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Grécia procura alternativas a saída da zona do euro

18:38 | 22/06/2015
Moedas paralelas já existem por toda a União Monetária e fortalecem economias locais. Sua introdução em nível nacional seria problemática. Economistas especulam se não seria solução para Atenas, bancos centrais calam. No fim de junho, a Grécia terá que restituir um crédito bilionário ao Fundo Monetário Internacional (FMI), algo a que o país não está apto, em sua atual situação financeira. Ao mesmo tempo, os credores internacionais continuam retendo 7,2 bilhões de euros já concedidos, por estarem insatisfeitos com as reformas propostas por Atenas. Por isso, há bastante tempo se discute a introdução de uma moeda paralela, uma espécie de título de dívida pública do governo grego com que também se poderiam realizar outras transações. Para tal, a Grécia não precisaria abandonar a zona do euro e teria como pagar os salários do funcionalismo público. Já três anos atrás, a sugestão de Thomas Mayer na época economista chefe do Deutsche Bank e atualmente diretor-fundador do Instituto de Pesquisa Flossbach von Storch, em Colônia era que a nova moeda se chamasse "gueuro": euro grego. Também o economista e Prêmio Nobel grego Christopher Pissaridis considera a moeda paralela "uma solução de emergência", para o caso de o Estado não ter mais como pagar ordenados e aposentadorias. Bancos centrais se calam Por outro lado, tanto o Bank of Greece quanto o Banco Central Europeu (BCE) e o Deutsche Bundesbank negam que já se esteja trabalhando nessa alternativa. "Por favor, tenha compreensão para o fato de não podermos nos pronunciar sobre o cenário de uma moeda paralela", respondeu o Bundesbank à consulta da DW. Enquanto a resposta do Bank of Greece foi: "Não comentamos sobre especulações." A reserva dos bancos centrais é compreensível: para eles, o euro é o único meio de pagamento oficial, e a discussão sobre alternativas sempre implica também discutir o fim da União Monetária em sua presente forma. No entanto já existem, hoje, numerosas moedas paralelas, ainda que apenas de circulação local. Na Alemanha, a primeira delas foi o chiemgauer, adotado em 2003 como projeto de uma escola antroposófica. Questão de compromisso Em princípio, não é preciso muito para introduzir formas de dinheiro paralelas, afirma o advogado Frank Jansky, presidente da associação Regiogeld, que abarca diversas moedas regionais. "Precisa-se de um punhado de empresas dispostas a aceitar outros meios de pagamento além do euro, ou seja, o dinheiro regional emitido pela comunidade. E é preciso consumidores igualmente dispostos a utilizar esse dinheiro." A associação encarregada do chiemgauer dispõe atualmente de 6 mil membros, entre os quais, 600 firmas e 250 associações de interesse público da região do Lago Chiemsee, no sul da Alemanha. A moeda existe tanto em forma impressa como eletrônica, e pode ser comprada na proporção de um para um euro. Na reconversão do chiemgauer para euros, contudo, os afiliados pagam uma taxa de 5%. Outras formas de numerário regional nem mesmo podem ser trocadas por euros: seu valor consiste apenas no compromisso das empresas participantes de aceitá-las como meio de pagamento para bens e serviços. Especialmente forte é a tradição da moeda WIR, da Suíça, que já existe há 80 anos e é aceita por 45 mil médias e pequenas empresas. Fortalecimento de estruturas locais A finalidade principal de todas essas moedas é fortalecer a economia local, já que elas não têm valor fora de sua região. Um vídeo do site da associação Regiogeld, explica como o sistema funciona, tomando como exemplo um padeiro. Se o comerciante vende seus pães em euros, ele pode comprar farinha de trigo e outros ingredientes em toda a União Monetária Europeia. "No entanto, se no ato da compra um meio de pagamento regional muda de proprietário, o padeiro tem que repensar sua estrutura de fornecimento." Ele poderia procurar um moleiro da região que também aceite a moeda local, o qual também tentará adquirir seus produtos de fornecedores regionais. "Possivelmente ele passará a comprar os cereais de agricultores ou a energia de produtores da região, ou contratar os serviços de trabalhadores locais", explica o vídeo da Regiogeld. Como o valor agregado permanece na região, o dinheiro regional torna-se especialmente interessante para áreas de estrutura fraca, que sofrem com a supremacia da concorrência internacional. Uma moeda paralela assim também faria sentido para a Grécia, acredita o presidente da associação, Frank Jansky. "Não só para o país, mas também para outras regiões da Europa, por toda parte onde há distorções na economia real com a introdução do euro, já que nem todas as regiões têm a mesma força econômica." Democratização indesejada Geração de numerário por iniciativas cidadãs em vez de por bancos centrais, relações regionais em vez de globalização, renúncia a juros: "Pode-se dizer que o dinheiro regional também é um pouco de democratização do nosso sistema monetário", resume Jansky. Entretanto, até agora as diferentes moedas regionais possuem um peso econômico quase incomensurável em comparação com o euro. Tampouco é possível aplicá-las sem maiores dificuldades a todo um país, pois mesmo dentro da Grécia há regiões de poder econômico diverso. Além disso, a estratégia não resolveria os problemas de financiamento de Atenas. Se o governo grego realmente está procurando alternativas para pagar ordenados e aposentadorias em todo o país, então precisaria de uma moeda paralela nacional controlada por ele próprio. No entanto, para tal não poderia lançar mão das velhas cédulas e moedas de dracmas. "Quase todas foram eliminadas com a introdução do euro", informou o Bank of Greece à DW. Autor: Andreas Becker (av)
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