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Acuado, Cunha rompe com Dilma e abre CPIs

08:40 | 18/07/2015
Nem bem oficializou seu rompimento com o governo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu início às retaliações ao Palácio do Planalto, acusado por ele de querer prejudicá-lo com as investigações da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

No fim da manhã de hoje (17), Cunha anunciou que passava à condição de oposição ao Planalto. Foi a primeira resposta à denúncia de ter cobrado propina de US$ 5 milhões, feita pelo lobista Julio Camargo. A segunda veio na forma do anúncio de duas novas CPIs para tentar impor mais desgaste ao governo: criou a CPI do BNDES e autorizou a dos Fundos de Pensão.

O deputado ainda encaminhou ofício ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a outros dez "cidadãos" para que refizessem em dez dias, por erro de formatação, seus pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Hoje (17), via redes sociais, Cunha informou que vai receber "em 30 dias parecer jurídico sobre pedido de impeachment" de Dilma. A solicitação foi feita pelo Movimento Brasil Livre (MBL). No Facebook o deputado disse que a avaliação das contas da presidente "pode custar" seu mandato. "Vou incluir mais uma justificativa no meu requerimento. Semana que vem, apresento ele atualizado", disse Bolsonaro.

Aliados do presidente da Câmara esperam a rejeição das contas de 2014 de Dilma, a partir de recomendação do Tribunal de Contas da União, o que pode acabar em impeachment por crime de responsabilidade. Na quinta-feira passada, Cunha já havia dito que o julgamento no Congresso seria político.

As retaliações não devem parar por aí. Dilma deve enfrentar mais dificuldades para aprovar projetos de interesse do governo na Câmara. Na volta do recesso, deve ver rejeitados projetos como a reforma do ICMS e a repatriação de recursos no exterior.

O pacote de retaliações ao governo deve se estender à CPI da Petrobrás, sob controle de um deputado da "tropa de choque" de Cunha, Hugo Motta (PMDB-PB). Aliados do presidente da Câmara querem aprovar a convocação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Aguardam a divulgação oficial da delação do dono da UTC, Ricardo Pessoa, que disse que o ministro recebeu R$ 250 mil para sua campanha ao governo de São Paulo em 2010 e que o dinheiro teria origem no esquema na Petrobrás. Mercadante nega irregularidades.

Ao longo do dia, o governo tentou amenizar a virulência das declarações de Cunha. Nos bastidores, porém, não escondeu a tensão com as falas do peemedebista. Petistas apontaram sinais de enfraquecimento de Cunha como a ausência de aliados, como os líderes do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), e do DEM, Mendonça Filho (PE), no anúncio do rompimento com o governo. Apenas cinco parlamentares do "baixo clero" acompanharam Cunha.

Para a oposição, o rompimento agrava a crise institucional. "A guerra fria virou guerra total. Haverá destruição de parte a parte", disse um líder oposicionista. Para ele, o vice-líder do governo, Sílvio Costa (PSC-PE), tentou "apagar incêndio jogando gasolina" ao defender o afastamento de Cunha. O governo desautorizou Costa.

Partido

O PMDB deu sinais de divisão. Para alguns, Cunha furou o sinal ao declarar o rompimento e deu um tiro no pé ao criticar o juiz Sérgio Moro, que comanda a Lava Jato, tido como "paladino da ética". Para outros, o deputado reagiu na medida e no momento certos, dividindo o noticiário com as acusações contra ele. No PMDB, há quem argumente que, ao ir para o confronto direto com Dilma e o PT, Cunha mantém apoio da opinião pública, insatisfeita com a presidente e seu partido.

Também há divisão na bancada quanto ao rompimento. Há quem diga que Cunha terá a maioria a seu favor, já que o governo ainda não liberou cargos e emendas para os parlamentares. Mas o temor de desgaste pode isolar o parlamentar, sujeito a novas acusações e a eventual formalização da denúncia ao Supremo Tribunal Federal.

Em nota, o PMDB ressaltou que o rompimento é posição pessoal de Cunha. Para alguns, o comunicado indica isolamento do presidente da Câmara. Para outros, foi apenas uma nota burocrática, já que o presidente da legenda, Michel Temer, é vice-presidente da República e articulador político do governo. (Daniel Carvalho e Victor Martins)

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