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Frei Tito de Alencar: 70 anos

"No pouco tempo em que viveu, ele teve este sonho de igualdade social", diz irmã, Nildes Alencar

06:00 | 14/09/2015
O POVO entrevistou Nildes Alencar, 81, irmã de frei Tito. O cearense símbolo da resistência à ditadura militar no Brasil, faria 70 anos nesta segunda-feira, 14.

O POVO - O que veio primeiro em Tito: a inclinação ao cristianismo ou às ideias marxistas?

[SAIBAMAIS1]Nildes Alencar
- As duas vieram cedo pelo ambiente familiar. O sentido do Evangelho para ele era uma questão humanitária, da distribuição, do mesmo amor para todos. Foi o que marcou Tito, uma educação muito forte da minha mãe, dos jesuítas (entrou em contato pela Congregação Mariana) e na Juventude Estudantil Católica (JEC), ala da Ação Católica. No pouco tempo em que viveu, ele teve este sonho de igualdade social. Quando passou a estudar mais profundamente a questão econômica, sociológica e política, tornou-se profundo adepto das ideias socialistas. E toda a militância da Ação Católica tinha esse compromisso social.

OP - Dos dez irmãos de frei Tito, você era a mais próxima. Como tinha notícias dele no período em que esteve preso?

Nildes
- Sou 12 anos mais velha que ele, fiquei muito ligada a ele desde pequena. Tínhamos esse compromisso de cuidar dos irmãos menores, então fui desde a babá até aquela que levava para a Igreja, conversava com ele. E fui vendo ele crescer muito entusiasmado por tudo, engraçado na adolescência, colocava apelido em todos. Quando os frades dominicanos começaram a ser presos e perseguidos em São Paulo, não tínhamos muita notícia. As cartas eram fiscalizadas. Só sabíamos das torturas muito depois. Eram tempos de angústia muito grande para nós, os dominicanos precisavam vir até aqui dar notícias quando algo acontecia.

OP - Por que é importante lembrar da história de frei Tito no contexto político atual, com manifestações a favor de uma intervenção militar?

Nildes
- Estamos vivendo momentos difíceis, duvidosos, angustiantes, precipitados. É preciso abrir a boca, somos testemunhas vivas do que aconteceu e do que não pode se repetir no Brasil. A luta que era de Tito, por uma distribuição honesta das riquezas, não pode acabar. As chances para o povo não podem acabar. O golpe de 1964 não foi apenas militar, teve apoio de diversos setores da sociedade com uma campanha anti-comunista e levando muitas pessoas despreparadas a este coro. O passado deveria nos trazer amadurecimento e mais lucidez sobre os acontecimentos atuais. A vida de Tito, que descansa bem aqui no cemitério, deve servir de alerta.
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