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Ecocirco inaugura espetáculo adaptado do CEU

Respeitável público, o maior espetáculo da Terra já começou. Debaixo das lonas, todo mundo passa a ser igual. O primeiro circo adaptado do Ceará iniciou o funcionamento ontem, no Condomínio Espiritual Uirapuru. O Ecocirco %u2013 Reestruturar para preservar é o primeiro picadeiro adaptado para pessoas com dificuldade de mobilidade, cadeirantes e surdos

16:24 | 27/08/2015
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Com afinco, o malabarista joga claves o alto, sobre um monociclo e não deixa cair uma só peça. Em seguida, em cima de um elástico amarrado em mastros a dois metros do chão, ele caminha de uma ponta a outra, sem pestanejar. Do público, cerca de 200 pessoas, ouve-se poucos gritos ou batidas dos membros: a saudação da maioria vinha do sacolejar das mãos – uma forma de aplauso para os surdos. A estreia do Ecocirco – Reestruturar para preservar levou ao Condomínio Espiritual Uirapuru, no Castelão, a inclusão para o público - com e sem deficiência. O espetáculo adaptado deve ser reapresentado em breve, por agendamento, mas ainda sem uma data determinada.
 
Na trilha sonora inicial, a música tema do Beto Carrero fez as vezes de abertura. Malabaristas, trapezistas, dançarinas, brincadeiras e, claro, o palhaço deixava claro que teria espetáculo, sim senhor. A ONG Instituto Intervalo, responsável pelo circo, foi vencedora do IX Edital de Incentivo às Artes, da Secretaria da Cultural do Estado (Secult) no ano passado e fez ontem sua primeira apresentação. Foram R$ 32,5 mil investidos na adaptação para pessoas com dificuldades de mobilidade, cadeirantes e surdos. “Queremos que todas as pessoas, com ou sem deficiência, tenha a mesma emoção ao ver o circo”, instiga o diretor da ONG, Alencar Lage.

O público do circo não tem que passar por degraus: o piso antiderrapante foi fixado sobre rampas de acessibilidade. “Foi a primeira vez que eu assistir a um espetáculo feito pra minha situação”, comenta o mecânico Alan Kardec Jácome, 47, desde os dois anos cadeirante em decorrência de uma paralisia infantil. Ela mora na comunidade de Santo Amaro, no bairro Bom Jardim (Regional 5) e diz que ficou muito impressionado com o trapezista. “Eu jurava que ia cair”, diz, referindo-se às claves. “Se todo mundo cumprisse o que determina a lei e fizesse as adaptações necessárias para um cadeirante, eu poderia me sentir bem mais a vontade, como hoje”, conta ele, que anda de moto e bicicleta adaptadas.

Mas a grande atração ainda estava para chegar. O Kiko Brasil, personagem do ator Bruno Braga, intérprete do personagem Quico, do programa Chaves, do SBT, fez apresentação no circo e não cobrou cachê. “É um projeto muito bonito esse. É emocionante se apresentar para um público tão bonito”, afirma.

Um intérprete da Linguagem Brasileira de Sinais ajudava na compreensão. A estudante Karliane da Silva, 12, surda, disse que pela primeira vez entendia o que falava o palhaço. “É muito engraçado”, resumiu, com a ajuda da intérprete Luana Rodrigues. Para a estudante Joana Melo, 14, o circo foi o primeiro grande passo. “Muita coisa ainda precisa ser feita. Mas colocar surdos e aqueles que ouvem, quem anda de cadeira de rodas e nas próprias pernas é muito bom”.

Saiba mais!
>> O Projeto EcoCirco – Reestruturar para Preservar adquiriu dois banheiros químicos convencionais e um para cadeirantes, 400 cadeiras com o selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), 70 catracas de circo com cinta e um praticável (estrutura) com 20 cadeiras, além de construir rampas de acesso.
>> A ONG Instituto Intervalo existe desde 1999.
>> Além da adaptação, a arquitetura também levou em conta o paisagismo e colocou 50 mudas de plantas do Ceará em volta do circo.
>> O EcoCirco distribuiu pipoca para o público durante a apresentação.

Serviço
EcoCirco – Reestruturar para Preservar – Condomínio Espiritual Uirapuru, na avenida Alberto Craveiro, 2222 – Passaré. Para agendar visitação com escolas ou outros grupos: 9 8612 3451 (Karine).
 
Cidadã
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Desde que ficou cadeirante em decorrência de um acidente de carro, há cinco anos, Elainy não sabia o que significava voltar a ser criança. “Foi a primeira vez que eu fui a um circo e é bom demais poder ir a um espaço que é todo preocupado com o nosso acesso”, conta. Ela diz que adorou o malabarista e a apresentação do cover do Quico. “Me sinto uma criança de novo”. 
 


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