Conheça outras pesquisas que buscam vida fora da Terra e entenda a ciência por trás delas

Gelo, jatos d’água e metano em luas, além de água líquida em Marte são algumas das descobertas que abrem espaço para se investigar vida ou habitabilidade em outros corpos celestes

15:48 | Set. 15, 2020

Marte, por exemplo, é um forte candidato à habitabilidade huaman: apresenta indícios passados de água, tem temperaturas de 22ºC e está em zona habitável. (foto: ESA & MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/RSSD/INTA/UPM/DASP/IDA)

A descoberta de fosfina na atmosfera de Vênus publicada nessa segunda-feira, 14, movimentou o mundo com mais um estudo sobre indicativos de vida - totalmente diferente de vida mesmo, vale ressaltar - em outros planetas. Apesar de grandiosa, essa não é a primeira pesquisa que identifica moléculas que podem sinalizar vida fora da Terra.

“Nos últimos tempos, as decisões estão muito relacionadas por busca pela vida. Quando você vê essas missões espaciais, em geral, eles estão sempre buscando ou planeta, ou lua, onde existe possibilidade de vida”, comenta a astroquímica Diana Paula Andrade, professora do Observatório do Valongo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Conheça outras descobertas que podem indicar vida em outros planetas ou satélites. No final da matéria, confira três dicas de perfis para acompanhar mais descobertas relacionadas à Astronomia:

Água na Lua e em Europa

Tanto na nossa Lua, quanto em Europa - uma das 79 luas de Júpiter - foram encontradas fases de água. No satélite da Terra, pesquisadores identificaram depósitos de gelo em crateras do corpo celeste. O estudo foi publicado em julho de 2019 na revista Nature Geoscience.

Depois, em novembro de 2019, cientistas observaram jatos de água na lua Europa, jorrando água o suficiente para encher piscinas olímpicas. De acordo com o astrofísico Daniel de Freitas, da Universidade Federal do Ceará (UFC), a presença de água nos satélites é interessante por pelo menos dois motivos.

Primeiro, sabe-se que a vida na Terra começou nos oceanos, abrindo espaço para os cientistas investigarem ambientes parecidos. Segundo, a água nas luas favorece etapas de exploração e colonização humana nos satélites. O mundo se abre para as possibilidades: quem sabe, projeta o especialista, as primeiras hortas fora da Terra sejam plantadas com água da e na Lua?

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Metano em Titã

Titã é uma das 82 luas de Saturno - o planeta com mais satélites naturais do nosso Sistema Solar até agora - e por lá cientistas identificaram uma grande quantidade de metano. Na época, o indício deixou a comunidade científica muito curiosa, já que não se compreendia como era possível existir tanto metano (um gás do efeito estufa) no satélite.

“Tinha algum evento que estava acontecendo e causando essa produção de metano. Poderia estar ligado à vida também, achavam que podiam ser bactérias que liberam metano no seu metabolismo”, conta a astroquímica Diana. “[São as mesmas dúvidas] que se está vivendo agora com a fosfina em Vênus.”

Titã com as cores naturais. A Nasa descreveu a maior lua de Saturno como uma "bola laranja difusa" (Foto: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute)

Não foi em Titã que encontraram vida, mas isso não torna a análise menos interessante. Na verdade, a grande quantidade de metano no satélite se dá pela existência de lagos de hidrocarbonetos, ou seja, moléculas compostas apenas por hidrogênio e carbono. Como a temperatura média da lua é de -149ºC, os hidrocarbonetos conseguiam ficar em estado líquido.

E tem mais: da mesma forma que chove água na Terra, chove metano em Titã, garantindo a manutenção do nível do hidrocarboneto na atmosfera da lua de Saturno. “Foi uma descoberta geológica, mas também uma descoberta que entendeu a química daquele planeta”, afirma Diana.

Água e possível habitabilidade em Marte

A Terra está “entre” Vênus e Marte. Com a descoberta da fosfina em Vênus, os cientistas começarão a investigar o que a produz e se existe possibilidade de vida no planeta. Entretanto, ele continua sendo um pouco assustador para os humanos: lá, as temperaturas ultrapassam 480ºC, quente o suficiente para derreter chumbo.

A temperatura vai pra lá de 480º C. Dez sondas soviéticas pousaram em Vênus de 1975 a 1982 e enviaram fotos antes de derreterem, até chumbo derrete nessa temperatura.

Se há ou já houve vida por lá, fico muito curiosa pra saber mais sobre quando e como ela apareceu e sobreviveu. pic.twitter.com/BK9iOYngu6

— Geisa Ponte (@geisa_ponte) September 14, 2020

Enquanto isso, o vizinho Marte é tão agradável que tem temperatura máxima em torno de 20°C, um bom começo para se projetar uma colonização humana. Além disso, cientistas observam há anos a existência de canais em forma de rios, o que indica a existência passada de água no planeta.

“Marte está próximo da Terra, tem dimensões parecidas com a Terra. Está na zona habitável também”, elenca Daniel. “Mesmo assim, até hoje não temos evidências se efetivamente tivemos, no passado de Marte, vida. Seja ela microbiana, seja de qualquer outra forma”, reforça. De qualquer forma, o planeta vermelho é o alvo de diversas missões espaciais atualmente, já que parecer um bom candidato para receber a vida humana.

Padrões de escoamento, redes de canais, leitos secos e ilhas.

Comparando a padronização do terreno marciano com o que observamos na Terra, temos evidência da presença de fluxo de água e até de enchentes no passado de Marte. #astrominibr pic.twitter.com/osuoQcWnHG

— Ana Carolina Posses (@astroposses) February 21, 2019

Observando moléculas com um telescópio

Moléculas são um grupo de átomos, que, por sua vez, são umas das menores partículas do mundo. Então como é possível que os cientistas as observem na atmosfera de planetas gigantescos? Para isso, diferente de enxergar a molécula em si, os pesquisadores procuram por “assinaturas digitais” delas no momento que são atravessadas pela luz.

O astrofísico Daniel explica que é um processo parecido com a decomposição da luz por um prisma, quando ela se transforma em arco íris. Mas, ao invés de a luz se dividir em várias cores, ela é absorvida pela molécula e fica com uma região escura.

Assim, ao obterem o espectro dessa luz, utilizando um telescópio com uma tecnologia chamada espectroscopia, os astrônomos analisam a região para determinar qual molécula a provocou. A mancha é diferente para cada elemento, o que caracteriza a assinatura digital, ou bioassinatura.

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A professora Diana ainda destaca a possibilidade de se analisar o espectro por meio de sondas espaciais. Algumas, ela explica, orbitam um único planeta, captando dados bem mais próximos. “O que é muito bom”, diz. Além delas, existem as que entram no planeta ou satélite e obtêm o espectro in situ (no local). “Aí já são outros tipos de experimentos que podem ser feitos. Não necessariamente precise usar espectroscopia, mas pode ser retirada uma amostra, por exemplo”, afirma.

Divulgação científica

Para acompanhar descobertas astronômicas e entender melhor sobre a área, é possível seguir perfis de divulgação científica nas redes sociais. Veja algumas dicas:

AstroMini BR, no Twitter

Compartilha tweets “confiáveis” sobre astronomia. No dia da publicação da descoberta de fosfina em Vênus, a conta movimentou diversos tweets que detalharam o estudo e explicaram o que ele significa.

É importante entender que os cientistas por trás da descoberta não estão alegando a existência de #VidaEmVenus, mas sim a detecção de Fosfina. Isso pode significar algum processo desconhecido ou, de fato, VIDA, com probabilidades consideráveis!#AstroMiniBR by @cesperanca_ pic.twitter.com/KWsDkjfdj2

— AstroMiniBR (@AstroMiniBR) September 14, 2020

AstroTubers, no YouTube

Foi criado em 2017, durante uma reunião anual da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), e conta com a participação de vários graduandos e pós-graduandos de Física e de Astronomia de diversas universidades do Brasil. O objetivo é divulgar ciência garantindo qualidade e confiabilidade. É certificado pela SAB e pela Science Vlogs Brasil, selo que atesta a qualidade da divulgação científica no YouTube.

Museu de Astronomia e Ciências Afins, no Instagram

O Museu de Astronomia e Ciências Afins é uma instituição do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Foi criado em 1985, no Rio de Janeiro, e trabalha com o estudo e a divulgação da história da ciência e da tecnologia no País, além de ter acervo museológico e projetos na educação em ciências.

Está presente também no Facebook e YouTube, mas a indicação vai para o Instagram. Nele, a instituição compartilha fotos incríveis do universo, explicando conceitos e fenômenos astronômicos.