Apesar de grave, crise de Fukushima não acabou com a indústria nuclear
TÓQUIO, 7 Mar 2012 (AFP) - O acidente na usina japonesa de Fukushima, em março de 2011, fez a indústria nuclear mergulhar na pior crise desde a catástrofe de Chernobyl, há 25 anos, mas não conseguiu acabar com ela, avaliaram analistas.
Semanas depois de o mundo inteiro assistir às imagens do reator da usina Fukushima Daiichi liberando nuvens radioativas após a tsunami de 11 de março de 2011, a Agência Internacional de Energia (AIE) reduzia a metade suas previsões de crescimento da energia atômica no mundo.
"Foi exagerado", afirmou nesta quarta-feira Colette Lewiner, diretora de energia da consultora Capgemini.
"Efetivamente houve projetos anulados ou adiados, mas isto não marcou o fim do setor nuclear", afirmou.
Segundo a especialista, o caso Fukushima obrigou sobretudo os operadores e as autoridades a fazer inspeções mais profundas em suas instalações e - em certos países - reforçar as normas de segurança nas usinas existentes.
No entanto, a energia nuclear continua sendo considerada um recurso estratégico que satisfaz quase um sexto das necessidades de eletricidade do planeta e permite, sobretudo, combater as emissões de gases de efeito estufa.
França e Grã-Bretanha estão decididas a tomar a dianteira com a próxima geração de reatores.
Os Estados Unidos, país que concentra o maior número de reatores no mundo (104), autorizou a construção de novas etapas pela primeira vez desde o acidente de Three Mile Island em 1979, enquanto China e Índia preveem ainda iniciar obras para construir dezenas de reatores nos próximos anos.
Em 2011, sessenta países consultaram a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) com relação ao início de programas nucleares.
"Para este ano, esperamos que Vietnã, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Turquia e Belarus iniciem a construção de suas primeiras usinas nucleares", declarou Kwaku Aning, diretor adjunto da agência.
No Japão, o último dos 54 reatores do país deveria ser parado semanas depois do aniversário da catástrofe.
No entanto, a interrupção total só deverá ser temporária, levando em conta a necessidade de energia do país, avaliou Shinichiro Takiguchi, diretor do instituto de pesquisas do Japão.
"Fundamentalmente, em longo prazo, o contexto geral é de reduzir a proporção da energia nuclear", mas não suprimi-la, afirmou. "É mais razoável aumentar a utilização de outras fontes de energia e reduzir progressivamente a parte nuclear e, ao mesmo tempo, tomar medidas de segurança suplementares", emendou.
Na Itália, um referendo rejeitou o retorno da energia nuclear depois do acidente em Chernobyl, enquanto a Suíça aprovou planos que apontam para eliminar progressivamente suas cinco usinas até 2034.
A Alemanha tomou uma decisão mais drástica ao programar o fechamento definitivo de seus 17 reatores, oito imediatamente e nove até 2022.
John Ritch, diretor-geral da World Nuclear Association (WNA) em Londres, considerou que a indústria nuclear sairá fortalecida da crise de Fukushima, com destaque maior para a segurança.
Embora não vá desaparecer, a eletricidade de origem nuclear custará mais caro, devido às medidas de segurança sempre mais indispensável e custosas, inclusive os eventuais enormes gastos em caso de acidente.
Para os defensores do átomo, a energia nuclear continua sendo "competitiva", mas o gás, recurso abundante e barato, parece representar o futuro pós-Fukushima.