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Tradicional Bar do Chaguinha fecha as portas neste sábado

De acordo com Vanda Duarte, filha do proprietário do bar, a decisão se deve à avançada idade dos pais, responsáveis até hoje por atender os clientes

17:24 | 25/07/2015
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Em meio a muito samba e calor, o tradicional bar do Chaguinha, com 59 anos de história, recebeu pela última vez seus clientes, neste sábado, 25.

De acordo com Vanda Duarte, uma das três filhas de Chaguinha, de 85 anos, e de dona Aradenes, de 83, a decisão de fechar as portas do estabelecimento se deve à avançada idade dos pais, responsáveis até hoje por atender os clientes.

Aradenes ou dona Ará, como é chamada carinhosamente pelos fieis frequentadores, inclusive, é quem ainda prepara todos os tira gostos servidos no local. Os pratos, em geral, são elogiados por todos, mas o destaque vai para o carneiro assado e cozido, além da carne de sol com macaxeira.
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"Papai e mamãe estão cansados pelo 'peso' da idade. Sei que isto aqui é a essência para ele estar vivo, é um lugar onde ele conversa com os amigos, mas pesa pra ele. Isso aqui pra gente não é um bar, é nossa segunda casa", explica Vanda, que sempre ajudou os pais a 'tocar' o estabelecimento, desde quando o mesmo funcionava do outro lado da rua Francisco Pinto.

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Um bar familiar

Fundado há 59 anos no bairro Benfica, o bar onde ninguém entra sem camisa e onde brigas são proibidas é considerado pelos frequentadores como o mais antigo de Fortaleza. O que o diferencia dos demais, conforme os clientes, é o 'clima' familiar.

E é disso que o senhor Chaguinha imagina que mais vai sentir saudades. "Já dei o que tinha de dar. Mas olha que comemoração bonita. Não é todo mundo que consegue isso no fim de um bar. Vou sentir mais falta é dessa clientela. Vou sentir muito", desabafa. Em clima de despedida, mas sem se deixar abalar, ele segue seu trabalho.

"O Chaguinha é a extensão da minha família. Passava aqui todos os dias de ônibus e estranhava o bar estar sempre movimentado. Um dia fui convidado e não parei mais. Vou sentir falta de tudo", lamenta Mauro Filho, técnico em telecomunicações que frequenta o local há mais de 20 anos.

A camaradagem e o apreço ao dono do bar também se refletem na música. Todas as sextas e sábados, grupos formados por amigos de Chaguinha se reuniam para tocar sambas tradicionais - de Clara Nunes, João Nogueira, Noel Rosa, dentre outros - sem cobrar nada.

"Seu Lunga do Benfica"

Lotado, como de praxe, o prédio amarelo de esquina não comportou todo o público presente para celebrar a despedida. Um grupo de pessoas se amontoava do outro lado da rua com copos de cerveja na mão e seguindo com o corpo o ritmo da música.    

"Isso é uma coisa diferente. Tô morrendo de tristeza", diz outra cliente de seu Chaguinha, também conhecido como "Seu Lunga do Benfica". Os frequentadores dizem que o apelido não se deve a mau humor, mas porque o dono do bar fala sempre o que quer, independente do que seja.        

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"Quando ele cisma de não vender algo pra alguém, ele simplesmente diz que não vai vender e pronto. Quando alguém chega com um dinheiro e ele não tem troco, ele diz apenas que não tem troco e acabou. Ele fala o que pensa. Mas se alguém perguntar se a cerveja está quente, ele responde: 'Se fosse pra vender cerveja quente, isso aqui estaria fechado", relembra a cliente, levando o grupo a gargalhar.

As portas verdes e as trancas do bar, fundado em 2 de fevereiro de 1956, fecharão neste sábado, mas Vanda antecipa que há possibilidade de uma reabertura pontual para comemoração de 60 anos do tradicional e saudoso reduto do samba.

Lígia Costa, especial para O POVO
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