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Colóquio sobre "brincadeiras" perigosas destaca a prevenção no País

A psicóloga Fabiana Vasconcelos, do Instituto DimiCuida, explica que evento é uma oportunidade de dar visibilidade ao tema

08:45 | 26/08/2015
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Interromper, propositalmente, o fluxo de oxigênio ao cérebro com o intuito de obter prazer, cumprir desafios ou martirizar alguém. A prática, conhecida como “brincadeira do desmaio”, mata – principalmente - adolescentes, em todo o mundo. Embora não haja estatísticas no Brasil sobre as vítimas do jogo de asfixia, o problema existe e sequela anualmente inúmeras famílias.

[SAIBAMAIS2]O I Colóquio Internacional sobre Brincadeiras Perigosas coloca o assunto em debate em Fortaleza. O evento, organizado pelo Instituto DimiCuida, reúne, desde esta terça-feira, no Seara Praia Hotel, psicólogos, médicos e profissionais da segurança, brasileiros e estrangeiros. A programação é gratuita, mediante inscrição via e-mail.

A psicóloga Fabiana Vasconcelos, do Instituto DimiCuida, explica que evento é uma oportunidade de dar visibilidade ao tema. Ela ministrará a palestra “Prevenção no Brasil: o que foi feito até agora”, ao lado do médico sanitarista Almir Santana, que virá de Sergipe.

A psicóloga diz não haver a devida divulgação de informações sobre os jogos — as poucas existentes são, justamente, aquelas que incitam às práticas. No Youtube, ela exemplifica, o DimiCuida contabilizou quatro mil vídeos fazendo referências, diretas ou indiretas, aos jogos de asfixias. “É feito uma propaganda, como se fosse brincadeira e, na verdade, é uma prática de altíssimo risco”, afirma Fabiana.

Também presente no time de palestrantes do colóquio, o psicólogo Inácio Diógenes abordará, exatamente, a influência da internet no comportamento das crianças e adolescentes. Afinal, somados a dificuldades familiares ou ao uso de drogas, por exemplo, tais informações obtidas na internet podem ser “explosivas”, constata o psicólogo. O suposto prazer obtido nas asfixias poderia funcionar como uma válvula de escape da realidade.

“Adolescentes, cada vez mais, estão mais preocupados em gozar, em prazer”, ele diz, ressaltando que os jovens dessa idade não têm uma "subjetividade fortalecida", ficando vulneráveis a investidas de más companhias.

Para conter tal ânsia, os especialistas recomendam o diálogo entre familiares e crianças e adolescentes. “É preciso ampliar muito mais esse relacionamento”, afirma Inácio Diógenes. Os parentes devem participar mais abertamente da vida de crianças e adolescentes, indo de encontro à tumultuada vida moderna, que, com contratempos como o trabalho, impede o relacionamento mais íntimo, diz o psicólogo. “Pais e mães precisam estar sabendo o que se passa no fenômeno adolescência, para que lado ela vai”, ele diz. Saber músicas e filmes da moda ou o que é procurado na internet pelos adolescentes é importante, Inácio Diógenes conclui.

O diálogo, porém, precisa ir além do âmbito familiar. As autoridades públicas não estão preparadas para lidar com as “brincadeiras” perigosas, acredita Fabiana Vasconcelos. “Como não é discutido, não há profissionais que estejam em alerta sobre os sinais da prática”, ela afirma. Não há, por exemplo, preparos suficientes aos peritos para a diferenciação entre tentativas de suicídio e os sufocamentos.

Outra prova dessa negligência é a inexistência de estudos a respeito das brincadeiras perigosas, “o que leva a sociedade a não ter noção do problema”, considera Fabiana. Segundo ela, o primeiro estudo no País sobre os jogos de desmaio ainda irá ser publicado. A pesquisadora Juliana Guilheri ouviu cerca de 1.500 crianças e adolescentes da Região Sudeste e identificou ser a curiosidade a principal motivação para fazer as asfixias. O trabalho aponta ainda que a prática é mais comum entre meninos e meninas em torno dos 12 anos a idade. O estudo é importante, mas ainda é pouco, defende Fabiana Vasconcelos.

O resultado da falta de informação sobre os tais jogos é a negligência, por parte de responsáveis, dos sinais físicos e emocionais das práticas em crianças ou adolescentes. “Quando os pais percebem vermelhidão nos olhos, por exemplo, imagina-se qualquer outra coisa menos uma ‘brincadeira’ perigosa”, diz a psicóloga. Um desconhecimento que pode não prevenir uma morte.

Fabiana ainda elenca alguns sintomas que, associados, podem traçar o quadro de um praticante de sufocamentos. Manchas vermelhas nas pálpebras, marcas arroxeadas pelo corpo — sobretudo, pelo pescoço — irritação, falta de concentração são alguns desses indícios. Tais marcas, porém, são, somente, efeitos secundários dos sufocamentos. A prática, ao impedir a chegada de oxigênio ao cérebro, provoca anoxias que podem causar hemorragias, paradas cardíacas, coma ou, até mesmo, a morte.

Por isso colóquio se propõe o objetivo de “definir uma agenda permanente de trabalhos de prevenção e conscientização para pais, jovens e educadores no Brasil”, dentro do objetivo do DimiCuida de “preservar a vida de jovens desenvolvendo pesquisas e estudos sobre os chamados jogos do desmaio” e de funcionar como um sistema de sigiloso apoio, proteção e respeito à dor de familiares de atingidos pelos jogos perigosos.

Saiba mais
Se faltam estatísticas no País, na França e nos Estados Unidos organizações já colheram alguns dados da prática.

A francesa Apeas — cuja fundadora, Françoise Cochet, estará no colóquio — levantou que, a cada anos, dez pessoas morrem na França em virtude dos jogos de asfixia.

Conforme o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), 82 crianças e adolescentes, entre 9 e 16 anos, morreram nos Estados Unidos em decorrência dos jogos, entre 1995 e 2007. Ainda assim, o CDC estima ser maior o número de vítimas, já que muitas das mortes são identificadas como suicídio pela perícia.

O levantamento do CDC ainda indica que a maioria das vítimas é do sexo masculino (86,6%). Em 95,7% dos casos, os praticantes estavam sozinhos no momento da morte, sendo que em 92,9% os pais desconheciam os jogos.

Programação desta quarta-feira, 26 de agosto
8h30 – “Prevenção no Brasil: o que foi feito até agora” com a psicóloga do Instituto DimiCuida, Fabiana Vasconcelos, e o médico sanitarista de Sergipe, Dr. Almir Santana
9h30 – “Mesa-redonda – Políticas públicas: o que fazer?”
10h30 – Intervalo
10h40 – “Sistema de informação e segurança em redes” com o especialista em Segurança da Informação e Crimes Digitais, Leopoldo de Sousa
11h30 – “Educação de valores nas escolas” com o mestre em Ciências da Educação e Valores Humanos, Carlos Adriani
12h – Intervalo para almoço
14h – Grupos de discussão estruturados
16h – Intervalo
16h10 – Encerramento

Serviço —
1º Colóquio Internacional de Brincadeiras Perigosas:
Local: Seara Praia Hotel (Avenida Beira Mar, 3080, Fortaleza)
Mais informações: (85) 3255-8864 ou inscricoes@guest.org.br

 

 

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