Quixadá nas telas: cinema nos monólitos

Com locações únicas e histórias incríveis, Quixadá vem há décadas se consolidando como um set a céu aberto com sua filmografia que vai de clássicos nacionais a séries contemporâneas

16:48 | Set. 27, 2025

Por: Estudio O POVO
Quixadá foi cenário de gravação de diversos filmes ao longo dos anos. Na foto, Gravações do longa A Lenda do Gato Preto (foto: Divulgação)

Quando dizemos que Quixadá possui paisagens cinematográficas, não é exagero ou figura de linguagem. Desde a década de 1960, cineastas recorrem às locações da “Terra dos Monólitos” para rodar produções de diversos gêneros.

A produtora quixadaense Edna Letícia Uchôa atua há mais de 20 anos em projetos audiovisuais, tanto no município quanto em outras localidades, e trabalhou na produção de filmes e séries de repercussão, como “O Quinze”, “Área Q”, “Cine Holliúdy”, “Shaolin do Sertão”, entre tantos outros.

Para ela, “o cinema é uma coisa mágica, pois quando você vê na tela aquele projeto pronto, se deslumbra percebendo que cada coisinha ali passou pela sua mão pra fazer aquilo tudo acontecer”.

Edna destaca que, além da arte e da mágica, o cinema também movimenta a economia local e deixa lembranças marcantes para quem participa. “Cada produção que chega aqui gera renda no município e mexe com todo mundo: assistentes, fornecedores, restaurantes, postos de combustível, hotéis, locações. As pessoas que a gente coloca como figurantes saem todas comentando: ‘Eu trabalhei naquele filme, eu participei e ainda fui pago para isso’”.

Estar no pólo de produções audiovisuais que é Quixadá foi determinante para o início da carreira de Edna, quando uma entrevista na rádio em que trabalhava como locutora a levou a colaborar no filme O Quinze (2004, 1h40min. Direção: Jurandir de Oliveira).

“O Márcio Rodart, que era o diretor de arte, foi dar uma entrevista na rádio e solicitou à população que quem tivesse algum objeto que fosse da época de 1915, ou bastante antigo, entrasse em contato, pois eles estavam buscando objetos para compor o cenário do filme. No dia seguinte, eu liguei para ele e falei: ‘Olha, Márcio, eu consegui arranjar aqui algumas coisas para você. Aí, ele disse assim: ‘Quer trabalhar comigo? Ser minha assistente?’”

A partir daí, vieram convites, novas produções e a construção de uma carreira marcada pelo aprendizado na prática. “Com o passar do tempo, várias outras produções foram vindo para Quixadá e começaram as indicações. Um diretor dizia para o outro: ‘Vai filmar em Quixadá? Procura a Edna, que é uma produtora muito boa de lá’”, recorda.

As histórias são muitas. Ainda nas gravações de O Quinze, Edna foi encarregada de conseguir uma carcaça real de boi para uma cena. Ela conseguiu, mas ela conta que a carcaça tinha um cheiro horrível. Então, também foi preciso conseguir muitos galões de formol para amenizar o odor e possibilitar a gravação.

Já em A Lenda do Gato Preto, havia três gatos envolvidos no filme. Em algum momento, já durante as filmagens, todos eles fugiram e foi necessário encontrar um gato substituto para dar continuidade às cenas. Mas, para Edna, no cinema não existe nada impossível. “O máximo que existe é uma coisa difícil, e mesmo assim a gente consegue resolver”.

Hoje, além de seguir atuando em produções locais e nacionais, Edna também realiza seus próprios projetos, como o documentário Amorixás: Umbanda, Caridade, Resistência e Respeito (2024, 27min. Direção: Edna Letícia Uchôa), em que conversa com umbandistas de Quixadá sobre o preconceito, os desafios e a resistência que enfrentam para seguir a religião.

Filmes

Foi o longa A Morte Comanda o Cangaço (1960, 1h40min. Direção: Carlos Coimbra e Walter Guimares Motta) que deu início à extensa filmografia produzida na cidade. Sucesso de público e de crítica, sua trama acontece no final da década de 20 e acompanha o camponês Raimundo Vieira, que tem sua fazenda incendiada e sua mãe assassinada pelo bando do cangaceiro Silvério, a mando do poderoso Coronel Nesinho. Em busca de vingança, Raimundo reúne alguns homens de confiança e sai à caça do bando e do coronel.

O Cangaceiro Trapalhão (1983, 1h30min. Direção: Daniel Filho) é uma comédia inspirada na história de Lampião. Tem como roteiristas Chico Anysio e Renato Aragão, que também atua no filme junto com “Os Trapalhões”.

Além do grupo de comediantes, o elenco conta ainda com nomes como Regina Duarte, Bruna Lombardi e Tânia Alves. Em 2024, foi lançado o documentário 40 Anos do Cangaceiro Trapalhão, com direção de Eduardo Ivo Júnior e coprodução de Edna Letícia Uchôa, que traz as memórias daqueles que estiveram direta ou indiretamente envolvidos nas filmagens.

O Quinze (2004, 1h40min. Direção: Jurandir de Oliveira) é baseado no livro homônimo da escritora cearense Rachel de Queiroz e retrata o sofrimento nordestino na grande seca que atingiu o Sertão Central do Ceará em 1915.

A história de O Auto da Camisinha (2009, 45min. Direção: Clebio Viriato) se passa em Juatama, distrito de Quixadá que recebe a visita de Quarto Besouro, folclorista que dará o veredito quanto a se a comunidade receberá ou não o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.

Enquanto aprecia uma peça de teatro, Quarto Besouro conhece a diretora e atriz Lionor, o que desencadeia uma grande paixão. De forma bem humorada e utilizando linguagem popular e elementos do cordel, este média metragem aborda a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Primeira coprodução entre EUA e Brasil no Ceará, o suspense de ficção científica Área Q (2011, 1h54min. Direção: Gerson Sanginitto) tem roteiro e produção assinados pelo cineasta cearense Halder Gomes, além de Murilo Rosa, Tania Khalill, Isaiah Washington e Steve Filice no elenco.

O filme conta a história de um jornalista que, após um ano sem respostas sobre o misterioso desaparecimento de seu filho, aceita investigar casos de avistamentos de OVNIs no interior do Ceará. Relutante em deixar Los Angeles, ele parte para o Brasil e se surpreende com histórias sobre alienígenas e abduções que o levam a pistas inesperadas.

A Lenda do Gato Preto (2015, 1h58min. Direção: Clebio Viriato) conta a história do amor impossível do trapezista Simão e Mariana e o resgate kármico de Angelina, que ao atropelar o gato preto de uma cigana, atrai para si e sua filha uma maldição que muda seus destinos. Passado e presente vêm à tona em meio a preconceitos, misticismo e busca pela felicidade. No elenco, estão nomes como Elke Maravilha, Emiliano Queiroz, Aurora Duarte, Eduardo Dascar e Rodger Rogério.

E as produções não param. Quixadá também é onde se passa O Shaolin do Sertão 2, que tem previsão de estreia para o final deste ano. Com direção de Halder Gomes, a comédia dá sequência à trama que acompanha o protagonista Aluízio Lee, interpretado por Edmilson Filho. Endividado e com sua academia confiscada, Aluízio sonha em encontrar seu pai na China, mas não tem recursos nem para uma viagem curta. Tudo muda quando um empresário de lutas propõe uma série de combates itinerantes.

Documentários

Labirinto (2001, 19min. Direção: Margarita Hernández e Tibico Brasil) realizado a partir de depoimentos de testemunhas de aparições nos céus do sertão. Os relatos vão de visões de discos voadores a aparições de Nossa Senhora no sertão do Ceará.

Guara - Operário Da Arte (2024, 27min. Direção: Idson Ricart e Tirolês) reúne histórias e depoimentos sobre o cantor, compositor, historiador e profissional das telecomunicações Guaracy Freitas. Um dos responsáveis por impulsionar o rock e a música original de Quixadá no início dos anos 2000, seu legado influenciou as gerações seguintes.

Livro

No livro Cinema de pedra: histórias sobre filmes gravados em Quixadá, Clebio Viriato, cineasta que dirigiu “O Auto da Camisinha” e “A Lenda do Gato Preto” e atual Secretário de Cultura do município, cita diversas produções situadas de 1960 a 2015.

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