2º dia do julgamento de Bolsonaro tem declaração de amor à sogra por cearense e piadas de Dino
À certa altura, o celular de Farias tocou. Quando ele já encerrava sua sustentação oral, Dino o interrompeu. "Não esqueça de atender o telefone. Era sua sogra", avisou. Foi uma gargalhada geral
17:27 | Set. 03, 2025
O segundo dia do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus teve momentos de descontração. Apesar da gravidade da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, até mesmo dona Zilda, sogra de um dos advogados, foi citada na sustentação oral diante da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
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"Minha sogra fala assim: 'Às vezes, as palavras são como punhal, como uma arma. Machucam, doem", disse o advogado Andrew Fernandes Farias, que representa o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Ambos são cearenses, fato citado pelo advogado, que fez referência ao município de Iguatu, de onde vem o general.
"E por que lembrei da minha querida sogra?", perguntou ele, em seguida. O ministro do STF Flávio Dino não se conteve. "Estou curioso!", afirmou. Alexandre de Moraes, o relator do processo da trama golpista, emendou: "A sua sogra fala isso ou as palavras dela são um punhal?"
Risadas tomaram conta do plenário de poltronas alaranjadas. O advogado respondeu que se dava muito bem com a sogra. "Minha querida dona Zilda, eu tenho um amor profundo por ela", contou. "Ministro Dino, ministro Alexandre, tal qual Vossas Excelências, (ela) me trata, honestamente, muito melhor do que mereço".
Engana-se, porém, quem pensa que a argumentação do advogado era para tratar da operação Punhal Verde e Amarelo, como ficou conhecido o plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e Moraes. O documento foi impresso nas dependências do Palácio do Planalto, após as eleições de 2022.
Não tinha nada de Punhal Verde e Amarelo naquele discurso. As menções feitas por Farias à sogra, que lhe renderam piadas nas redes sociais, eram para criticar a peça de acusação contra o ex-ministro da Defesa. "É um salto triplo carpado o que o Ministério Público faz", resumiu. "O papel aceita tudo".
Farias descreveu Paulo Sérgio como um ministro com "espírito pacificador", que havia sido isolado no governo por não concordar com a ruptura da democracia. "O general Paulo Sérgio não é um golpista", asseverou. Disse, ainda, que o ex-titular da Defesa chegou a ser chamado por colegas de "frouxo" e também de "melancia", termo usado na caserna para hostilizar militares considerados verdes por fora e vermelhos por dentro.
O advogado afirmou, ainda, que Paulo Sérgio tentou demover Bolsonaro de praticar atos sugeridos por "grupos radicais". A ministra Cármen Lúcia perguntou: "Mas demovê-lo do quê?". Farias admitiu, então, com todas as letras, que o ex-presidente discutia um plano de golpe.
Até mesmo a obra "Alice Através do Espelho", de Lewis Carrol, foi citada pelo advogado, após menções a Belchior, Gonçalves Dias, Fernando Pessoa e Van Gogh. "Eu lembro daquela famosa passagem do diálogo entre a Alice e o Humpty Dumpty: 'Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente aquilo que eu quero que ela signifique: nem mais, nem menos'", observou.
À certa altura, o celular de Farias tocou. Quando ele já encerrava sua sustentação oral, Dino o interrompeu. "Não esqueça de atender o telefone. Era sua sogra", avisou. Foi uma gargalhada geral.