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Juros baixos no Fed: será o fim de uma era?

09:39 | 16/09/2015
Muitos esperam que o banco central americano eleve sua taxa de juros, encerrando uma baixa histórica desde a crise financeira de 2008. Para alguns observadores, porém, essa murança pode trazer mais danos que benefícios. Nesta quinta-feira uma senhora deverá convocar a imprensa para um discurso que economistas de todo o mundo já consideram histórico. A presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, vai se pronunciar sobre a taxa básica de juros americana. Até agora, é tudo que se sabe. As opiniões, no entanto, nunca estiveram tão divididas sobre o que Janet Yellen (foto) vai falar. O que está em jogo? A questão é se a taxa de juros americana vai ser elevada ou não. Essa taxa é utilizada pelos bancos de um país como indicador-chave do valor dos juros que pagam ao tomar dinheiro emprestado do Banco Central e, por sua vez, do dinheiro que emprestam a seus clientes. Disso dependem investimentos e despesas de consumo. A taxa de juros do Fed, no entanto, é algo especial. Ela é um sinal também para investidores, empresários e banqueiros. Se ela é modificada, também se modificam as regras do jogo da economia mundial. Neste mês, o Banco de Compensações Internacionais (BCI) constatou secamente: "As taxas de juros de curto e longo prazo nos EUA afetam consideravelmente os respectivos juros em outros países." O peculiar da situação atual: desde 2008, a taxa de juros americana está num nível historicamente baixo, algo entre zero e 0,25%. Com a mudança, o Fed combateu as consequências da crise financeira. Já faz quase dez anos que o banco central americano não eleva os juros básicos. No entanto, a chefe do Fed já anunciou desde julho perante o Congresso americano que a fase de juros baixos iria chegar em breve a um fim. Quando é "breve"? Neste ano, o Fed tem duas oportunidades para transformar suas palavras em ações: nesta quinta-feira e em meados de dezembro. A multidão de economistas está dividida em sua avaliação se o aumento dos juros vai ocorrer esta semana ou no fim do ano. "As chances estão empatadas", avalia Paul Ashworth, da empresa de assessoria financeira Capital Economics. O motivo é, ao mesmo tempo, simples e complexo: nunca houve um período tão longo com taxas de juros tão baixas. Falta simplesmente a experiência para que se possa fazer uma avaliação do que vai acontecer se os juros forem novamente elevados. Ao mesmo tempo, ja faz um tempo que a realidade econômica vem se comportando de forma diferente do que o previsto pelas cartilhas. Inflação ou deflação? A taxa básica de juros serve para que os bancos centrais controlem os preços e a estabilidade monetária, principalmente com base no mercado de trabalho. Grosso modo, isso tem funcionado da seguinte forma: se em determinado país o desemprego estiver alto, preços e salários caem, e não há ameaça de inflação pelo contrário: é hora de cortar as taxas de juros para impulsionar a economia. Se o desemprego cai, os salários e os preços sobem, como manda a cartilha, e a inflação se torna um problema sério. Nesse caso, a elevação da taxa de juros pode funcionar como antídoto. Mas nos últimos anos essa realidade tem sido bem diferente. O semanário britânico The Economist diagnostica um "comportamento desconcertante da economia americana desde a crise financeira". Em 2009, por exemplo, a taxa de desemprego americana girava em torno de 10% os preços, no entanto, não deixaram de subir. Os mais recentes dados do mercado de trabalho mostram um desemprego de apenas 5% a inflação, porém, desapareceu. Com um aumento médio de preços de somente 0,3%, os economistas temem uma deflação. O Fed deve aumentar os juros agora? As vozes de advertência também estão aumentando. Uma delas é do ex-secretário do Tesouro Larry Summers: "A elevação dos juros num futuro próximo seria um sério erro, que iria de encontro aos três objetivos centrais do Fed: a estabilidade de preços, o pleno emprego e a estabilidade financeira", escreveu Summers em agosto no jornal Financial Times. Tom semelhante partiu do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional ainda na última semana: os economistas-chefes de ambas as instituições advertem, regularmente, que os países emergentes poderiam ser seriamente afetados devido à retirada de capital. "O medo ronda" Na revista alemã Der Spiegel, o economista Henrik Müller afirmou ver uma situação muito negativa: "O medo ronda, o mundo todo poderia cair numa armadilha inflacionária uma permanente queda de preços, aliada ao desemprego em massa, falência e, possivelmente, agitação social." Mesmo assim, os especialistas veem um bom número de motivos para o Fed elevar os juros. A taxa básica é o principal instrumento de um banco central para reagir a crises. Se a taxa já gira em torno de zero, as autoridades financeiras não mais dispõem desse instrumento. E isso levando em conta que há prenúncios de crise na China. Além disso, com a taxa de juros zerada, os mercados são inundados com dinheiro barato; isso pode seduzir especuladores a transações arriscadas se elas fracassam, economias inteiras podem cambalear. De qualquer forma, com um aumento da taxa de juros, Janet Yellen e seus colegas do Fed deixariam claro: o banco central acredita que a pior crise financeira dos últimos 80 anos está superada. Voltar à normalidade seria o lema. E normalidade é: elevação e redução da taxa básica de juros conforme necessário. E a data para este passo histórico? "Achar um bom momento para elevar a taxa de juros é tão difícil quanto achar um bom momento para ir ao dentista", afirmou recentemente o economista-chefe do Deutsche Bank, David Folkerts-Landau, ao jornal Die Welt. "Mas, em ambos os casos, protelar a decisão deve ser motivo de dor." Autor: Andreas Rostek-Buetti (ca)Edição: Francis França
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