Preocupações com expansão da JBS chegam ao senado australiano
A JBS cresceu mais de trinta vezes entre 2006 e 2014, com múltiplas aquisições. As receitas subiram de cerca de R$ 4 bilhões para R$ 120,5 bilhões ao ano. Os ganhos vieram de bovinos, principal mercado, e também de apostas em aves e suínos e em produtos de maior valor agregado. Nos últimos anos, o frigorífico também expandiu operações na América Latina, Estados Unidos e Oceania. Este ano, com a compra da Moy Park (ex-subsidiária da Marfrig), a JBS ampliou operações na Europa.
A história da JBS na Austrália começou em 2007, com a aquisição da Swift. De lá para cá, a empresa comprou grandes processadores, como o grupo Tasman (2009) e o Rockdale (2010). Em novembro de 2011, a PWC estimava que a JBS detinha 25% da produção nacional de carne vermelha daquele país. A consolidação por lá já incomodava produtores e o Senado australiano decidiu por uma apuração sobre o tema este ano, após a compra do grupo Primo Smallgoods pela JBS. Finalizada em março, a operação movimentou US$ 1,25 bilhão.
A audiência com a JBS e outros frigoríficos ocorreu no fim de agosto. Na sessão, o presidente da JBS Australia, Brent Eastwood, revelou que a companhia não tem interesse em comprar mais unidades de bovinos no país e argumentou que a consolidação da indústria não resultou em poder de mercado. "Nenhum frigorífico tem a capacidade de derrubar preços em benefício próprio", garantiu.
Em fevereiro, a JBS e oito dos maiores frigoríficos do país não compareceram a uma feira de gado e causaram a queda nos preços do boi, suscitando em produtores suspeitas de boicote. O diretor da JBS Australia, John Berry, disse ao Senado que a companhia não foi ao evento devido a problemas em suas fábricas. "Assim que ouvimos as alegações que estavam sendo feitas, organizamos uma investigação interna e imediatamente contatamos a ACCC (órgão regulador) para dar a nossa versão", afirmou. Questionado por senadores se existiria um boicote, Eastwood respondeu: "não de nossa parte".
Frustrado com a resposta, o senador Barry O'Sullivan, que tem base eleitoral no campo, disse esperar que todas as empresas ofereçam explicações evasivas sobre o incidente. O'Sullivan já havia criticado a JBS após a compra da Primo Smallgoods. "Acho confuso que a ACCC não se oponha à aquisição, mas se diga atenta ao potencial impacto da consolidação frigorífica. Se isso é verdade, por que não agiu neste caso?", questionou na ocasião. A apuração prossegue na Austrália e pode resultar em mudança nos critérios utilizados pela ACCC para aprovar aquisições.
Ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, a JBS disse, em nota, que sua relação com os pecuaristas da Austrália "está, como sempre foi, normal e salutar". A companhia também informa que alterações no sistema de negociação de gado no país, discutidas no Parlamento, não se referem apenas à empresa, mas ao mercado como um todo. "A companhia sempre se colocou à disposição do setor produtivo para debater as condições mercadológicas e estabelecer uma relação saudável, sempre buscando o consenso entre as partes", diz a empresa na nota.
Nos Estados Unidos, o ritmo de expansão da JBS também já chamou a atenção. A companhia foi impedida de comprar o National Beef Packing em 2008, por motivos concorrenciais. Em julho deste ano, o presidente da JBS, Wesley Batista, chegou a afirmar em teleconferência que não vê espaço para novas compras naquele país. "Não temos a oportunidade de crescimento inorgânico devido ao nosso tamanho", disse.
Brasil
No País, produtores há anos se queixam da concentração de frigoríficos nas mãos de JBS, Marfrig e Minerva. Hoje, a JBS é líder em abates. A companhia abateu 27% dos bois acompanhados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) no primeiro trimestre do ano, seguida por Marfrig (7%) e Minerva (6%). Em Mato Grosso do Sul, o porcentual é maior. Segundo a Famasul, em maio de 2015 a empresa respondeu por metade dos abates no Estado. A entidade também revela que 61% da capacidade instalada, em operação ou não, pertencem à JBS. A companhia ressalta que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já analisou a questão e concluiu que não há concentração no Brasil.
Dados do balanço do segundo trimestre deste ano mostram que 0,1% do endividamento da empresa está nas mãos do BNDES. A JBS encerrou junho com uma dívida líquida de R$ 34,8 bilhões, avanço de 4,8% em relação a março, e de 40,8% na comparação com junho de 2014. De 2006 a 2009, o banco de fomento investiu R$ 8,1 bilhões na companhia, entre ações e debêntures.
Citada na CPI do BNDES, que apura supostas irregularidades em investimentos do banco, a JBS não deve prestar esclarecimentos à comissão. O requerimento para convocação do presidente da companhia, Wesley Batista, e do presidente do Conselho de Administração da empresa, Joesley Batista, foi rejeitado. Já a rival Marfrig terá de se explicar aos parlamentares.