Jovens agricultores semeiam o futuro do Ceará por meio das cooperativas

O 1° Encontro Juventude e Cooperativismo da Agricultura Familiar reuniu mais de 200 jovens e foi realizado entre os dias 19 e 21 de novembro

00:00 | Nov. 22, 2025

Por: O Povo
O 1° Encontro Juventude e Cooperativismo da Agricultura Familiar reuniu mais de 200 (foto: Anderson Santiago)

Desde incentivo à participação feminina até cultivo de produtos orgânicos, jovens do estado inteiro utilizam das cooperativas para fornecer segurança financeira para familiares e alimento de qualidade para a população de todo o Ceará.

Estas práticas no campo foram apresentadas por 200 deles, vindos de 23 municípios diferentes e integrantes de 26 cooperativas durante o 1º Encontro Juventude e Cooperativismo da Agricultura Familiar, realizado pelo sistema Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio Ceará), entre os dias 19 e 21 de novembro. O evento ocorreu no Hotel Ecológico Sesc Iparana, em Caucaia.

Durante os três dias, eles participaram de oficinas e palestras de capacitação, mas no encerramento, em 21 de novembro, os agricultores trocaram de lugar com os palestrantes. Além das experiências trocadas, escreveram uma carta sobre o futuro das cooperativas na agricultura familiar e expressaram suas vontades em uma pesquisa.

Na abertura do dia, o superintendente do Serviço Social do Comércio (Sesc), Henrique Javi, se disse orgulhoso do projeto. Ele exaltou a possibilidade de construir uma consistência do projeto a longo prazo para os jovens e de promover desenvolvimento econômico direto para o Ceará através da agricultura, assim como desenvolvimento social.

Logo em seguida, representantes de três cooperativas falaram, em uma roda de conversa. Foram elas: Coopersul, do Crato, Fape, de Itatira, e Coopsb, de São Bento.

Dentre as iniciativas de fomento citadas, estavam: produção sem o uso de agrotóxicos, orientação aos agricultores sobre os ciclos da natureza, respeitando o solo, e incentivo a feiras livres nas pequenas cidades.

Leia mais: Segundo dia do evento

Entre os participantes, estava Elias Alves, Cooperamuns, de Tamboril. Ele considerou que, no encontro, adquiriu “conhecimento para permanecer produzindo e vivendo no campo”. “Mas não somente produzindo, como a gente pode também levar daqui desse encontro o conhecimento de avançar economicamente. A gente buscou nas falas dos palestrantes essa questão da comercialização, que se faz importante com as cooperativas para fortalecer a produção do povo”, afirmou.

Para o coordenador de Desenvolvimento Comunitário do Sistema Fecomércio, Eudes Xavier, o evento ganhou novas perspectivas devido à postura crítica e participativa dos jovens, com viés acadêmico e político.

“Por isso, também entramos na pauta tecnológica e cultural. Foi uma integração da juventude agrícola com o sistema Fecomércio. Um desenvolvimento econômico, além da sucessão rural. A juventude quer espaço”, disse.


Pesquisa de ação: a vontade dos jovens de permanecer no campo

O evento contou ainda com a divulgação da pesquisa realizada com os jovens, durante os três dias, a ser divulgada pelo Fecomércio. O estudo revelou dados de divisão de gênero e idade dos representantes das cooperativas, além das perspectivas deles de futuro no campo.

Segundo os números:

  • 57% dos respondentes foram mulheres,
  • 79% acredita que a realidade no campo é mais promissora do que na época dos pais e
  • 65% voltaria para o campo após ter saído, caso houvesse oportunidades

Apresentada por Henrique Gomes, analista corporativo do Sesc Ceará, a pesquisa ainda aponta os desafios da permanência no campo, citando, por exemplo, uma visão de que para se ter um futuro digno é necessário ir para a cidade.

“Na minha opinião o jovem na casa dos pais é apenas aquele que ajuda, a força, o trabalho e o esforço. Não participam da tomada de decisões, nem desempenham papéis fundamentais. Os maiores preconceitos partem das pessoas que moram juntos no campo, todos dizem que aquele que não vai para a faculdade na Capital, que não tem um trabalho bom na cidade, não vai ter futuro”, destacou um dos respondentes.

Essa visão é compartilhada quando se observa as formas de ensino, que, muitas vezes, conforme mostrado no levantamento, não valorizam ou capacitam os jovens com habilidades ligadas às demandas reais e práticas da vida no campo.

“Muitas escolas tratam a agricultura apenas como um conteúdo complementar ou técnico, sem explorar sua dimensão empresarial, ambiental e social. Isso limita a capacidade dos jovens de atuarem como protagonistas no desenvolvimento rural contemporâneo”, comentou outro jovem na pesquisa.

Agricultores escrevem carta da juventude

Por fim, foi apresentada uma carta escrita pelos próprios jovens na qual eles reconhecem “a importância de todos que se dedicam à vida produtiva, especialmente na agricultura familiar, base de sistemas alimentares responsáveis e de uma sociedade mais justa".

“Temos a convicção de que nosso compromisso transforma vidas. Sentimos gratidão por sermos finalmente enxergados e termos nossa produção valorizada e dignificada”, diz um trecho da carta, lida pela jovem Manuela, líder da Sociedade dos Agricultores do Meio Ambiente.

Pontos defendidos pelos jovens

  • A força do coletivo e o modelo da compra garantida
  • Juventude, tecnologia e consciência no campo
  • O chamado para a ação e o compromisso com o futuro

Imersão trouxe oficinas, palestras e convidados especiais

Durante os três dias, foram realizadas sete oficinas temáticas, nas quais foram ensinadas desde a operação de drones, até a prática de fazer bolo com casca de melão, para que os jovens aprendessem, por exemplo, sobre o reaproveitamento integral de alimentos.

Confira abaixo as oficinas que foram realizadas no segundo dia de programação do 1° Encontro Juventude e Cooperativismo da Agricultura Familiar:

Operação de Drones — Peter Emmanoel e Mateus Nascimento
Marketing Digital e Estratégias de Mercado — Benoni Roriz
Curso de Graduação Tecnológica em Gestão de Cooperativas — Álvaro Pereira e Danilo Ramalho
Fanzine — Levi Porto
Reaproveitamento integral de alimentos (bolo com casca de melão) — Vládia Freitas
Esporte e Lazer — Sérgio Alves e Clodoaldo
Editais de projetos culturais — Marceline Passos

O Encontro contou ainda com a participação do presidente da Fecomércio, Luiz Gastão, que palestrou sobre a importância de renda perene e sustentabilidade no campo. “São fundamentais, não só para eles como campo, mas para nós que estamos aqui na cidade, porque sem eles nós não temos alimento”, afirmou, no segundo dia de evento.

Também palestraram, o vice-presidente da Fecomércio Ceará, Luiz Fernando Bittencourt; a chefe de gabinete e diretora Institucional da Fecomércio Ceará, Cláudia Brilhante; o superintendente do Sistema Fecomércio e diretor regional do Sesc, Henrique Javi; a diretora regional do Senac, Débora Sombra; a diretora de Programação Social do Sesc, Sabrina Veras; e representantes do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero, Idade e Família (NEGIF) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES) de Alagoas.

O evento também conta com o apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A iniciativa surgiu a partir do projeto de Aquisição de Gêneros Através do Credenciamento de Cooperativas da Agricultura Familiar, cujo investimento na compra de produtos cresceu de R$6 milhões para R$41 milhões, com uma alta de mais de 583%.