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Presidente derrubado do Mali anuncia que não está detido

16:20 | 28/03/2012

BAMACO, 28 Mar 2012 (AFP) - O presidente malinense, Amadou Toumani Touré, derrubado no dia 22 de março por um golpe de Estado, afirmou nesta quarta-feira à l'AFP que está atualmente em Bamaco e não é prisioneiro, enquanto um possível compromisso foi mencionado entre a África do Oeste e a junta sobre uma transição.

"Estou bem em Bamaco e, graças a Deus, eu e minha família estamos todos bem", afirmou durante uma breve conversa por telefone com um jornalista da AFP o chefe de Estado derrubado.

Perguntado sobre a sua localização atual, o presidente respondeu: "Faz diferença? O que é importante saber é que não sou prisioneiro".

"Evidentemente estou acompanhando o que está acontecendo. Eu desejo de todo coração que a paz e a democracia triunfem no Mali. Não tenho mais nada a dizer neste momento", acrescentou, em sua primeira declaração à imprensa depois de sua queda.

O destino incerto do presidente Touré levantou todos os tipos de especulações. Ninguém sabia sua localização exata, se era prisioneiro dos rebeldes ou se estava sob a proteção de soldados legalistas.

O chefe da junta militar, o capitão Amadou Sanogo, tinha assegurado que seu estado de saúde era bom e que estava em segurança, sem dar mais informações.

Milhares de pessoas marcharam nesta quarta para Bamaco em apoio à junta, que anunciou na terça-feira à noite a adoção de uma nova Constituição e prometeu que nenhum de seus membros participará das próximas eleições presidencial e legislativas, em uma data indeterminada.

O ministro das Relações Exteriores de Burkina Faso, Djibril Bassolé, mencionou à rádio RFI uma possibilidade de compromisso.

Os líderes da Comunidade Econômica dos Estados da África do Oeste (Cedeao), reunidos na terça-feira em uma cúpula em Abidjan, querem uma transição liderada por Dioncounda Traoré, presidente da Assembleia Nacional dissolvida pela junta, declarou.

Uma delegação de chefes de Estado africanos conduzida pelo presidente da Costa do Marfim e da Cedeao, Alassane Ouattara, deve chegar na quinta-feira a Bamaco para discutir com a junta militar o retorno, o mais breve possível, da ordem constitucional.

A fim de organizar o encontro, vários chefes de Estado-Maior dos países da Cedeao chegaram nesta quarta-feira à capital.

O Ministério francês das Relações Internacionais indicou nesta quarta que espera muito da missão regional: "Os países vizinhos do Mali são os que mais podem contribuir para a solução" da crise.

A cúpula de Abidjan, que a suspendeu o Mali da Cedeao, também autorizou o "aumento de sua força para lidar com qualquer eventualidade" e nomeou como mediador o presidente de Burkina Faso, Blaise Compaoré.

"Ato fundamental" Eleições presidencias estavam previstas para acontecer no dia 29 de abril, apesar da rebelião tuaregue ter retornado com força em meados de janeiro no norte do país.

O Comitê Nacional para a Recuperação da Democracia e do Restabelecimento do Estado (CNRDRE, junta militar) alegou ter tomado o poder para pôr fim à "incompetência" do regime na luta contra a rebelião e as atividades de grupos armados islâmicos no norte do país.

Na terça-feira à noite, a CNRDRE mostrou claramente que pretendia instalar o seu poder através da adoção de "um ato fundamental", uma Constituição com cerca de 70 artigos que entrarão em vigor durante a transição.

O preâmbulo estipula que o povo do Mali "afirma sua determinação em perpetuar um Estado de direito e da democracia pluralista, em que os direitos Humanos fundamentais são garantidos". Mas o texto estabelece a primazia dos militares.

O golpe militar foi condenado de forma unânime pela comunidade internacional.

Dentro do Mali, quase a totalidade da classe política opõe-se à junta, à exceção do único partido da oposição representado na Assembleia Nacional, Solidariedade Africana para a Democracia e Independência (Sadi).

O Sadi criou o Movimento Popular de 22 de março (M22), favorável aos amotinados, e está na origem das manifestações desta quarta-feira em Bamaco.
Quatro pessoas detidas pelo novo governo foram libertadas na terça-feira, o que diminui para 10 o número de pessoas presas, entre eles ex-ministros do regime ainda detidos pela junta no campo de Kati, perto de Bamaco, que serve como quartel general.

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