'Não é carta indo e voltando que vai resolver', diz Mauro Filho sobre crise do Brasil com os EUA
Vice-líder do governo Lula na Câmara, deputado cearense defende que solução para impasse comercial passa por negociação entre vice-presidentes
20:49 | Jul. 24, 2025

O deputado federal Mauro Filho (PDT), um dos vice-líderes do governo Lula na Câmara dos Deputados, afirmou que o impasse entre Brasil e Estados Unidos, referente ao tarifaço sobre produtos brasileiros, não será resolvido com "carta indo e voltando" entre os países.
"Essa história de mandar carta, volta a carta, fala com o Departamento de Comércio, vai e volta. E essas reuniões do (Geraldo) Alckmin com os empresários locais, no sentido de que eles queiram entender qual é o impacto do Brasil, a extensão, tudo bem. Agora, para resolver o problema, não é carta indo e voltando que vai resolver", avaliou o deputado em entrevista ao O POVO nesta quinta-feira, 24.
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Mauro Filho defende que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), deixe temporariamente a postura técnica e tome a frente da situação como vice de Lula. Para ele, o caminho passa por uma interlocução de Alckmin com o também vice-presidente dos Estados Unidos, James David Vance, aliado de Trump.
"Não é o ministro da Indústria e Comércio, é o vice-presidente da República, [que] tem que falar com o James David Vance — que é um cara, inclusive, muito conservador; igual ao Trump ou mais —, para abrir uma conversa com ele", argumentou.
Entre os pontos que o deputado considera fundamentais estão a necessidade de mostrar que tarifas comerciais não podem ser motivadas por razões políticas, como considera ser o caso, referindo-se a retaliações relacionadas aos julgamentos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Mostrar que impor tarifas para o país por razões políticas, porque o Bolsonaro está sendo julgado assim e assado, isso não tem na Teoria do Comércio Internacional. Isso não existe", repreendeu.
O deputado aponta que, assim ocorrendo, caberia a Vance intermediar o contato com Trump e tentar adiar qualquer decisão tarifária por ao menos 60 dias. Isso, segundo Benevides, abriria espaço para que o próprio presidente Lula buscasse um diálogo direto com mandatário dos EUA.
Mauro Filho comentou ainda sobre as ameaças de Trump contra o Pix e o comércio popular da 25 de março, em São Paulo. "Veja a que ponto chegou esse negócio, né?", iniciou. "Isso aí é conversa fiada", afirmou, minimizando as justificativas americanas.
O deputado defendeu que o Brasil siga o exemplo de líderes internacionais que buscaram interlocução direta com Trump, mencionando como exemplo os governos do México, Canadá e Japão.
Segundo ele, o próprio Alckmin pode abrir os caminhos para uma abordagem posterior de Lula. "Ou o Alckmin sai da condição de ministro e secunda à condição de vice-presidente da República. Ele tem que procurar o James David Vance e abrir os primeiros caminhos. E aí, sim, terá que ter uma conversa do Lula subsequente", reforçou.
Na oportunidade, o vice-líder do governo Lula criticou a postura do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro. "Ele está querendo punir o Brasil? Em função do julgamento do pai, ele quer punir o trabalhador brasileiro? Ele quer punir a empresa brasileira? Isso não faz sentido. Como é que um deputado vai trabalhar contra o seu país? Tem algo equivocado aí nesse processo".
Mauro Filho pondera que as proposições são sugestões que direciona ao governo brasileiro. Ele, no entanto, não chegou a conversar diretamente com Alckmin, mas com um integrante da vice-presidência, com quem tem proximidade
"Eu quero é dar ênfase que os exemplos de negociação foram dessa maneira e eu estou propondo ao Brasil que tenha a primeira conversa do Alckmin e, depois, será, se necessário, uma ligação do Lula para o Trump".