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Guatemala se prepara para eleições após renúncia do presidente Pérez

O país vive a maior crise política dos últimos 20 anos. A crise iniciou após a descoberta de uma esquema de corrupção que cobrava subornos para fugir de impostos aduaneiros

11:12 | 04/09/2015
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A Guatemala vive nesta sexta-feira, 04, o último dia de campanha para as eleições presidenciais que acontecerão no domingo, em um clima histórico marcado pela renúncia e prisão provisória do até então presidente Otto Pérez por suposto envolvimento em atos de corrupção.

Mais de 7,5 milhões de guatemaltecos, que em sua maioria organizou manifestações que favoreceram a demissão do chefe de Estado, estão convocados para o primeiro turno das eleições presidenciais, legislativas e municipais.

Os guatemaltecos indignados e que não pararam de protestar pacificamente toda semana desde que começaram a ser revelados os casos de corrupção em abril deixaram claro que não estão dispostos a tolerar a corrupção, e exigem uma mudança no sistema político.

Os eleitores se mostram agora menos crédulos e mais vigilantes a respeito dos candidatos. "Os políticos faziam o que queriam, mas esses casos de corrupção fizeram com que muitos despertassem e não vamos fechar nossos olhos novamente", disse à AFP Luisa Monterroso, uma nutricionista de 34 anos que esteve em vários protestos.

"Acredito que a Guatemala, mudou de agora em diante os candidatos e as novas autoridades serão mais fiscalizadas", agregou. Na frente das pesquisas eleitorais se destacam três candidatos, entre os 14 inscritos, com possibilidade de passar para o segundo turno, no dia 2 de outubro.

Uma pesquisa publicada na quinta-feira, 3, pelo jornal Prensa Libre, situou em primeiro ligar Jimmy Morales, um comediante de 46 anos do partido de direita Frente de Convergência Nacional, com 25% da preferência. Seguem o advogado direitista Manuel Baldizón, de 45 anos, do partido Liberdad Democrática Renovada, com 22,9%, e a ex-primeira-dama Sandra Torres, de 59 anos, da socialdemocrata Unión Nacional de la Esperanza, com 18,4% das intenções de voto.

Para muitos guatemaltecos, as eleições de 2015 são um divisor de águas devido à queda de Pérez. "Cada presidente que chega promete uma coisa e não cumpre. Todos são corruptos e ladrões, mas agora deverão cumprir suas promessas pois estamos os vigiando", disse à AFP o vendedor de cachorro-quente Orlando Pérez, de 22 anos. Ainda assim, alguns analistas alertam que a renúncia de Pérez não erradica a prática clientelista da política guatemalteca que sustenta a corrupção.

 

Enraizada
O deputado indígena Amílcar Pop, um opositor que, em junho, foi o primeiro a propôr que Pérez perdesse sua imunidade, alertou no congresso que a corrupção tem raízes profundas que não são eliminadas com a aplicação de processo a autoridades que estão saindo.

"O presidente e a vice-presidente serem processados por corrupção não resolve a crise. Eleger um novo presidente não resolve a crise, porque há muitos candidatos envolvidos em atividades questionáveis", alegou Pop na sessão legislativa que aprovou na última quinta-feira a renúncia de Pérez. Segundo ele, o novo governo deve pensar "uma nova rota para a verdadeira transformação do Estado guatemalteco".

No mesmo sentido, para o economista Mynor Cabrera, da Fundação Econômica para o Desenvolvimento, o problema real é o modelo financeiro dos partidos políticos, no qual quem financia "espera recuperar o dinheiro depois". "O problema é que tem gente que se alimentou desse sistema e tem muito poder", afirmou Cabrera.

A revelação do escândalo de corrupção conhecido como "A Linha" (La Línea), que cobrava subornos para fugir de impostos aduaneiros, deslanchou na Guatemala a mais grave crise política desde o restabelecimento democrático em 1985.

AFP

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