Grupo de Cardozo vai propor ao PT revisar aliança com o PMDB
Assinado pela Mensagem e por pedaços de outras correntes, como Movimento PT e Militância Socialista, o documento é uma tentativa de influenciar os rumos do 5º Congresso do partido, em Salvador, assumindo posição mais crÃtica em relação aos problemas da sigla e do governo. O encontro de Salvador será aberto na noite desta quinta-feira, 11, pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora o documento não cite explicitamente o PMDB, é disso que se trata. A Mensagem avalia que boa parte dos problemas enfrentados pelo PT na seara polÃtica pode ser debitado na conta do fisiologismo e da falta de identidade programática na aliança que elegeu Lula e Dilma.
"(...) Nem tudo saiu como querÃamos. Exemplo bastante contundente é o caso da própria Petrobrás. Hoje, a partir de fatos graves envolvendo a empresa,somos atingidos como governo e como partido", diz um trecho do documento, obtido pelo Estado. "O PT foi, gradual e aceleradamente, perdendo a capacidade de formular e de pautar, por si mesmo, o debate nacional, a disputa polÃtica e ideológica na sociedade. A ponto de ser comum a cobrança da militância frente à nossa incapacidade de interferir nos rumos de nossos governos."
Corrupção. Ao fazer uma autocrÃtica diante dos escândalos que atingiram o PT e o governo, o texto afirma que o partido não pode se "omitir" nesse debate e lembra que o Diretório Nacional decidiu excluir de suas fileiras os filiados comprovadamente envolvidos em corrupção.
"A exemplo de outros partidos, criou-se uma crescente dependência do financiamento empresarial. Somos permanentemente atacados por nossos adversários e as suas armas mais eficazes contra nós são as contradições que se estabelecem nas práticas de alguns de nossos próprios integrantes. Estes comportamentos atingem a imagem do partido como um todo, decepcionando muitos que já usaram com orgulho a estrela no peito e que se sentem desrespeitados. Tais erros precisam ser corrigidos e duramente combatidos dentro do próprio PT. Precisamos retomar o caminho", diz o documento. Em abril, a Operação Lava Jato, da PolÃcia Federal, prendeu o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusado de operar um esquema de desvio de recursos da Petrobrás.
Núcleo de juristas. A chapa que apoiou a eleição do presidente do PT, Rui Falcão, vai propor que o 5.º Congresso aprove uma resolução separada, com o tÃtulo "Um partido que luta contra a corrupção". Nela, os petistas propõem a criação de "um núcleo de juristas progressistas (Â?), capaz de liderar uma reflexão sobre os caminhos da Justiça, sobre a criminalização da polÃtica, dos partidos, dos movimentos sociais."
Na lista de mudanças sugeridas pelo grupo de Tarso e Cardozo estão a convocação de um "congresso constituinte" para o PT, em novembro, com o objetivo de atualizar o programa do partido e eleger uma nova direção. Os signatários propõem o fim do Processo de Eleição Direta (PED) no PT, com voto dos filiados, para a escolha de seus dirigentes.
A extinção do PED, alvo de denúncias de compra de votos nas disputas internas, é uma polêmica que promete agitar os debates. A corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), de Lula, está dividida sobre o tema, mas a maior parte quer manter o PED e vai insistir em que a polêmica seja empurrada para deliberação do Diretório Nacional, assim como o fim das doações empresariais.
O grupo de Tarso e Cardozo defende, ainda, um "sistema compartilhado" das finanças do PT por parte dos diretórios do partido e cobra que as informações "permaneçam disponÃveis" online. Nesta sexta-feira, o PT lançará no encontro de Salvador uma campanha nacional de arrecadação de recursos pela internet.