As exigências de Putin e o cenário mais provável para o fim da guerra na Ucrânia

O líder russo exige que a Ucrânia não entre para aliança militar (OTAN), mas também exige que o tamanho do exército ucraniano seja limitado

11:38 | Ago. 25, 2025

Por: Wilnan Custódio
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, o presidente estadunidense Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin (foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP)

Após a reunião com o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o líder russo Vladimir Putin apresentou um conjunto de exigências para um acordo de paz com a Ucrânia. Entre elas, a renúncia de Kiev em aderir à OTAN, a neutralidade frente ao Ocidente, a proibição de tropas estrangeiras em seu território e até limites para o seu próprio Exército. Inicialmente, soa como um pacote fechado de vitória para Moscou. Mas, ao observarmos o contexto geopolítico, é difícil acreditar que todas as condições possam ser aceitas.

exclusão da OTAN até pode se tornar moeda de negociação, mas aceitar restrições ao poder militar nacional é algo que não interessa nem aos ucranianos nem aos europeus. Um país que foi invadido duas vezes em menos de uma década dificilmente aceitará se desarmar. Do lado europeu, a preocupação é ainda mais direta: um exército ucraniano limitado equivaleria a deixar uma fronteira vulnerável diante da Rússia.

Nesse sentido, a exigência de Putin de que Kiev reduza suas forças armadas é, provavelmente, a mais indigerível para o país invadido e para a Europa. Mesmo que o governo ucraniano cogitasse tal concessão, a Polônia e os países bálticos — que enxergam a Ucrânia como irmã e primeira linha de defesa contra Moscou — se oporiam veementemente. Assim a Europa precisa de uma Ucrânia forte, não frágil.

Por isso, o cenário mais realista aponta para outro desfecho: a Ucrânia deve congelar a linha de frente, deixar de lutar pela reconquista imediata de seus territórios ocupados, mas manter a plena liberdade de fortalecer suas Forças Armadas. Em contrapartida, aceitaria não entrar para a OTAN, o que permitirá ao governo russo declarar uma vitória simbólica.

A diferença, no entanto, está no que acontece a seguir. Fora da OTAN, mas dentro da União Europeia, a Ucrânia terá acesso a reconstrução econômica, investimentos e integração política. Além disso, continuará recebendo armamentos, treinamentos e inteligência de Estados Unidos e da Europa. Será um país armado até os dentes, mesmo sem cadeira formal na aliança militar.

Esse arranjo pode até ser apresentado por Putin como conquista interna, mas, no fundo, representa um revés estratégico: a Rússia perderia qualquer influência sobre Kiev. Moscou poderia ficar com parte de Donbass e com a Crimeia, mas não teria mais poder de moldar o futuro da Ucrânia. Outro elemento que pressiona Moscou a negociar são os sinais recentes de desgaste internacional.

Sanções a aliados pressionam a Rússia

Ameaças de sanções secundárias contra Brasil, China e Índia, parceiros estratégicos do comércio russo, acenderam um alerta. A Índia já foi alvo de tarifas de 50% impostas pelo governo Trump por conta de suas transações com Moscou, o que mostra que até grandes economias emergentes podem ser punidas.

Esse isolamento em potencial pesa. Sem apoio econômico de China, Índia e Brasil, a Rússia fica restrita a parceiros secundários como Irã e Coreia do Norte, o que não sustenta a imagem de potência global. O próprio Brasil, embora adote discurso de neutralidade, não arriscará perder acesso aos mercados ocidentais em defesa de Putin. É esse contexto que explica a súbita disposição russa em colocar propostas de paz na mesa.

Do lado americano, Trump quer que as negociações avancem, e tem se mostrado mais flexível a preocupações europeias e ucranianas por garantias de segurança. Ele deve apoiar um acordo que impeça a entrada da Ucrânia na OTAN, mas dificilmente apoiaria a ideia de desmilitarizar o país, pois isso deixaria toda a região instável. Sua lógica é a de reduzir riscos para os EUA sem permitir que a Rússia saia fortalecida demais.

Em resumo, o fim mais provável dessa guerra não virá de uma vitória total de Putin nem de uma reconquista plena da Ucrânia. O que se desenha é um acordo imperfeito, em que Moscou congela sua conquista territorial, Kiev permanece fora da OTAN, mas a Europa arma a Ucrânia até o limite. É um cenário de paz frágil, mas que redefine a balança de poder no continente: a Rússia talvez tenha ganhado terras, mas perdeu a Ucrânia para sempre.

Wilnan Custódio - especialista em Ciência Política, graduando em Relações Internacionais e Jornalismo