Por que continua chovendo no Ceará mesmo após a quadra chuvosa?
Chuvas após estação chuvosa acontecem por causa de um fenômeno chamado de Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL); entenda
22:35 | Jul. 02, 2025
Mesmo após a quadra chuvosa, que compreende os meses de fevereiro a maio, o Ceará vem registrando chuvas intensas em diversos municípios, inclusive em Fortaleza.
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A situação é causada por um fenômeno chamado Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL).
O fenômeno causa uma onda atmosférica na região equatorial do Oceano Atlântico, oriunda do Leste, que diminui a pressão atmosférica em superfície e forma áreas de instabilidades, causando chuvas ao longo de sua trajetória.
Especialistas explicam que chuvas pós-estação são normais
O professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (DEHA), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleiton da Silva Silveira, explica que o fenômeno se forma no oceano na baixa atmosfera.
“Especialmente em regiões tropicais, havendo transporte de calor e umidade de oeste para leste no Atlântico, causando perturbações na atmosfera alterando vento e pressão atmosférica, provocando chuvas no leste do Nordeste”, detalha.
A atuação desse fenômeno gerou o alerta de chuvas intensas que foram observadas e sentidas pela população de Fortaleza.
Ele continua: “As Ondas de Leste ou Distúrbios Ondulatórios de Leste se formam tipicamente entre abril e outubro e são fenômenos meteorológicos frequentes na costa leste do Nordeste do Brasil, causando impactos principalmente na região que vai de Natal até Aracaju”.
Porém, a proximidade desse fenômeno com o território cearense pode causar zonas de instabilidade e provocar chuvas no Estado, principalmente no fim da quadra chuvosa e pós estação.
A meteorologista e gerente de meteorologia da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meiry Sakamoto, explica que, apesar do período de chuvas ter encerrado, ainda ocorrem precipitações entre os meses de junho e julho.
“Contudo, na pós-estação chuvosa, a normal climatológica é bem mais baixa. No Ceará, a média de junho é 37,2 mm; em julho é de 15,0 mm”.
A explicação para essas “chuvas fora de época”, que são consideradas normais, são as Ondas de Leste, um dos sete tipos de distúrbios ondulatórios.
“São ondas atmosféricas na região equatorial do Oceano Atlântico, oriundas de Leste, que diminui a pressão atmosférica em superfície e forma áreas de instabilidades”, explicou a meteorologista.
O acontecimento climático causa a formação de nuvens de chuva ao longo de sua trajetória.
Como exemplo, Meiry cita os alagamentos em Recife, capital do estado de Pernambuco.
Comparativo do mesmo período com anos anteriores
Meiry destaca que em 2024 a pós-estação chuvosa teve um volume acumulado de 52,0 mm, representando um desvio de -0,4% dentro da normal climatológica.
Já no ano de 2023, o volume acumulado foi de 37,1 mm, no mesmo período, com desvio de -29,0%.
A última pós-estação com grandes volumes pluviométricos foi no ano de 2022, quando o volume acumulado foi de 102,3 mm, ou seja, houve um desvio de 95,7% acima da normal climatológica do ano de 2024.
“Então talvez a sensação, na população, de que as chuvas destes dias estão fora de época, venha desse hiato. Já que nos últimos anos, as chuvas da pós-estação chuvosa no Ceará, ficaram ‘apenas’ dentro dos valores médios para o período”, concluiu a meteorologista.
Postos com maiores índices pluviométricos; 16 açudes estão sangrando após chuvas
A Defesa Civil (DC) do Estado enviou ao O POVO um balanço com o registro de índice pluviométrico nas últimas 24 horas. Confira abaixo:
- Guaraciaba do Norte - Guaraciaba do Norte: 80.0 mm
- Pedra Branca - Açude Trapi: 72.0 mm
- Morada Nova - Açude Cipoada: 60.0 mm
- São Gonçalo do Amarante - Siupe: 58.4 mm
- Piquet Carneiro - Ibicua: 55.0 mm
- Acopiara - Acopiara: 51.0 mm
- Mombaça - Boa Vista: 46.0 mm
- Tauá - Vera Cruz: 44.6 mm
- Fortaleza: 40.8 mm
- São Gonçalo do Amarante - Sede: 36.6 mm
A pasta ainda informou que ocorreram chuvas moderadas em diversos municípios, mas sem relatos de inundações ou outro impacto negativo decorrente das ocasiões.
O Portal Hidrológico da Funceme apontou que cerca de 16 açudes estão sangrando no Estado, devido às intensas chuvas das últimas 24 horas. Confira abaixo:
- Itaúna (Granja), bacia hidrográfica de Coreaú
- Tucunduba (Senador Sá), bacia hidrográfica de Coreaú
- Jenipapo (Meruoca), bacia hidrográfica de Acaraú
- Acaraú Mirim (Massapê), bacia hidrográfica de Acaraú
- Sobral (Sobral), bacia hidrográfica de Acaraú
- Quandú (Itapipoca), bacia hidrográfica do Litoral
- Mundaú (Uruburetama), bacia hidrográfica do Litoral
- Itapajé (Itapajé), bacia hidrográfica do Curu
- Sítios Novos (Caucaia), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Itapebussu (Maranguape), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Germinal (Pacoti), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Acarape do Meio (Redenção), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Tijuquinha (Baturité), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Pesqueiro (Capistrano), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Aracoiaba (Aracoiaba), bacia hidrográfica da Região Metropolitana
- Orós (Orós), bacia hidrográfica do Alto Jaguaribe