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Ser alemão vai além da cor da pele

12:32 | 03/08/2015
Projeto multimídia 'Schwarz Rot Gold' reúne perfis de alemães negros com o objetivo de combater o racismo no país. "O problema não é apenas o radicalismo de direita, mas também a sociedade que o tolera", diz cineasta. Marie Nejar é uma elegante e dinâmica senhora de 85 anos. Ela fala alemão com sotaque de Hamburgo e veste um vestido preto com gola de renda branca. É uma típica avó alemã e é negra. "Sou uma alemã típica, fui criada de maneira prussiana pela minha querida avó", diz. Nejar é um dos dez afro-alemães que o jornalista Jermain Raffington e sua esposa, a psicóloga Laurel Raffington, entrevistaram para o projeto Schwarz Rot Gold (Preto, Vermelho e Dourado, em alusão às cores da bandeira alemã). A avó de Nejar vinha de uma família burguesa e se apaixonou por um martinicano, e o pai de Nejar era de Gana. Ela cresceu no bairro de St. Pauli, em Hamburgo, e sobreviveu ao nazismo, também graças ao esforço de muitos alemães que aceitaram e protegeram Nejar. Em filmes de propaganda nazista, ela desempenhou o papel de comparsas exóticos. Depois da guerra, trabalhou como enfermeira. Já Theodor Wonja Michael, nascido em 1925, filho de uma alemã e de um africano de Camarões, antiga colônia germânica, sabe bem como é ter a origem sempre questionada devido à cor da pele. "Sou negro. Mas o que está por baixo desta pele?", pergunta. Quando criança, ele já era vítima de racismo. Depois que a mãe morreu, durante a República de Weimar, teve que participar dos chamados Völkerschauen (zoológicos humanos). Mais tarde, trabalhou como ator, jornalista e para o Departamento Federal de Informações da Alemanha (BND). Identidade e cor da pele De maneira inteligente e sensível, os perfis de Schwarz Rot Gold retratam o racismo do passado. Mas ainda hoje muitos no país têm dificuldade em aceitar que a identidade alemã não é definida apenas pela cor da pele. "Você não é diferente, você só é visto de maneira diferente", diz Michael em seu vídeo de 15 minutos. A cultura afro-alemã faz parte da história do país há gerações. Porém, a sociedade de maioria branca mal sabe disso uma das razões pelas quais Jermain começou o projeto. Outra motivação do diretor é bastante pessoal: filho de uma alemã e de um jamaicano, ele cresceu em Hamburgo e se tornou jogador profissional de basquete. Constantemente ele é questionando "de onde vem, realmente" e se pergunta sobre a própria identidade. "Eu buscava exemplos positivos além de clichês." Inicialmente o projeto previu dez perfis, e os primeiros cinco já estão prontos. Eles mostram afro-alemães que, com sua trajetória de vida, podem ser justamente esses exemplos positivos que Raffington buscava. O jogador de futebol Jérome Boateng já aceitou participar, assim como Kevin John Edusei, principal maestro da Orquestra Sinfônica de Munique, além de uma professora universitária e um capitão da Bundeswehr (Forças Armadas Alemãs). Somos todos alemães "Somos todos alemães, porque vivemos aqui, não importa se somos azuis, amarelos, verdes ou pretos", diz Patrick Mushatsi-Kareba, diretor de uma grande plataforma online de música e outro dos retratados no projeto. Formado em Ciências Políticas, ele cresceu em Frankfurt, e o pai, natural do Burundi, abandonou a família cedo. A mãe, italiana, logo se casou de novo. Apesar de viver num ambiente multicultural, ele também sofreu rejeição e hostilidade. Ele vê a educação como a única maneira de mudar isso. "Hoje em dia nenhuma sociedade pode se permitir dizer, 'somos tolerantes, mas...'" O projeto Schwarz Rot Gold é apoiado pelo Ministério do Exterior alemão e pela iniciativa DeutschPlus, entre outros. Os perfis registrados por Jermain e Laurel Raffington mostram uma parte da sociedade alemã que ainda é praticamente ignorada pela maioria. "O problema não é apenas o radicalismo de direita, mas também a sociedade que o tolera", afirma Raffington. Autor: Bettina Kolb (lpf)Edição: Francis França
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