Fazer 'arroz com feijão' é difícil porque falta liderança, diz ex-diretor do BC
Questionado sobre o impacto do rebaixamento, Schwartsman afirma que a maior parte dos efeitos tinha se "materializado". "Na prática, isso significa que o Brasil já tinha perdido o grau de investimento meses atrás. Esse processo de piora da avaliação de risco está expresso no CDS de 5 anos e se reflete na moeda. Mas o anúncio trouxe algum elemento de surpresa, pelo fato de ter sido antecipado e pela manutenção da perspectiva negativa. A decisão tem efeitos, sim. O aumento dos spreads soberanos, por exemplo, significa uma elevação do custo de endividamento das empresas", diz.
Para o economista a travessia da economia será difÃcil. "Há menos incentivos para investimento. Mas (essa piora) não foi de ontem para hoje. Ela ocorreu nesses últimos seis, oito, nove meses", afirma.
Sobre o quê pode ter motivado a decisão da S&P, ele acredita que o Orçamento foi a "gota dÂ?água". "A S&P e as demais agências deram um certo benefÃcio da dúvida para o Joaquim Levy."
Futuro
"Ã? o óbvio para a cabeça de um economista: cortar gastos, aumentar imposto, enfim... Não é um problema econômico intransponÃvel do ponto de vista teórico", diz o ex-diretor do BC sobre as posturas que o governo deve tomara partir de agora. "O problema é que o óbvio, fazer o arroz com feijão, está difÃcil porque não tem liderança polÃtica. A presidente tinha um rumo equivocado, e ofereceram outro rumo, mas ela não consegue levar adiante porque não está convicta. E como a gente sabe que a presidente não está convicta? Pela resistência que ela tem em dizer que estava errada antes."
Sobre uma volta do grau de investimento, Schwartsman acredita que, "se fizer o arroz com feijão, o PaÃs retoma". "O problema é fazer o arroz com feijão. Ã? difÃcil porque temos, em tese, três anos desse governo. Ã? um governo que não acredita nisso, não consegue dialogar com a sociedade e com o Congresso e está perdido. Se tiver um governo desses, e pedir para fazer arroz com feijão, ele vai queimar o feijão e empapar o arroz", avalia.
O economista avalia que somente em 2017 a economia pode voltar a melhorar um pouco. "No ano que vem, já começa ter um juro mais baixo e as exportações reagem em alguma medida. O PaÃs não vai ficar com o PIB caindo para sempre. Não tem motivo para acreditar nisso. Tem uma válvula de escape cambial que funciona melhor aqui do que, por exemplo, na Grécia. Então, quem faz comparação com a Grécia é de uma burrice extraordinária. Tem alguma luzinha no fim do túnel, mas é fraca e está longe".