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Equipe do O POVO entra em centro educacional após rebelião; veja galeria de fotos

Funcionários de uma obra que ocorria na muralha foram feitos reféns, houve luta corporal e um dos internos teve traumatismo craniano

22:43 | 04/09/2015
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A equipe de reportagem do O POVO entrou no Centro Educacional Patativa do Assaré (Cepa), horas após a rebelião causada pelos internos na tarde desta sexta-feira, 4, e presenciou a cena de destruição deixada pelos adolescentes em conflito com a lei dentro da unidade.

Sujeira, pedras e pedaços de vidro tomavam de conta do corredor. Bolachas de maisena de alguém que foi pego de surpresa no momento da rebelião estavam espalhadas próximo a administração, também em uma espécie de área de convivência dos adolescentes. Para entrar na segunda parte dos blocos foi necessário abrir as celas principais que,  no lugar de cadeados, possuía parafusos. Uma demora de pelo menos 10 minutos,  cada um, para serem retirados com uma ferramenta especial. 

 

Nos dormitórios o odor de fezes e urina tomava de conta daquele espaço tão pequeno, não se conseguia passar para o banheiro sem esbarrar as canelas nas duas camas de cimento. O banheiro era um cubículo com um buraco para deixar os detritos, do outro lado um cano, onde passa a água para o banho.

 Buracos nas paredes das celas, além de grades serradas,também eram facilmente percebidos. As paredes riscadas das celas possuíam nomes de internos e alguns desenhos feitos com folhas de árvores.

 

 

 Veja galeria de fotos

 

 

 A escuridão causada por uma pane elétrica ajudava a criar um clima assombroso para aquele lugar. As vozes ouvidas de longe pediam por comida e água, outras vezes ensaiavam ameaças. Quem entrasse naquelas celas sentiria o clima pesado que se instalava no espaço.

 

O sentimento de medo ali é uma rotina de sobrevivência tanto para quem está sob o cumprimento de uma medida socioeducativa, como pra quem é funcionário. Trabalhando no centro socioeducacional há seis meses o educador (nome preservado) explica que as ações são planejadas e que não dá tempo de fugir. "Quando começa a gente vai lá para fora. A conversa deles (adolescentes) é que se ver a gente (educadores) aqui eles furam ou colocam dentro dos colchões e tocam fogo", relata. 

 

 O caso

 Na tarde desta sexta-feira, 4, pelo menos três funcionários de uma obra realizada na muralha do Cepa foram surpreendidos por adolescentes que roubaram o material de trabalho (martelos e marretas), fizeram os trabalhadores de reféns e promoveram um verdadeiro quebra-quebra na unidade.

Segundo o titular da 5ª Vara da Infância e Juventude, Manuel Clistenes Façanha e Gonçalves, os jovens serraram as celas e aproveitaram a entrada dos agentes socioeducativos para ficarem soltos na unidade e começarem a rebelião. Ainda conforme o magistrado, no momento em que fizeram os trabalhadores da obra de reféns, orientadores que estavam estagiando há uma semana no local entraram em luta corporal com os infratores para que liberassem as vítimas.
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Os três adolescentes saíram feridos, sendo um deles com traumatismo craniano. Pelo menos três pessoas, incluindo educadores e operários também apresentavam lesões nos braços.

 Segundo a coordenadora da Proteção Especial Social, Mariana Abreu, existe um empenho para que os internos sejam transferidos para outras unidades do judiciário.

"Nosso objetivo é transferir eles para outras unidades para esvaziar essa, que está fragilizada. Colocaram fogo em colchões, quebraram paredes, não há como mantê-los", relata.

Inquérito deve apurar se houve facilitação por meio de funcionários

 Segundo o juiz Manuel Clistenes, a Polícia e as pessoas que trabalham no centro acreditam que pelo menos duas pessoas, facilitaram a entrada de objetos, que seriam cossocos, armas artesanais e as serras.

 "A Polícia Militar entrou essa semana e fez quatro ou cinco vistorias minuciosas, a última foi ontem a tarde. Tiraram serras e aparelhos celulares, fizeram uma limpeza. Causa estranheza que logo após a PM sair, durante a noite, por volta de 1h da madrugada, houve novamente a rebelião com serras e cossocos. Alguém passou para esses adolescentes", explica.

O juiz acredita que a conivência veio por parte algum educador, mas que somente aberta a sindicância poderá identificar.

"Deve ter havido a conivência de alguém. Se os adolescentes ficaram lá e os dormitórios foram vistoriados, como apareceram novamente com as serras. Mas, agora, quem são as pessoas que entregaram a gente não sabe", comenta.

 

 

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