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O tabaco também é esculpido em Cuba

O artista cubano Janio Núñez é capaz de transformar personalidades em esculturas excepcionais feitas com folhas de tabaco

15:03 | 28/02/2012

Havana, 28 Fev 2012 (AFP) - Fidel Castro, Jack Nicholson, Winston Churchill, Groucho Marx, Arnold Schwarzenegger... todos passaram pelas mãos hábeis do cubano Janio Núñez que os transforma em esculturas excepcionais, confeccionadas exclusivamente com folhas de tabaco.

O artista usa as melhores folhas colhidas na região de Vuelta Abajo, no oeste de Cuba, com as quais se fabricam os mais famosos puros do mundo, entre eles o 'Cohíba' e o 'Romeo y Julieta', estrelas do Festival do Charuto, a grande festa do fumo azul, inaugurada nesta semana em Havana.

Ele se dedicou com afinco às esculturas em tamanho natural de Churchill, de pé com terno de gabardina e chapéu; de Nicholson, morrendo de rir numa enorme poltrona; do 'Exterminador' Schwarzenegger, vestido de 'ranger' atrás das grades.

Elas exigiram meses de trabalho a este quarentão, obcecado com o que pode fazer com o tabaco, um dom que quase se transformou em doença mental.

"Via meus amigos vestidos com as folhas de tabaco. Sonhava com isso. Tive até que consultar um médico, um psicólogo", contou Núñez à AFP. Ele trabalhava, antes, como "torcedor" (de puros) num grande hotel de Varadero, o principal balneário da ilha, a 150 km a leste de Havana.

"Então, uma noite, comecei a fazer figuras, objetos, tudo a partir do tabaco maciço. Minha primeira peça foi a cabeça de índio que decora os puros da marca Cohíba", criada a partir dos 'havanos' que fumava o líder cubano Fidel Castro, que deixou o hábito, em 1986, acrescentou.

Sua obstinação o levou a passar três semanas tentando se encontrar com o diretor da companhia Habanos S.A., que comercializa com exclusividade todas as marcas de puros cubanos, para apresentar a ele seu trabalho.

"Diga se vale a pena. Se achar que de nada vale, vou entender...", disse ao diretor, que havia finalmente aceitado recebê-lo, premiando sua constância, contou.

Bingo! O diretor acabou seduzido pelas peças e ordenou que fossem exibidas em 1998, na Feira Internacional de Havana, o maior evento comercial da ilha e, no ano seguinte, na primeira edição do Festival do Charuto.

A partir de então, Núñez deu rédeas soltas à sua criatividade, começando a trabalhar na coleção "Fumantes célebres", que também inclui Che Guevara, Charlie Chaplin, Luciano Pavarotti, Compay Segundo e famosos produtores, como o cubano Alejandro Robaina, falecido em 2010.

Como as obras de pequeno formato não bastavam a ele, em 2000 realizou a primeira de tamanho natural, a de Churchill, mostrando o ex-primeiro-ministro britânico fumando um puro. A escultura motivou, inclusive, uma visita à ilha da neta do líder britânico Celia Sandys. A peça pertence, hoje, a um colecionador italiano que vive na Venezuela.

No entanto, Nicholson e Schwarzenegger desapareceram. "Durante uma exposição na República Dominicana, tive que deixá-los para trás e nunca os pude recuperar", lamentou Núñez, acabrunhado com a perda dessas peças, estimadas cada uma em várias dezenas de milhares de dólares.

Depois, Núñez tornou-se pastor evangélico, deixando de fumar em 2006: "Queria ser famoso, mas quando a fama caiu sobre mim, não estava preparado", confessou o artista. Dois anos depois de vários cursos de teologia, a paixão pelo tabaco ressurgiu e ele se lançou à criação.

Estabelecido desde 2011 em um ateliê rural em Guanabo, perto do mar, a meia hora de Havana, retomou sua produção, alternando entre pequenas peças artesanais destinadas ao turismo e outras curiosas e mais ambiciosas, inspiradas por sua fé.

Seu principal projeto é, agora, um afresco a que chamou de "Fundamentos da humanidade". "Deus vai revelá-lo todo para mim", afirmou sorridente, acariciando suas folhas de tabaco.

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