Como indulto de Trump a ex-presidente de Honduras mostra incoerência da guerra ao narcotráfico
O presidente afirmou que os EUA começarão a realizar "ataques terrestres" que podem ter como alvo a Venezuela ou qualquer país que considere estar produzindo ou vendendo drogas ilegais
12:33 | Dez. 04, 2025
Donald Trump, que afirma trabalhar para combater cartéis de drogas na América Latina, libertou da prisão uma pessoa condenada por liderar um "narcoestado" na região. Juan Orlando Hernández, ex-presidente de Honduras cumpria pena de 45 anos de prisão nos EUA por narcotráfico e recebeu perdão oficial na noite de segunda-feira, 1º.
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De acordo com o Departamento Federal de Prisões dos EUA, Hernández deixou na segunda-feira a prisão de Hazelton, na Virgínia Ocidental, onde cumpria sua sentença emitida no ano passado, a informação foi divulgada pela BBC News.
"Meu marido Juan Orlando Hernández voltou a ser um homem livre graças ao perdão presidencial assinado pelo presidente Donald Trump", escreveu a esposa do ex-mandatário, Ana García, em seu perfil na rede social X, declaração repercutida pela emissora.
Trump havia anunciado sua decisão na sexta-feira, 28, após sua controversa ofensiva militar contra supostos traficantes de drogas na América Latina ultrapassar 80 mortos em ataques a barcos nas águas do Caribe e do Pacífico.
O presidente norte-americano afirmou ainda que os EUA começarão a realizar "ataques terrestres" que podem ter como alvo a Venezuela ou qualquer país que considere estar produzindo ou vendendo drogas ilegais. Segundo a publicação britânica, o governo alega que essas ações letais são legais e visam proteger cidadãos americanos.
Especialistas ouvidos pela BBC News alertam que os ataques a civis podem configurar execuções extrajudiciais e ilegais, enquanto outros analistas suspeitam que o verdadeiro propósito seja pressionar o ditador venezuelano Nicolás Maduro a deixar o poder.
Membros do Partido Republicano de Trump e analistas consultados pela rede britânica veem um paradoxo entre essas ações violentas e o indulto concedido a alguém que ajudou a contrabandear mais de 400 toneladas de cocaína para os EUA, segundo promotores americanos.
"Realmente cria uma incoerência: 'Vamos usar a força letal contra supostos traficantes de baixo e médio escalão no mar' e 'um chefe de Estado condenado por possibilitar as mesmas rotas (de drogas) ser tratado de forma muito diferente'", afirmou Rebecca Bill Chavez, presidente do Diálogo Interamericano, em entrevista à BBC News.
"Isso faz com que a missão de combate ao narcotráfico, ao menos em sua narrativa, pareça muito mais seletiva e motivada por razões políticas", acrescentou Rebecca, que foi subsecretária de Defesa dos EUA para o Hemisfério Ocidental entre 2013 e 2016.