Estudantes cobram entrega de prédio em obras há 9 anos pelo Governo do Estado

Alunos estão tendo aulas em anexo com superlotação, falhas estruturais e presença de ratos; novo prédio deve ser entregue já no início deste segundo semestre letivo

16:29 | Ago. 07, 2025

Por: Kleber Carvalho
Alunos cobram entrega de escola no Jangurussu. Escola Estadual Almirante Tamandaré (foto: FÁBIO LIMA)

Estudantes da Escola Estadual de Ensino Médio (EEM) Almirante Tamandaré, bairro Jangurussu, em Fortaleza, se reuniram na manhã desta quinta-feira, 7, para cobrar a entrega do prédio principal da instituição, em obras há nove anos. A manifestação contou com apoio de alunos e professores da unidade de ensino, além de moradores da região.

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Toda essa história começa em 2016, quando o prédio principal da Almirante Tamandaré foi demolido para a construção de uma nova estrutura, nos padrões do Ministério da Educação (MEC). Devido a demolição, os professores e discentes da escola foram direcionados para um anexo vizinho, menor e que precisou passar por adaptações.

É exatamente este prédio que motiva a ânsia pela entrega da nova sede. Com salas em superlotação, faltas constantes de água e energia, e relatos até de ratos circulando no teto, o anexo é alvo de críticas pelos alunos, que veem melhores condições logo ao lado, mas ainda inutilizáveis.

“A nossa sala é tão pequena, e é tanta gente, 40 alunos, que a gente se senta em dupla. A gente não consegue fazer uma prova direito por causa disso. A gente precisa dela [nova sede], a gente passa por situações desumanas na escola. Era para a gente estudar integral e a gente não estuda, porque não tem espaço para todo mundo”, conta a discente Nayla de Sousa, 17, aluna do 3° ano da escola e presidente do Grêmio Estudantil, que também relata diversos problemas de infraestrutura.

“Na parte da tarde a gente não tem água nos banheiros. Os banheiros femininos até pouco tempo não tinham trincas, o banheiro masculino só tem um sanitário e esse sanitário não funciona. A gente só tem uma sala forrada. A gente não tem laboratório, a gente não tem auditório, a gente não tem aula de educação física porque não tem quadra…”, complementa.

Confira estrutura do anexo:

Segundo a estudante, a escola também tem enfrentado queda no número de alunos, devido às más condições do equipamento. A turma na qual ela iniciou o ensino médio possuía 45 alunos, caindo para pouco mais de 20 no segundo ano e em 2025, conta com 15 membros.

Elias Lino, professor da escola há 11 anos, o atraso na entrega do novo prédio e as falhas estruturais no anexo também geram prejuízos de aprendizado aos estudantes. De acordo com ele, algumas salas da escola são separadas apenas por tapumes ao invés de paredes, e acabam interferindo uma na aula da outra, devido ao barulho que facilmente passa pelas “barreiras”.

“Minha percepção é que isso impacta no desempenho acadêmico dos alunos. Desmotiva o aluno a vir à escola. Se puder usar uma metáfora, é como uma criança rica que compra um sorvete, toma na frente da criança pobre e diz ‘eu tenho mas não te dou’. Porque os alunos passam em frente a essa escola, que está completamente pronta, padrão MEC, olham isso e têm que ir para um anexo improvisado”, conclui.

O POVO esteve na Almirante Tamandaré nesta quinta e tentou entrar na escola para conversar com a direção e presenciar as situações relatadas por alunos. Entretanto, a equipe foi barrada logo na porta da unidade, sob alegações de que qualquer demanda deveria ser informada à Secretaria da Educação do Ceará (Seduc-Ce).

Obra deverá ser entregue já neste retorno às aulas, diz Seduc

Questionada sobre a entrega do novo prédio, a Seduc informou que a obra foi concluída no mês de junho e que aguarda alguns processos burocráticos para inaugurar o prédio. A previsão da pasta é de que isso ocorra já no início deste segundo semestre, porém, ainda sem data marcada.

Caso a nova previsão, apesar de impreciso, seja respeitada, a entrega ocorrerá pelo menos sete meses após o prazo mais recente dado pelo Governo do Estado, que era janeiro deste ano.

A estimativa foi anunciada após vistoria do governador Elmano de Freitas (PT), da secretária da educação Eliane Estrela e do superintendente de Obras Públicas, Valdeci Rebouças, em novembro de 2024.

Entre esses trâmites está a emissão do termo de entrega formal do prédio, que oficializa a conclusão da obra, por parte da Secretaria de Obras Públicas do Ceará (SOP-CE).

De acordo com a SOP-CE, os serviços complementares para a conclusão da construção da escola foram finalizados e o termo que oficializa a entrega do prédio da nova escola para a Seduc será emitido até esta sexta-feira, 8.

Confira imagens:

Além da emissão do termo, corre em paralelo um processo para a instalação do posto de segurança da escola. A medida é necessária para garantir a preservação da mobília do equipamento, que deve ser instalada assim que o posto estiver pronto.

Sobre os nove anos para a conclusão da obra, a Seduc afirmou que a obra “passou por sucessivas interrupções em sua construção ao longo dos últimos anos, em decorrência de descumprimentos contratuais por parte das empresas responsáveis”. O atual contrato, que conduziu as partes finais da obra, foi firmado em 2023.

“A Seduc reconhece a expectativa da comunidade escolar e reforça seu compromisso com a entrega da nova estrutura, que oferecerá melhores condições para o ensino e a aprendizagem dos estudantes da região. Enquanto isso, a Secretaria segue acompanhando a situação da unidade atual e, em diálogo com a gestão escolar, avalia medidas para mitigar os impactos até a efetiva inauguração do novo prédio”, disse a pasta, em nota.

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