Homem com deficiência visual relata dificuldades na solicitação do BPC

Após o desemprego, o cearense aguarda a aprovação do benefício, enquanto cuida da filha com necessidades especiais, de 23 anos

07:25 | Out. 22, 2025

Por: Penélope Menezes
Nedes Rodrigues, 44, destaca ainda dificuldades no acesso à informações (foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Em processo de solicitação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), Nedes Rodrigues, 44, afirmou ter enfrentado dificuldades na acessibilidade do sistema antes de alcançar a etapa de avaliação social pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em meados de julho deste ano.

Com deficiência visual e desempregado desde 2021, Rodrigues também é responsável pelos cuidados da filha com necessidades especiais, Livia, de 23 anos, que já possui o BPC. “Antes eu tentei ‘por minha conta’ e disseram que eu não conseguia, porque minha filha já recebia. Tentei em 2022, se não me engano: fui me informar e disseram isso pra mim, aí já me desestimulou”, disse.

Entre os desafios em relação ao BPC, destacou a biometria facial. "É uma das maiores dificuldades enfrentadas hoje pelas pessoas com deficiência visual. É difícil, inclusive, com auxílio de alguém que enxerga”, diz.

Nedes explica que contratou um advogado para ajudá-lo no processo, e duas solicitações foram realizadas, mas referentes a um auxílio-doença. Os pedidos foram negados por “provas inconsistentes”, e apenas na terceira solicitação o profissional teria iniciado o pedido ao benefício, após cerca de três anos. 

Ao O POVO, a advogada especializada em Direito Previdenciário, Victória Alencar, aponta que “é plenamente possível duas pessoas da mesma família receberem o benefício assistencial, desde que cada uma atenda aos requisitos”. Entre os pontos, considera-se deficiência que gere impedimento a longo prazo, de pelo menos dois anos, e baixa renda.

O indivíduo deve possuir renda equivalente a 1/4 do salário mínimo por pessoa, ou seja, R$379,50 para cada.

“Se uma pessoa do grupo familiar trabalha de carteira assinada, recebendo um salário mínimo (R$1.518), e moram apenas duas pessoas na casa, não é considerado baixa renda”, diz Alencar. “No entanto, se uma pessoa recebe BPC-Loas, que também é no valor de um salário mínimo, é como se essa renda não existisse para o cálculo”.

Após realizar a avaliação social, a perícia, prevista para novembro de 2025, é aguardada por Nedes Rodrigues.

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Deficiente visual comenta dificuldades no mercado de trabalho

O homem, que já atuou como massoterapeuta, também lamenta a "falta de inclusão" no mercado de trabalho e os obstáculos em retornar após problemas de saúde. Nedes indicou ainda que já atuou como radialista e telefonista.

“Nunca fiquei dependendo de ninguém. Eu sempre procurei fazer alguma coisa para me manter e queria algo que pudesse resgatar minha autoestima”, afirma. “O que eu mais queria hoje seria o emprego. O BPC vindo, é claro, seria muito bom, mas até lá ainda tem chão”.

Em nota, o INSS informou que o reconhecimento facial é uma das opções para realizar a Prova de Vida de beneficiários. Caso não possa ser utilizado, alguns bancos também oferecem a funcionalidade de biometria digital à distância (internet banking).

“A prova de vida pode ser feita, ainda, pela forma como era antes, apresentando documento oficial com foto na agência bancária onde recebe o benefício”, completa o informe.

Em relação ao BPC, o instituto ressalta que o requerimento é gratuito, com informações no site e nas demais redes oficiais do INSS, incluindo itens de acessibilidade para os internautas.