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Coproduções abrem portas para o cinema brasileiro

10:02 | 13/07/2015
Número de filmes realizados pelo Brasil junto com outros países passou de um em 2005 para 14 em 2014. Parcerias podem facilitar acesso a recursos e potencializar a comercialização internacional. Mesmo com um mercado incerto e o desaquecimento da economia, o setor audiovisual no Brasil ainda passa por uma fase frutífera. Com recorde de produções no ano passado, alguns filmes brasileiros ainda encontram dificuldade de lançamento no país. No entanto, o crescente número de coproduções tem aberto portas para o cinema nacional no exterior. "Através da coprodução, o impacto de um filme é sempre maior. Na média, ela potencializa o público em até quatro vezes porque você tem um produto nacional no Brasil e nos outros países envolvidos", diz Eduardo Raccah, coordenador internacional da SPCine. De acordo com dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) , o número de coproduções realizadas pelo Brasil passou de uma em 2005 para 14 em 2014 o pico foi de 21 em 2013. A lista inclui filmes como Praia do Futuro (Brasil-Alemanha), de Karim Aïnouz, e o premiado Tabu (Portugal-França-Brasil-Alemanha), do português Miguel Gomes. "Na Europa e no Brasil, o subsídio estatal é grande, e os mercados, fechados. As coproduções podem preencher cotas de tela em mais de um país. Todos os mercados têm regras para você fazer parte dele ou vender o produto naquele território. A coprodução flexibiliza essas regras e potencializa a comercialização", explica Raccah. Acordos internacionais As leis de coprodução no Brasil podem ser flexibilizadas através de acordos específicos com outros países. A Ancine tem acordos bilaterais com dez países e um acordo multilateral com outros 14 países latino-americanos. "Caso não exista acordo, o Brasil exige que o produtor brasileiro tenha no mínimo 40% dos direitos patrimoniais do filme. A equipe tem que ser formada por dois terços de brasileiros, e eles têm que exercer funções importantes, como direção, fotografia, roteiro", diz Raccah. O acordo entre o Brasil e a Alemanha é o mais flexível entre os firmados pela Ancine. "A Alemanha foi superaberta, não houve resistência na negociação. Você pode fazer um filme com dinheiro brasileiro, inteiramente em alemão, contanto que a trilha sonora seja em português", explica. Em grande parte, as coproduções têm histórias binacionais que diferem um pouco do cotidiano de um país específico. Histórias de brasileiros que vão para o exterior ou vice-versa também têm um apelo forte. Um exemplo recente é Trash, de Stephen Dalldry, uma produção entre o Brasil e a Inglaterra, rodada no Rio de Janeiro e com Rooney Mara, Martin Sheen e Wagner Moura no elenco. "Existe a coprodução natural, que é aquela que a história pede locações ou personagens em dois ou mais países. Existem também histórias que vão se transformando e buscam coprodução como uma maneira de arrecadar dinheiro. Essas coproduções forçadas costumam não render bons resultados", opina Raccah. Com uma história binacional e uma equipe formada por brasileiros e alemães em importantes funções, o polêmico Praia do Futuro foi o primeiro filme a utilizar oficialmente o acordo entre Brasil e Alemanha. "A coprodução foi uma necessidade. O Brasil e a Alemanha ainda estão começando um diálogo. A grande marca do cinema brasileiro contemporâneo é a improvisação. A Alemanha é um país calcado no planejamento. No começo foi um pouco desafinado, mas teve uma hora que afinou e foi bonito", diz o diretor Karim Aïnouz sobre a experiência. Cinema mais universal Para filmes com maior apelo comercial, a coprodução é importante para garantir uma grande distribuição internacional. É o caso de Amazônia 3D (França-Brasil) e de Filhos de Bach, uma produção entre Brasil e Alemanha que deve ganhar distribuição internacional da Buena Vista International (Disney). Para filmes autorais e de menor orçamento, a coprodução pode ser uma maneira de criar visibilidade e marketing para o filme através de festivais de cinema. "Eles têm um tramite e uma facilidade em festivais internacionais muito maior do que os filmes que são 100% de um só país. Filmes que têm uma coprodução com a França ou a Alemanha, por exemplo, têm mais chances de entrar em Cannes ou Berlim", explica Raccah. Festivais de cinema são a chance de filmes que muitas vezes passariam despercebidos viajarem e serem vistos. Um prêmio ou críticas positivas podem abrir portas para o filme encontrar seu público e ganhar distribuição em mercados específicos. "Diferentes de outras cinematografias latino-americanas, como a mexicana ou a argentina, o cinema brasileiro tem se confrontado pouco com o mundo. Isso é muito importante porque você cria a necessidade de ser entendido, o que torna o cinema muito mais universal. A coprodução é positiva pela necessidade do confronto", completa Aïnouz. Com novos incentivos da Ancine, a "coprodução deve dobrar nos próximos anos", afirma Raccah. Nesse intercâmbio cultural e comercial, o cinema brasileiro é o maior beneficiado. Autor: Marco SanchezEdição: Rafael Plaisant
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