiros a perigo, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).

A defesa do blogueiro cearense recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a manutenção da prisão preventiva dele. Agravo regimental foi apresentado na segunda-feira, 29 de setembro, após decisão do ministro Alexandre de Moraes, publicada em 23 de setembro, que havia negado pedido de soltura.

 

 

Quem é Wellington Macedo?

Wellington Macedo de Souza, natural de Sobral, é um blogueiro bolsonarista que ganhou destaque pela forte presença nas redes sociais. Ele coleciona dezenas de acusações por dano moral e crimes por atos contra a democracia, e responde a diversas denúncias por espalhar notícias mentirosas sobre vacinas e contra a honra de políticos que se opõem à sua linha ideológica.

Na cidade natal, Wellington foi alvo de pelo menos 59 ações por danos morais movidas por diretores de escolas em 2018, em razão de reportagens com críticas infundadas ao sistema de educação pública municipal.

O destaque nas pautas políticas o levou a ocupar um cargo comissionado no governo Bolsonaro (PL), como assessor na Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos). Ele foi exonerado do cargo, que ocupou entre fevereiro a outubro de 2019, quando passou a ser investigado.

Histórico de prisões e fuga

O envolvimento de Macedo com atos antidemocráticos é extenso:

  • Agosto de 2021: foi alvo de mandado de busca e apreensão expedido pelo STF por incitação a atos violentos e ameaçadores contra a democracia, em uma ação que também investigou o cantor Sérgio Reis. Na época, ele se declarou um "militante da verdade da notícia".
  • Setembro de 2021: foi preso em um hotel em Brasília por determinação de Alexandre de Moraes, em um inquérito que apurava o financiamento de atos contra as instituições e a democracia.
  • Outubro de 2021: foi solto pelo mesmo ministro, sob regime de prisão domiciliar com monitoramento de tornozeleira eletrônica, pois a data do ato investigado havia passado.

Mesmo monitorado e investigado, Wellington Macedo continuou frequentando o acampamento bolsonarista, onde se envolveu com George Washington Oliveira de Sousa e Alan Diego dos Santos Rodrigues, parceiros no atentado a bomba.

Atentado à bomba e condenação

O plano para o atentado a bomba, que seria na véspera do Natal de 2022, mudou de última hora. A ideia inicial era que o artefato fosse colocado próximo a um poste para prejudicar a distribuição de energia elétrica na Capital, mas acabou sendo instalado no eixo de um caminhão-tanque carregado de querosene de aviação, nas proximidades do aeroporto de Brasília.

O artefato foi identificado pelo motorista e desarmado a tempo pela Polícia Militar do Distrito Federal, não impactando as operações aeroportuárias.

Na data em que a bomba foi colocada, Wellington Macedo já era considerado foragido da Operação Nero, relacionada a uma tentativa de invasão ao edifício-sede da Polícia Federal.

Ele, George e Alan foram denunciados pela Justiça do Distrito Federal pela tentativa de explosão. George foi preso em 24 de dezembro e confessou ter montado a bomba. Alan e Wellington não foram localizados à época.

Wellington Macedo foi condenado a seis anos de prisão, em regime inicial fechado, e multa de R$ 9,6 mil. Essa condenação já é definitiva.

Captura no Paraguai

Macedo permaneceu foragido por nove meses. Ele foi capturado no Paraguai, onde estava escondido, em uma ação que contou com a colaboração da Polícia Federal. O blogueiro foi entregue às autoridades brasileiras em 14 de setembro de 2023 na Ponte da Amizade.

Em dezembro de 2024, ele obteve o benefício de passar ao regime semiaberto, medida que culminou na nova prisão preventiva decretada em junho de 2025 devido ao seu descumprimento.