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Atores nus fazem performance contra opressão no Centro de Humanidades da UFC

Com o tema "Carandiru para quem", a intervenção urbana marcou o encerramento de uma disciplina do Curso de Teatro da UFC. Nas redes sociais, nudez foi criticada

10:51 | 24/06/2015
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Atualizada às 14h40min

Uma performance de teatro, que contou com alunos nus e manifesto contra a opressão, foi realizada na noite dessa terça-feira, 23, dentro do Centro de Humanidades I da Universidade Federal do Ceará (UFC), no bairro Benfica. O ato dividiu opiniões e gerou polêmica entre os estudantes que passavam pelo local.

Com o tema "Carandiru para quem", a intervenção urbana marcou o encerramento da disciplina optativa ''Seminário em Artes Cênicas'', ministrada pelo professor Abimaelson Santos, do Curso de Teatro da UFC. O trabalho, que incluiu quatro encenações em espaços públicos e instituicionais, discute o sistema penitenciário brasileiro, colocando em xeque a discussão da maioridade penal.

"Antes dos atos, a turma discutiu bastante as pedagogias do teatro e o corpo como intervenção urbana. Fizemos um intercâmbio em São Paulo com coletivos de teatro, mapeamos espaços e desenvolvemos o tema escolhido em sala", contou o professor. Para ele, o objetivo era questionar que tipo de corpo habita os presídios do País e para quem e para quê servem as cadeias.

[SAIBAMAIS 3] "O mote do ato foram as imagens do Carandiru mostrando os presos nus em um pátio da unidade. É, de modo geral, uma reflexão sobre os processos da opressão da vida cotidian pós-moderna, como essas opressões são subjetivizadas", afirmou Abimaelson.

Nas redes sociais, internautas discutiram o assunto e publicaram as fotos dos atores, que durante a encenação gritavam palavras de ordem contra a homofobia e a opressão. "É um crime imenso. Se você quer fazer uma coisa artística, bote roupas de cor da pele, mostrar isso dentro da universidade é inadmissível", criticou Radson Deyves Coelho, aluno de Ciências Contábeis da UFC que passava pelo local. "Tomam a vaga de quem realmente quer estudar pra ficar avacalhando no campi", escreveu Camila Sdw, na página UFC de Direita.

"Eu não entendo de arte, mas achei bacana. Teve alguns atos falhos, mas acho que deveriam existir mais intervenções como essa", escreveu Carlos Veras, em uma postagem no grupo "Fórum do Campus do Pici". Outra internauta, identificada como Daniele Barreto, lembrou que a maioria dos artistas já foram julgados. "Vale rever um pouco os conceitos antes de apontar e dizer que não presta”, escreveu.

Radson informou que irá solicitar respostas da reitoria da universidade, pois espera que os artistas sejam responsabilizados. "Eu, como estudante, estou envergonhado. É um lugar público, que passam crianças e idosos, gente de todas as idades", completou.

O ator e jornalista Ari Areia, que protagonizou um beijo gay no horário eleitoral, acredita que a academia não pode ser um espaço de adestramento de ideias. “Eu vejo artistas que se propuseram a intervir no espaço público para comunicar, incomodar, desafiar olhares ou simplesmente propor a leitura de um texto (ou não) num contexto diferente. Nesse sentido as pessoas precisam aprender a ler”, disse.

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Intervenção
A primeira intervenção "Carandiru para quem" foi realizada no dia 12 de maio, no pátio do Instituto de Cultura e Arte (ICA) da UFC. Outras duas, em que os alunos não ficaram nus, foram feitas em frente ao shopping Benfica e na Praça dos Estressados (Beira Mar), nos dias 2 e 9 de junho, respectivamente.

De acordo com Abimaelson, as críticas geradas pela nudez são ''preocupantes e pobres'', pois refletem  preconceitos agressivos. "Eles começam vestidos de terno e gravata, a nudez integra um fluxo e representa uma situação, é um grande quadro humano. O corpo nu demonstra que aquelas pessoas estão desprovidas de qualquer arma", frisou. 

Para o professor, a maioria das pessoas que comentaram nas imagens não assistiu toda a intervenção e utilizou as redes sociais para expor opiniões sem qualquer análise. "Perguntaram se a gente tinha autorização, mas aquele espaço é nosso também. Foi uma aula a céu aberto, não somos um corpo estranho da UFC", finalizou.

Na performance, os alunos se despem e ficam embaixo de um balão de gás hélio, que representa uma algema, flutuando e levando os corpos para outro estado, ainda conforme o professor. Os alunos se revezaram durante as apresentações, com cerca de 12 a 18 pessoas atuando e o restante participando do apoio da intervenção. 

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